20 de setembro de 2024

USP entrega diploma para familiares de 15 alunos da FFLCH que foram mortos pela ditadura militar

Iniciativa tem como objetivo honrar a memória dos ex-alunos. Além de familiares, a cerimônia também teve a presença de estudantes e movimentos sociais. Familiares de vítimas da ditadura militar recebem diploma.
Abraão Cruz/TV Globo
A Universidade de São Paulo (USP) realizou nesta segunda-feira (26) uma cerimônia de diplomação de 15 alunos que foram mortos durante a ditadura militar.
Eles frequentavam a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). O diploma foi entregue para familiares das vítimas.
O projeto “Diplomação da resistência” tem como objetivo honrar a memória dos ex-alunos. Além de familiares, o evento contou com a participação de movimentos sociais e alunos da USP.
Auditório da USP.
Abraão Cruz/TV Globo
Vítimas foram torturadas até a morte ou caíram em emboscadas de militares.
O projeto teve como primeiros homenageados Alexandre Vannucchi Leme e Ronaldo Queiroz, alunos do Instituto de Geociências (IGc), na década de 1970, e militantes do movimento estudantil da Universidade, em cerimônia realizada no dia 15 de dezembro do ano passado.
Quem foram os alunos homenagiados?
Antonio Benetazzo, Filosofia – Em 1962, iniciou sua participação no movimento estudantil e se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Após uma passagem pela Faculdade de Arquitetura da USP, matriculou-se em Filosofia na mesma Universidade em 1967, mas abandonou o curso no ano seguinte. Saiu do Brasil e foi para Cuba, quando voltou foi perseguido e preso em 28 de outubro de 1972. Ele foi levado DOI-CODI/SP e torturado até a morte
Carlos Eduardo Pires Fleury, Filosofia – foi estudante de Filosofia na USP e Direito na PUC e integrou a Ação Libertadora Nacional (ALN). Em 30 de setembro de 1969, foi preso e levado para a Operação Bandeirante (Oban), onde foi torturado por vários dias, chegando a sofrer uma parada cardíaca. Foi libertado em junho de 1970 e viajou para Argélia e depois Cuba, quando retornou ao Brasil foi assassinado em 1971.
Catarina Helena Abi-Eçab, Filosofia – matriculou-se no curso de Filosofia da FFCL/USP em 1967, mas abandonou os estudos no ano seguinte. Militante do movimento estudantil, casou-se com João Antônio Santos Abi-Eçab em maio de 1968. Catarina e João foram presos, torturados e mortos em um sítio em São João do Meriti em 1968.
Fernando Borges de Paula Ferreira, Ciências Sociais – Foi líder estudantil e ativista sindical durante sua graduação em Ciências Sociais na USP, iniciada em 1965. Em 30 de julho de 1969, Fernando foi emboscado por agentes do Deic, resultando em sua morte.
Francisco José de Oliveira, Ciências Sociais – matriculou-se em Ciências Sociais na USP em 1967, onde ficou conhecido como “Chico Dialético”. Militante da Dissidência Universitária de São Paulo (DISP), originada no Partido Comunista Brasileiro (PCB), ingressou na Ação Libertadora Nacional (ALN) em 1969. Em 1970 foi emitido um mandado de prisão contra Fracisco e ele fugiu para Cuba. Ele foi assassinado em 1971, quando retornou para o Brasil.
Helenira Resende de Souza Nazareth, Letras – ingressou no curso de Letras da USP em 1965. Entretanto, trancou o curso em 1967. Militante ativa, Helenira foi eleita presidente do Centro Acadêmico e, em 1968, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Ainda em 1968, ela chegou a ser presa duas vezes, passou dois meses no Carandiru e foi libertada. Em 1972 foi morta em Araguaia, seu corpo nunca foi encontrado.
Ísis Dias de Oliveira, Ciências Sociais – Em 1965, ingressou no curso de Ciências Sociais da USP e passou a residir no Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp), abandonou o curso em 1967 e em 1968 foi para Cuba, retornando clandestinamente ao Brasil em 1970. Ela foi presa em 1972 e desapareceu. Em 1979 um general admitiu que ela tinha sido morta pela ditadura.
