15 de novembro de 2024

Golpe do falso aluguel: especialista dá dicas para evitar cair na armadilha de estelionatários

Mãe e filha pagaram R$ 1,7 mil para reservar um imóvel na cidade de Santos (SP). Presidente do Creci-SP deu dicas de como evitar o golpe. Criminosos fingem ser donos de apartamento e aplicam golpe do falso aluguel
Reprodução/TV Globo
O golpe do falso aluguel vitimou mãe e filha, que perderam R$ 1,7 mil durante a busca por um imóvel em Santos, no litoral de São Paulo. Além do prejuízo financeiro, as vítimas foram alvo de deboche da golpista. O presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci) do Estado de São Paulo, José Augusto Viana Neto, deu dicas ao g1 para evitar cair na armadilha.
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O golpe aconteceu em 10 de agosto, um sábado. A falsa proprietária, com quem mãe e filha conversaram, pediu documentos e o valor de dois meses de aluguel como caução. Com urgência para encontrar um novo imóvel, as vítimas fizeram uma transferência de R$ 1,7 mil e enviaram os documentos para locação do imóvel. Somente depois, elas descobriram a farsa.
Segundo Neto, os golpistas não miram somente quem deseja um imóvel permanente, mas também casas de veraneio. Primeiro, eles roubam fotografias de anúncios imobiliários reais, criam outros mais atrativos e publicam, geralmente, com preços muito acessíveis.
Os anúncios podem aparecer tanto em perfis falsos nas redes sociais, portais de anúncios, sites falsos e até aplicativos falsificados. “O que nós recomendamos é não fazer negócio por internet de maneira nenhuma, com ninguém, porque a possibilidade de prejuízo é muito grande”, adiantou ele.
Veja as principais dicas do especialista:
1. Confira o registro do corretor
Segundo o presidente do Creci-SP, um dos primeiros passos é se atentar ao anúncio imobiliário. Se ele mostrar o número de registro do corretor de imóveis, vale conferir no site do Conselho para confirmar se a pessoa é realmente credenciada como profissional capacitada. A consulta pode ser realizada no site do Creci.
2. Desconfie de pedidos de adiantamento
Golpista debocha após aplicar golpe do falso aluguel em Santos (SP)
Arquivo pessoal
A família caiu no golpe depois que a estelionatária solicitou um pagamento para a reserva do imóvel. Neto destacou que essa prática é permitida por lei, até para que o corretor não saia no prejuízo, mas o inquilino deve obter o valor de volta após o assinatura do contrato.
Segundo ele, é proibido o pagamento de aluguel adiantado. Muitas vezes, o golpista pode fazer pressão alegando ao potencial cliente que há outros inquilinos desejando o imóvel. Com isso, a vítima realiza o pagamento para segurar a casa ou apartamento.
O corretor não pode cobrar dinheiro como parte do aluguel ou solicitar esse valor adiantado, de acordo com o presidente do Creci-SP. “O corretor pode pedir um depósito para a reserva do imóvel. A partir do momento que for assinado o contrato, ele tem que devolver aquele depósito e o inquilino vai pagar o aluguel na data que ficou definida no contrato de locação”, explicou.
Além da perda financeira, mãe e filha sofreram deboche de golpista via WhatsApp
Pixabay/Banco de Imagens e Arquivo pessoal
3. Tente confirmação com funcionários
Sempre é importante visitar o imóvel antes de transferir qualquer valor. Neto informou que, no caso de condomínios, uma das formas de garantir a veracidade do anúncio é conversar com funcionários que possam transmitir segurança sobre o aluguel.
“Quando for fazer uma visita no prédio, tem que conversar com zelador, porteiro, pegar todas as informações. Alguma coisa que possa dar veracidade”, disse o presidente do Creci-SP.
4. Feche o negócio pessoalmente
Na etapa final da negociação, o inquilino deve ir até o escritório do corretor ou encontrá-lo pessoalmente. Segundo Neto, fazer negócios pela internet pode ser vantajoso, mas a possibilidade de prejuízo é muito grande quando há imóveis envolvidos.
“O grande problema dos portais de anúncio é que não identificam a pessoa que está anunciando. A falta dessa identificação permite que o estelionatário faça o anúncio e a captação das vítimas sem ser identificado, sem problema nenhum”, disse ele.
