Vítima morreu após ser espancada por policiais em abordagem no trânsito, em janeiro de 2023. Audiência foi realizada na sexta-feira (23), nos EUA; outros três se declararam inocentes. Da esquerda para a direita: Demetrius Haley, Desmond Mills, Jr, Emmitt Martin III, Justin Smith e Tadarrius Bean
Memphis Police
Um segundo ex-policial de Memphis, nos Estados Unidos, declarou-se culpado na sexta-feira (23) das acusações federais pela morte do motorista negro Tyre Nichols, que aconteceu em janeiro de 2023. O caso gerou repercussão internacional e reacendeu um debate nos EUA sobre racismo e brutalidade policial.
Vídeos gravados pelas câmeras dos uniformes dos policiais e por uma câmera na rua mostraram os policiais chutando e espancando Nichols com um bastão, espirrando spray de pimenta nele e disparando um revólver contra ele depois de pará-lo no trânsito. O motorista morreu três dias após as agressões.
Emmitt Martin III, era um dos cinco policiais que foram demitidos e enfrentam acusações criminais. Na sexta, ele se declarou culpado de duas das quatro acusações federais contra ele: por privar os direitos civis de Nichols e por manipulação de testemunhas, informou a agência Reuters.
Ele também concordou em cooperar com a investigação, conforme o acordo de confissão registrado no Tribunal Distrital dos EUA. Segundo a agência, isso aumenta a possibilidade de que o ex-policial possa testemunhar contra outros ex-colegas.
“Movido pela raiva, Emmitt Martin usou força excessiva contra Tyre Nichols em 7 de janeiro de 2023. Movido pelo medo, ele tentou encobrir isso. Hoje, em tribunal aberto, ele aceitou a responsabilidade pelo que fez,” disse o advogado de defesa Stephen Ross Johnson em um e-mail à Reuters. Johnson se recusou a dizer se Martin testemunhará contra outros ex-policiais.
Tyre Nichols morreu num hospital três dias após ser espacado por policiais
Facebook/Deandre Nichols via Reuters
Em novembro do ano passado, outro policial demitido de Memphis, Desmond Mills, também se declarou culpado de acusações federais e concordou em se declarar culpado de acusações estaduais relacionadas, como parte de um acordo..
Os cinco ex-policiais de Memphis, em fevereiro do ano passado, haviam declarado inocência durante uma audiência do caso. À época, todos foram soltos sob fiança. Eles também foram formalmente acusados de homicídio, agressão, sequestro, má conduta policial e abuso de autoridade.
Em troca das confissões, os dois ex-policiais tentam uma sentença máxima entre 15 e 40 anos de prisão, de acordo com a Reuters. O julgamento federal está agendado para começar em 9 de setembro. O julgamento estadual está suspenso enquanto o caso federal se desenrola.
Martin fez sua mudança de confissão perante o juiz federal Mark Norris, em Memphis, conforme a agência Associated Press (AP). A sentença está marcada para 5 de dezembro.
Manifestantes em Nova York participam do segundo dia de protestos pela morte de Tyre Nichols, em 28 de janeiro de 2023
REUTERS/David Dee Delgado
PASSO A PASSO: Veja linha do tempo do caso Tyre Nichols
Vídeos mostram policiais dos EUA chutando e agredindo o motorista negro Tyre Nichols, que não reage
‘Nunca terei meu filho de volta’
A mãe de Nichols, RowVaughn Wells, estava na sala do tribunal. Ela acenou com a cabeça e sorriu quando o juiz aceitou a confissão de Martin.
Em uma coletiva de imprensa, Wells afirmou que a confissão mais recente é um passo na direção certa, mas que não ficará satisfeita até que todos os policiais sejam levados à justiça, informou a AP. “Tyre estava apenas voltando para casa. Ele estava apenas cuidando de seus próprios assuntos,” disse.
Um relatório de autópsia mostrou que Nichols morreu devido a golpes na cabeça, e que a causa da morte foi homicídio. O relatório descreveu lesões cerebrais, cortes e contusões na cabeça e em outras partes do corpo.
“Eu nunca terei meu filho de volta. Eu nunca mais ouvirei sua voz,” disse Wells aos repórteres na sexta-feira. “Eles mataram meu filho por nada. E até que tenhamos justiça para todos eles, eu não ficarei satisfeita.”
A mãe de Nichols também processou a cidade e seu chefe de polícia em uma ação de US$ 550 milhões.
“Estou esperando que depois de hoje, os outros três oficiais se olhem no espelho, e se olhem e digam que são culpados, porque eles sabem que são,” disse ela.
Outros envolvidos
Um sexto policial, que é branco, também foi demitido no ano pssado, assim como três bombeiros de Memphis, integrantes do serviço de emergência, que chegaram no local após Nichols ser espancado.
Dois xerifes substitutos do condado de Shelby que atenderam a ocorrência foram suspensos por cinco dias sem pagamento.
Como o crime aconteceu
Nichols, que tinha 29 anos, era pai, gostava de andar de skate e estudava fotografia, tentou conversar com os policiais enquanto eles davam ordens aos gritos e o ameaçavam com violência.
“Vocês estão realmente se excedendo agora. Estou apenas tentando ir para casa”, disse Nichols em certo momento quando estava sentado na rua enquanto os policiais tentavam subjugá-lo.
“Parem. Eu não estou fazendo nada”, afirmou antes de conseguir sair correndo.
Quando os policiais o pegaram, foi espancado, apanhou com um bastão e levou chutes quando já estava no chão. A menos de cem metros de casa, ele tentou chamar a sua mãe várias vezes.
No vídeo, os policiais disseram que Nichols tinha passado no sinal vermelho de forma perigosa e outro afirmou que o homem tentou pegar a sua arma.
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