Jane Vanini, Ciências Sociais – entrou na USP em 1966. Junto de seu companheiro, Sérgio Capozz, foi perseguida. O casal fugiu para o Uruguai e depois para Cuba, onde integraram o Movimento de Libertação Popular (Molipo). Retornaram clandestinamente ao Brasil, tentando estabelecer uma base em Goiás, mas a repressão os forçou a buscar asilo no Chile em 1972. Ela foi morta no Chile, seu corpo nunca foi encontrado.
João Antônio Santos Abi-Eçab, Filosofia – Em 1963, ingressou no curso de Filosofia na USP, mas abandonou os estudos em 1968. Durante os seus anos na faculdade, foi ativo no movimento estudantil. Em 1967, foi preso e indiciado por “terrorismo” pelo DEOPS/SP, mas liberado por habeas corpus. Casou-se com Catarina Helena Abi-Eçab em maio de 1968. Catarina e João foram presos, torturados e mortos em um sítio em São João do Meriti em 1968.
Luiz Eduardo da Rocha Merlino, História – Estudante de História na USP a partir de 1969, ele abandonou o curso no ano seguinte. Em dezembro de 1970, viajou à França para participar do 2º Congresso da Liga Comunista. Após retornar ao Brasil, em 15 de julho de 1971, foi preso violentamente em Santos e levado ao DOI-CODI/SP, onde foi torturado por 24 horas ininterruptas até a morte.
Maria Regina Marcondes Pinto, Ciências Sociais – Estudava Ciências Sociais na USP, mas abandonou o curso entre 1969 e 1970 para se juntar ao companheiro Emir Sader, exilado em Paris. Após seis meses na França, o casal se mudou para Santiago, no Chile, onde Maria Regina se envolveu com o Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR). Durante o golpe de Estado de setembro de 1973, que colocou Augusto Pinochet no poder, ela foi presa, mas conseguiu retornar ao Brasil. Seis meses depois, mudou-se para Buenos Aires onde desapareceu, seu corpo nunca foi encontrado.
Ruy Carlos Vieira Berbert, Letras – Matriculou-se em Letras na USP em 1968, onde se envolveu ativamente no movimento estudantil. No mesmo ano, trancou a matrícula após o confronto conhecido como “Batalha da Maria Antônia” e foi preso no 30º Congresso da UNE, em Ibiúna. Em 1969, Ruy recebeu treinamento de guerrilha em Cuba, retornando clandestinamente ao Brasil em 1971. Documentos indicam que ele foi torturado antes de sua morte, durante a “Operação Ilha”, que visava capturar guerrilheiros do Molipo treinados em Cuba.
Sérgio Roberto Corrêa, Ciências Sociais – Em 1967, ingressou no curso de Ciências Sociais na USP, mas trancou a matrícula em 1968. Acusado de integrar o Grupo Tático Armado (GTA) da Aliança Libertadora Nacional (ALN/SP), Sérgio usava o codinome Gilberto. Ele teria morrido na madrugada de 4 de setembro de 1969, junto com Ishiro Nagami, quando o carro em que estavam explodiu na Rua da Consolação.
Suely Yumiko Kanayama, Letras – ingressou na USP em 1967, onde estudou Licenciatura em Língua Portuguesa e Germânica, além de cursar Língua Japonesa como cadeira opcional. Em meio à repressão política, abandonou a Universidade em 1970 para se dedicar à militância clandestina. Ela foi morta em 1979 por rajadas de metralhadora e enterrada em Xambioá, Tocantins.
Tito de Alencar Lima, Ciências Sociais – Em 1969, iniciou o curso de Ciências Sociais na USP, mas abandonou os estudos em 1970. Tito foi preso em 4 de novembro de 1969, acusado de ligações com a Ação Libertadora Nacional (ALN). Sofreu torturas e foi transferido para o Presídio Tiradentes. No dia 17 de dezembro de 1970, foi levado para a sede da Operação Bandeirante (Oban) e torturado, onde permaneceu até ser banido do Brasil em 1971. Ele foi para a França, mas em agosto de 1974 se suicidou.

Mais Notícias