16 de novembro de 2024

Mesmo 35 anos após morte de Leminski, família continua recebendo materiais inéditos: ‘É como se ele estivesse conversando com a gente de novo’

Poeta curitibano completaria 80 anos neste sábado (24). Entre novidades estão poemas, rascunhos e lista de músicas vetadas pela ditadura militar, tudo doado por pesquisadores, escritores, amigos e outras pessoas que cruzaram o caminho do poeta. O impacto da produção de Leminski segue perceptível na cena literária brasileira contemporânea
Dico Kremer
Ao longo de 44 anos Paulo Leminski foi escritor, músico, crítico literário, jornalista, publicitário, tradutor e professor. A família já catalogou mais de 30 mil documentos escritos por ele, que, se estivesse vivo, completaria 80 anos neste sábado (24).
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Porém, mesmo após 35 anos da morte do poeta, os familiares continuam recebendo materiais inéditos, em uma produção artística que parece não ter fim.
“Do jeito que ele escrevia era o jeito que ele falava, né? Isso, para a gente, é como se ele estivesse aí conversando com a gente de novo”, conta Áurea Leminski, produtora cultural e filha do poeta.
“Às vezes eu fico procurando coisas e eu falo: ‘Meu Deus, por onde eu começo?’. Aí eu abro uma pasta cheia de papéis e simplesmente o primeiro papel que eu encontro é justamente o que eu precisava que ele me dissesse! É mágico isso”, completa.
Mesmo após 35 anos da morte de Leminski, filhas continuam recebendo materiais inéditos e os reúnem em um caixa
RPC
Entre as novidades, estão poemas, rascunhos, manuscritos, recortes de jornais e lista de músicas vetadas pela ditadura militar, por exemplo. Alguns dos “novos versos” estão datilografados, outros escritos a mão.
Há também um dicionário da Língua Portuguesa escrito do próprio punho do artista, que criou um idioma novo, adaptado às necessidades de um poeta.
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Afeto através das palavras
Curitibano Paulo Leminski (1944-1989) é considerado um poeta pop
DICO KREMER
O material foi doado às filhas por pesquisadores, escritores, amigos e outras pessoas que cruzaram o caminho do poeta e, como presente, receberam algumas rimas.
Estrela Leminski, escritora e filha de Paulo, lembra que as palavras não eram apenas uma ferramenta de trabalho do pai, mas também uma forma de demonstração de carinho.
“Sempre tem alguém que conviveu com ele que traz alguma coisa: ‘Ah, eu acho que ele escreveu um poema na minha dedicatória’ ou ‘ele deixou um papel que eu encontrei dentro de um livro que ele que ele me deu ou que ele emprestou’. Ele tinha esse cuidado muito grande de trocar afeto através das palavras, ele tinha essa forma de deixar um pedacinho dele em cada um dos lugares”, conta.
Manuscritos, poemas, músicas e até um dicionário feito à mão estão entre materiais inéditos do escritor
RPC
A filha conta ainda que entre os recortes que recebe, consegue identificar o caminho que o poeta seguiu para escrever e produzir obras agora consolidadas.
“É muito interessante a gente que está muito mergulhada na obra encontrar uma palavra e a gente já sabe que é do conto específico ou é uma palavra do Catatau [livro de poesias]. Um poema que muitas vezes a gente achava que o processo estava ali na máquina de escrever, mas a gente encontra um manuscrito e a gente percebe que aquele pedacinho de guardanapo foi a primeira ideia”, explica.
Alguns dos rascunhos mostram também a necessidade de adaptação da linguagem que Leminski encontrava enquanto produzia.
Conhecido por inventar palavras, anotações revelam o mapa mental que ele usava. Na matemática leminskiana, a soma entre “poesia” e “coisa” se torna “coisia”, por exemplo.
Poeta era conhecido por inventar palavras, como ‘coisia’: uma mistura entre poesia e coisa
RPC
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A história do autor se confunde com Curitiba
Poesias de Leminski ocupam paredes de Curitiba
Nani Góis
Paulo Leminski Filho nasceu em Curitiba no dia 24 de agosto de 1944.
Com estilo próprio e linguagem marcante, ele se apropriou de ditados populares e da sofisticação minimalista dos haicais japoneses, usou e abusou de gírias e palavrões, incorporou clichês publicitários à poesia e escreveu frases que poderiam muito bem estar pichadas em muros — muitas, aliás, depois o foram.
Apenas um dos reflexos de como Leminski pertenceu a Curitiba da mesma forma que a capital paranaense o pertenceu. O poeta lia a cidade de um ponto de vista literário e interpretava as ruas e esquinas em uma relação de pertencimento.
Leminski está incorporado à cidade
RPC
O guitarrista Paulo Teixeira, integrante da banda “A Chave” e companheiro musical de Leminski, diz que não imagina a existência de uma Curitiba sem o artista.
“Não imagino a cidade, a música sem ele, de tão importante que ele foi pra todos. Ele era muito ligeiro, muito ativo, muito perspicaz nas coisas. Se falavam uma bobagem, ele transformava aquilo em alguma coisa”, lembra.
Poeta também deixou marca na música; conheça
Leminski morreu em 7 de junho de 1989, em decorrência de complicações de uma cirrose hepática, porém, as palavras que deixou estão mais vivas do que nunca.
“Eu não sou um escritor nem um poeta de fim de semana. Para mim, literatura não é um hobbie, não é uma coisa que eu faça aos sábados, como quem vai lá e vai fazer um artesanato no fundo do quintal. Esse é o meu trabalho”, defendia o artista.
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