14 de novembro de 2024

Focos de incêndio em SP começaram a gerar fumaça quase no mesmo horário, aponta análise do Ipam

Em entrevista ao podcast do g1 ‘O Assunto’, Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) afirmou essa coincidência de horários é um forte indício de interferência humana, já que em condições normais, o comportamento do fogo seria mais variado. São Paulo em chamas
Uma análise dos focos de incêndio no estado de São Paulo nos últimos dias indica que eles começaram a gerar fumaça quase no mesmo horário.
A simultaneidade dos focos indica uma origem não natural, já que incêndios que ocorrem de forma natural tendem a começar em momentos diferentes, influenciados por fatores como umidade do solo, vegetação seca e condições climáticas.
A constatação é de um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Em entrevista ao podcast do g1 “O Assunto”, Ane Alencar, especialista em monitoramento de incêndios, reforça que essa coincidência de horários é um forte indício de interferência humana, já que em condições normais, o comportamento do fogo seria mais variado.
“O que nós vimos é que grande parte dos focos começaram a gerar fumaça mais ou menos no mesmo horário. E isso foi curioso”, explicou a especialista.
“[E isso] indica que se não foram, se não se conversaram, tem uma coisa muito interessante acontecendo ali, ondo todos os focos começaram mais ou menos na mesmo hora”, acrescentou.
Em meados de agosto de 2019, fazendeiros no Pará se articularam criminosamente para provocar queimadas ilegais em diversos pontos da região. Ao todo, foram 1.173 registrados no “Dia do Fogo”.
Aquele mês de agosto de 2019 foi marcado por queimadas recordes no bioma, fazendo até mesmo que a cidade de São Paulo visse o dia virar noite por causa da fumaça vinda de queimadas na região da Amazônia.
Agora, cinco anos depois, face ao fogo que atinge o estado de São Paulo e sufoca os moradores de regiões paulistas, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou, neste domingo (25), que os incêndios registrados em agosto de 2024 são atípicos e precisam ser investigados. A Polícia Federal abriu inquéritos.
“Do mesmo jeito que nós tivemos o ‘dia do fogo’, há uma forte suspeita de que agora esteja acontecendo de novo”, afirmou Marina Silva.
Agora, no estado de São Paulo, o número de focos de incêndios registrado em agosto de 2024 já é o maior desde o início da série histórica do Inpe, em 1998.
Neste mês, que ainda nem chegou ao fim, já foram contabilizados 3.483 focos pelo satélite de referência do instituto.
“Na minha percepção, e do que eu consegui ler, entender, naquela época, era que tinha quase uma celebração de algumas pessoas que participaram desse ‘dia do fogo’. […] Quase como uma demonstração de força daquelas pessoas de que poderiam fazer o que quisessem que não seriam punidas. Essa foi um pouco da impressão que eu tive”, acrescentou Alencar ao “O Assunto”.
Imagem feita de drone em 26 de agosto de 2024 mostra carros queimados em um depósito de veículos apreendidos pela polícia no interior de SP. Local foi atingido por incêndios em plantações de cana-de-açúcar perto da cidade de Dumont.
Joel Silva/Reuters
Assim como em 2019, agora em 2024 as investigações, ainda em andamento, recaem sobre a possibilidade de incêndios criminosos. O próprio governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou nesta segunda-feira (26) que um dos presos por envolvimento em incêndios em Batatais, no interior de São Paulo, se identificou como integrante de uma organização criminosa.
No mesmo dia, Wolnei Wolff, secretário Nacional de Proteção e da Defesa Civil, afirmou que 99,9% dos focos de incêndio no interior do estado de São Paulo em 2024 foram causados por ação humana.
Dia do fogo: a impunidade

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