20 de setembro de 2024

Milícia de GCMs na Cracolândia cobrava pela segurança privada de 12 ruas no Centro de SP, diz MP

A cobrança era feita a cada 15 dias e teve início quando a Cracolândia foi espalhada pelo Centro. Moradores pagavam até R$ 1.500 pela segurança privada irregular. Ação em imóveis usados pelo crime organizado na Cracolândia
Giba Bergamin/TV Globo
Agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) investigados pelo Ministério Público (MP) por suspeita de integrar uma milícia armada na Cracolândia cobravam pela segurança privada de 12 ruas da região do Centro de São Paulo, segundo a investigação.
A Justiça determinou que o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) continue investigando 22 GCMs e um policial civil. Dentro os GCMs denunciados, alguns eram responsáveis pela região do Campos Elísios e outros pela Santa Efigênia.
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Atuação da milícia no Centro de SP.
Reprodução/ TV Globo
No Campos Elísios a milícia atuava:
Rua Conselheiro Nebias
Rua Guaianases
Rua General Osório
Rua General Rondon
Avenida Duque de Caxias
Rua Vitória
Rua dos Gusmões
Na Luz:
Rua Santa Efigênia
Rua Aurora
Rua dos Andradas
Rua do Triunfo
E Rua Florêncio de Abreu na região da Sé.
Segundo as investigações do MP, os agentes patrulhavam pela própria GCM nos locais.
Comerciantes ouvidos pelo SP1 afirmaram que quase todos da região pagavam a taxa de segurança irregular e quem se recusava a pagar, sofria algum tipo de retaliação, como vandalismo.
A cobrança era feita a cada 15 dias e teve início quando a Cracolândia foi espalhada pelo Centro.
“Ali a gente paga por quinzena. Meu condomínio paga R$ 1.500, tem condomínio que tem mais apartamentos, que são maiores e pagam um pouco mais. A lojas pagam uns R$ 300, R$ 400, alguma coisa assim”, afirmou uma moradora.
Como era o esquema?
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Uma investigação conduzida pelo Ministério Público de São Paulo mostrou que agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) atuavam com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) para transferir usuários da Cracolândia sob pedido de propina.
Segundo as informações do MP, os GCMs espalhavam os usuários de droga por uma região de comércio. Em seguida, faziam os lojistas pagarem cerca de R$ 50 mil reais por mês para retirá-los do local e fazê-los migrar, mais uma vez, para outra área de comércio.
Em um ano de investigação, promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP e policiais identificaram que a quadrilha se dividia em cinco grupos de atuação na Cracolândia:
Ferros-velhos: empresários são suspeitos de explorar mão de obra de dependentes químicos. Os usuários furtavam fios de energia da rede pública, deixando semáforos e postes sem luz, e trocavam o cobre presente neles por drogas. Nesses locais foram encontradas crianças e adolescentes participando desse comércio irregular.
Milícia de GCMs: GCMs, policiais militares e policiais civis são suspeitos de se articularem numa milícia para extorquir dinheiro de comerciantes em troca de proteção. De acordo com a investigação, o grupo chegou a conseguir cerca de R$ 6 milhões em propina no período de quase um ano.
Receptação de celulares: comerciantes libaneses são suspeitos de montarem um esquema de receptação de celulares roubados e furtados e depois revender as peças. Os celulares eram levados a eles por grupos criminosos como as ‘gangues da bicicleta’ (que usam as bikes para fugir depois de roubar e furtar telefones de pedestres).
Hotéis e hospedarias: rede de hotéis e hospedarias mantida pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) que servem para armazenar drogas e abrigam até “tribunais do crime” (julgamentos internos da facção criminosa feitos por seus membros). Dentro desses locais, segundo a investigação, ocorre a exploração sexual de mulheres que são obrigadas a se prostituir para comprar drogas. Há denúncias da presença de menores de 18 anos de idade sendo exploradas. Um dos imóveis é conhecido como ‘prédio do sexo’, onde ocorre a exploração da prostituição. Não é crime pessoas maiores de idade se prostituírem, mas explorar a prostituição é. Outros prédios já eram conhecidos da polícia por abrigarem celulares roubados e furtados. Os imóveis chegaram a ser chamados de ‘ninhos de celulares’.
Favela do Moinho: a comunidade erguida ao lado da linha da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) se tornou uma base do PCC. Dali saem as ordens para a tráfico de drogas na Cracolândia. A favela também serve como depósito de armas e drogas. Segundo a investigação, criminosos usavam um detector de radiofrequência para ouvir as conversas operacionais da PM e, desse modo, se anteciparem às operações. Para terem controle da comunidade realizavam “tribunais do crime”, nos quais membros da facção e até moradores que descumprissem regras internas poderiam ser punidos.

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