Viagem acontece em comemoração aos 50 anos de amizade e relações comerciais entre o país e o Brasil. Grupo se apresenta para autoridades políticas, incluindo a embaixada brasileira no país. Orquestra Maré do Amanhã leva jovens para turnê na China
A Orquestra Maré do Amanhã está desde a última segunda-feira (19) em viagem para uma turnê inédita de 10 dias na China. O grupo da Zona Norte do Rio fez apresentações recentemente na Europa, com direito ao Papa Francisco na plateia.
O projeto social, criado no Complexo da Maré há 14 anos, promove a transformação através do ensino de música clássica e já foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do RJ, em 2023.
Entre os mais de 4000 jovens e crianças atendidas, 17 músicos foram selecionados para representar o Brasil em diversas apresentações que percorrerão o país asiático ao longo desse período.
Orquestra Maré do Amanhã leva jovens para turnê na China
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Além disso, um segundo grupo, composto por 19 músicos e 11 coralistas realizarão uma apresentação em solo brasileiro, junto de profissionais da empresa State Grid Brazil Holding, uma das maiores empresas chinesas em atividade no Brasil.
A viagem acontece em comemoração aos 50 anos de amizade e relações comerciais entre o país e o Brasil. Na agenda de shows, o grupo foi convidado a tocar na Biblioteca Nacional Chinesa na próxima terça (27), com a presença da embaixada brasileira na China e o embaixador.
Para o fundador e diretor da orquestra, Carlos Eduardo Prazeres, esse é um sonho se tornando realidade: “Nossos alunos não só apresentarão a cultura brasileira para o exterior, como também aprenderão muito durante essa experiência em um dos países mais importantes do mundo atualmente”.
Orquestra Maré do Amanhã leva jovens para turnê na China
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A data da viagem coincide com o dia em que uma série de operações no Complexo da Maré teve início. A Polícia Militar dá apoio para uma ação de demolição da prefeitura de um condomínio que, segundo investigações, foi feito com dinheiro do tráfico.
Moradores fizeram diversos protestos contra a ação. Milhares de crianças passaram a semana sem aula, incluindo o irmão autista da flautista Maria Eduarda da Silva Paz, de 20 anos. Para ela, é uma grande responsabilidade levar a cultura brasileira para outros países.
“O trabalho que estamos fazendo aqui é muito importante para quebrar um estigma que vem de muito tempo, de que a Maré se resume a violência e pessoas ‘mal educadas’. É um prazer imenso poder mostrar para o mundo que na favela tem muito talento escondido, gente honesta e batalhadora. E que graças a isso, conseguimos alcançar lugares muito altos”, destaca a jovem.
Maria Eduarda na Muralha da China
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A violinista, de 16 anos, Andressa Lelis conta que a viagem tem sido um momento de aprendizado.
“Está sendo bem interessante conhecer esse lugar tão bonito e cheio de histórias. Eu gosto de ver os costumes locais, de perguntar sobre o modo de vida deles, e também, acho muito legal tentar aprender algumas palavras em chinês”, conta a jovem.
Segundo ela, é a chance do projeto mostrar a veia cultural das comunidades.
“Recebo perguntas sobre como nós vivemos na comunidade e sempre tento explicar da melhor maneira, dando a entender que, apesar da criminalidade, existem muitas coisas e pessoas boas na Maré”, destaca a menina.
“É muito bom saber que, ao fazer essas viagens e ter contato com pessoas do exterior, eu posso representar, nem que seja um pouco, o lugar de onde vim, o meu país”, completa ela.
Andressa Lelis na Muralha da China
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O diretor do projeto destaca que a Orquestra Maré do Amanhã é um exemplo de como iniciativas sociais impactam o território.
“A orquestra é um exemplo do celeiro de coisas boas que a Maré também é. É claro que não é fácil conviver com a violência, e nós lutamos para manter o ritmo apesar disso. Essa semana, por exemplo, suspendemos as atividades todos os cinco dias úteis. Porém, isso não nos para. A Maré é maior que tudo isso”, completa ele.