5. Consulte o portal do Creci-SP
O Creci-SP mantém um portal com mais de 1,3 milhão imóveis anunciados. Somente corretores e imobiliárias credenciados conseguem efetuar os anúncios, pois o site exige identificação. Para Neto, essa é uma forma segura de conquistar o imóvel dos sonhos sem riscos.
O caso
Mãe e filha descobriram que caíram no golpe do falso aluguel e golpista debochou delas em Santos (SP)
Arquivo pessoal
Thayná Branco, de 28 anos, trabalha como encarregada de departamento pessoal. Ela contou à equipe de reportagem que a mãe, a depiladora Márcia Alves, de 60, mora em um apartamento alugado que foi vendido para uma outra pessoa. Sendo assim, elas precisavam encontrar um novo imóvel com urgência.
De acordo com Thayná, a mãe viu um anúncio nas redes sociais de um apartamento para alugar na Avenida Conselheiro Nébias por R$ 1,7 mil por mês. A filha entrou em contato com a anunciante e visitou o imóvel. As chaves foram entregues pelo porteiro do edifício.
Elas relataram para a falsa proprietária, que não participou da visita, que tinham gostado do local. No entanto, queriam um apartamento com pelo menos um quarto. O imóvel era uma sala living — todos os ambientes integrados em um único cômodo.
No mesmo instante, a golpista passou o endereço de um outro apartamento com os requisitos que elas desejavam. O imóvel ficava na Avenida Presidente Wilson, em frente à praia. Por conta da localização, Thayná questionou o valor e foi informada pela mulher de que ela faria o mesmo preço de R$ 1,7 mil.
Golpista enviou documento de ‘conta laranja’ e recebeu transferência bancária da vítima em Santos (SP)
Arquivo pessoal
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A mãe e a filha foram até o segundo imóvel e tiveram a entrada liberada pelo porteiro. “Eu falei o apartamento é nosso […]. A gente tinha saído com a intenção de só voltar para casa com o imóvel, e ela [golpista] entendeu o desespero”, explicou Thayná.
O caso aconteceu em 10 de agosto, um sábado. A falsa proprietária solicitou os documentos e pediu o valor de dois meses de aluguel como caução [um tipo de garantia financeira], com a desculpa de que enviaria o contrato apenas na segunda-feira, dia 12.
Thayná aceitou a proposta, mas disse que só depositaria o valor de um aluguel após ela enviar uma foto de um documento. A mulher enviou uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) (veja a foto acima) e afirmou que, se a jovem estava insegura, era melhor procurar uma imobiliária.
Descoberta
A mãe e a filha fizeram a transferência de R$ 1,7 mil e enviaram os documentos para locação ainda de dentro do imóvel, que elas achavam que seria delas. Quando chegou em casa, Thayná contou que começou a pensar que tinha sido muito fácil alugar um ótimo apartamento e com um bom preço.
Mãe e filha descobriram que caíram no golpe do falso aluguel e golpista debochou delas em Santos (SP)
Arquivo pessoal
Ela começou a pesquisar o nome da mulher e descobriu que o documento da golpista estava com a data de nascimento e filiação trocados. Ainda na busca, ela encontrou o mesmo imóvel sendo anunciado em uma imobiliária por mais de R$ 3,5 mil. Ela entrou em contato com o estabelecimento e constatou que tinha caído em um golpe.
“Naquela hora, eu falei: ‘Ferrou, é golpe mesmo. Não tem jeito’. Fui na delegacia e tive que contar para a minha mãe, que ficou arrasada e só chorava”, afirmou Thayná.
Depois de registrar um boletim de ocorrência, ela falou para golpista que tinha desistido do apartamento e queria o dinheiro de volta. Neste momento, a falsa proprietária disse que faria a transferência bancária, mas a bloqueou no aplicativo de mensagens.
“A minha mãe chamou de outro número, xingando. Ela começou a debochar, ela ou ele, que a gente não sabe mais quem está falando […] Um absurdo, dá uma sensação de impotência”, disse a jovem que pretende acionar a Justiça.
Deboche
As capturas de tela obtidas pelo g1 mostram o que a golpista respondeu às vítimas: “A senhora sabe que boletim não adianta nada, né? Infelizmente, o Brasil é assim”. Ela ainda explicou que a conta era laranja, quando as informações são falsas ou com dados de terceiros para ocultar a identidade.
A instituição bancária em que a vítima fez a transferência foi a mesma em que a golpista recebeu a quantia de R$ 1,7 mil. O g1 entrou em contato com o banco, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
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