Denúncia do MPRJ ainda mostrou que Dinho Resenha e Michel Maia, também preso nesta sexta, discutiam possíveis punições com espancamento para quem não cumprisse promessa de votar após pagamento de propina em 2020. Esquema seria repetido esse ano, diz documento. Sérgio Acciolly dos Santos, o Dinho Resenha
Reprodução/TV Globo
Áudios obtidos durante a investigação que terminou com a prisão de um vereador de Belford Roxo por compra de votos revelam a brutalidade e os detalhes do esquema de Sérgio Acciolly dos Santos, o Dinho Resenha (Republicanos), em mensagens com comparsas.
Segundo a denúncia do Ministério Público, ele e Michel Maia Rodrigues já tinham realizado o esquema em 2020 e repetiriam os crimes neste ano.
Nos áudios, ambos falam de pagamentos em dinheiro vivo para apoiadores, a expectativa pelas quantias que viriam após a eleição e ameaças de violência caso a promessa de apoio não fosse cumprida.
Dinho Resenha: “E talvez a gente esteja dentro. Ganhar a eleição pra “tá” dentro.”
Michel: “Vai ser todo mundo roubando, mano. Vai ser uma loucura. Que aí vai voltar a ser dividido o bolo. “
Dinho Resenha: “O negócio é a gente ter a nossa parte do bolo, irmão. Entendeu? O negócio é a gente ter a nossa parte do bolo”
Áudios em celular apreendido
Michel Maia foi preso em uma operação de maio deste ano contra policiais militares acusados de organização criminosa, corrupção e peculato.
Segundo o MP, os agentes cobravam propina de comerciantes em troca de segurança e vendiam drogas e armas apreendidas de traficantes em Belford Roxo.
De acordo com a denúncia, o PM era um dos responsáveis por recrutar eleitores com a promessa de R$ 50 por voto e por arregimentar cabos eleitorais para a boca de urna.
Quando o celular dele foi apreendido, os investigadores descobriram os laços dele com Dinho Resenha, assim como as mensagens que indicavam boca de urna e compra de votos em 2020.
Em um dos áudios, Dinho fala dos valores da propina e pede uma lista das pessoas que se comprometeram a ajudar a campanha:
“Se for só pra votar eu vou dar R$ 60. Se for pra trabalhar, sabendo que pode influenciar mais de duas, três pessoas, mais de… eu vou pagar R$ 120. Tá entendendo? É isso. Aí eu preciso desses nomes. Das pessoas que vão só pra votar e das pessoas que vão pra trabalhar, entendeu?” E aí você me fala. Me diz ai quando eu posso te encontrar pra te dar a planilha que a gente tem pra você preencher e me passar isso”, afirma Dinho Resenha em um áudio para uma mulher não identificada.
Promessa de violência
Em áudios entre Michel e Dinho, os dois prometem usar de truculência e violência contra eleitores que não cumpriam o combinado: votar em Dinho nas eleições de 2020 após receber o pagamento pelo voto.
Michel Maia: “Medo de que? Bom, na verdade tem que ter medo mesmo. Se eu pagar, tem que ter medo. Se não fizer o combinado, aí sim é pra ter medo.
Dinho Resenha: “Escovada, mano. Vou dar só uma escovadinha de leve. Não vou matar não. Vou dar só uma escovada, uns tapas na cara pra aprender”
Em uma troca de mensagens, Dinho Resenha afirma que a boca de urna está “amarradinha” e mostra otimismo: “Vamos ganhar”.
Esquema fracassado
MPRJ faz uma operação para prender candidato a vereador de Belford Roxo e policial
Sérgio Acciolly dos Santos, o Dinho Resenha (Republicanos), foi preso em casa, no bairro Santa Amélia, e estava dormindo quando os agentes chegaram. Ele vai responder por corrupção e associação criminosa.
Segundo a Promotoria Eleitoral, Dinho participou do esquema de compra de votos nas eleições de 2020, quando também tentou — e não conseguiu — uma vaga na Câmara de Belford Roxo. Na ocasião, ele disputou pelo hoje extinto Democratas e obteve 1.412 votos, ficando apenas na 2ª suplência. O MPRJ afirma que Dinho voltou a praticar esse crime.
Parceria com o tráfico
O MPRJ ainda afirma que Dinho Resenha tem ligações com Geonário Fernandes Pereira Moreno, um dos chefes do tráfico de drogas em Belford Roxo.
Mensagens recuperadas pelos investigadores indicam que o político buscou alianças com os criminosos para fazer campanha em regiões controladas pelo tráfico.
Resposta dos citados
A equipe do candidato Dinho Resenha postou em uma rede social que o mandado de prisão se refere a uma investigação que nada tem a ver com a atual campanha eleitoral, e que ele confia na justiça.
O partido Republicanos foi procurado, mas não respondeu até a publicação desta reportagem. O RJ2 não conseguiu falar com a defesa do PM Michel Maia.