Segundo a família, Enzo Jacomelli convive com mais de 20 sequelas após levar ‘cabeçada’ de outro atleta durante um treino em um clube de São Paulo. Atleta de polo aquático fica com sequelas após sofrer trauma cranioencefálico
Um atleta de polo aquático teve a vida mudada por completo ao sofrer um trauma cranioencefálico [lesão física que incapacita a função cerebral] por conta de uma cabeçada que levou de outro jogador em um treino. Hoje com 21 anos, Enzo Jacomelli é considerado Pessoa Com Deficiência (PCD) e, segundo a família, apresenta alterações nas funções cognitivas, sistêmicas, sensoriais e motoras. A família realiza uma campanha para que ele realize um tratamento nos Estados Unidos.
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Moradores de Santos (SP), Luiz Fernando Jacomelli e Margarete Cristini explicaram que o filho sofreu o trauma cranioencefálico (TCE) em fevereiro de 2020, quando tinha 17 anos, durante um treino em um clube da capital paulista.
Segundo eles, Enzo foi “agredido” por outro atleta com uma cabeçada frontal em uma disputa de bola. Daquele momento em diante, a vida dele nunca mais foi a mesma.
Ao g1, os pais afirmaram que, quatro anos após o ocorrido, Enzo apresenta 22 sequelas, entre elas, alterações de memória [principalmente de curto prazo], intolerância ao esforço, tontura, tremores nas mãos e déficit de equilíbrio.
“Nos sentimos tristes, frustrados e revoltados. O Enzo nasceu e cresceu saudável […]. Ele estava em um caminho maravilhoso”, desabafou a mãe. “Sentimos que o trauma cranioencefálico ‘tirou’ o Enzo da gente. Choro todos os dias”.
Enzo Jacomelli praticando polo aquático (à esq.) e depois de sofrer o TCE (à dir.)
Arquivo Pessoal
Cabeçada e mudança de vida
De acordo com a família, Enzo ganhou uma bolsa de estudos em um colégio na capital paulista para defender o time de polo aquático do clube. Uma semana após completar 17 anos, porém, o rapaz sofreu a cabeçada dentro da piscina.
Segundo os pais, apesar de não ter desmaiado com a pancada, ele perdeu momentaneamente a visão e o controle do corpo. Após recuperar os sentidos, ainda de acordo com eles, Enzo não recebeu atendimento imediato no local, uma vez que o departamento médico do clube estava fechado.
A mãe afirmou que, nos dias seguintes à cabeçada, o filho continuou a frequentar a escola e os treinos, mas apresentou desempenho diferente do habitual, que era de excelência. Isto ocorreu, segundo Margarete, devido à “alteração visual, do reflexo e da lentificação do corpo” do rapaz.
Os familiares ressaltaram que os próximos meses foram marcados pelo diagnóstico do TCE e de uma concussão [lesão cerebral causada por uma pancada na cabeça], além do início do tratamento com medicamentos em um hospital em São Paulo.
Ao g1, a mãe do jovem relatou que, apesar da manifestação e piora dos sintomas, os médicos do clube indicaram que Enzo continuasse a praticar polo aquático. “Diziam que a reabilitação dependia da permanência no esporte de alto rendimento”, alegou Margarete.
Enzo Jacomelli antes de depois de sofrer o TCE
Arquivo Pessoal
Mais de um ano depois, em julho de 2021, Enzo saiu do clube — ele continuou as atividades durante o período, mas já com dificuldades. De acordo com a família, o rapaz “piorou muito”, mas se manteve no esporte, com as orientações médicas, em uma instituição “menos competitiva”.
O período do rapaz no novo clube durou apenas quatro meses. De acordo com a mãe, ele “passava mal a ponto de sair da água e sequer conseguir falar o nome do técnico”. Diante do avanço das sequelas, Enzo encerrou a carreira no polo aquático.
‘Foi só uma cabeçada’
Este é o nome da campanha criada pelos pais de Enzo. A iniciativa, segundo eles, tem como objetivo conscientizar a população e cobrar o poder público sobre ações de auxílio às pessoas que sofrem com TCE e concussão cerebral.
A família concluiu que, diante do quadro de Enzo, é preciso buscar ajuda internacional. Os pais passaram a arrecadar fundos na internet para custear aproximadamente 30 mil dólares (cerca de R$ 164 mil) para que ele realize um tratamento nos Estados Unidos.
TCE e concussão
Ao g1, a médica neurologista Cristiane Serra Zaher explicou que o TCE pode ser definido como a “lesão física do tecido cerebral”, apresentando maior chance de sequelas ao paciente e podendo até causar a morte cerebral.
A profissional explicou que a concussão é uma lesão geralmente transitória do funcionamento cerebral, sendo desencadeada por um trauma ou desaceleração da região craniana, como uma pancada, por exemplo.
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