25 de dezembro de 2024

Criança que teve perna errada operada na PB continua sem andar 4 meses após a cirurgia

Menina continua sem conseguir andar quatro meses após ter passado pela cirurgia errada. Mãe de criança que teve cirurgia em perna errada em CG relata dificuldades
A menina de 6 anos que teve a perna errada operada por uma equipe do Hospital de Trauma de Campina Grande continua sem conseguir andar quatro meses após ter passado pela cirurgia.
A menina deu entrada inicialmente no Hospital Universitário de Campina Grande, depois, foi transferida para a unidade que trata de emergências. Ela apresentava um quadro clínico de celulite infecciosa na perna esquerda e precisava passar por uma cirurgia invasiva para colocar pinos no local. Mas a perna direita foi operada.
A mãe da menina, Fernanda Cabral, afirmou em entrevista à TV Paraíba que o membro que deveria ter sido submetido ao procedimento cirúrgico tinha uma tala, ou seja, estava identificado. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil, Ministério Público e Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB). Equipe envolvida foi afastada.
Como tudo começou
As dores na perna esquerda da menina começaram poucos dias após uma queda de bicicleta. Ao ouvir as queixas de dores da filha, a mãe da criança a levou para o Hospital da Criança de Campina Grande, onde realizaram um raio-X para verificar se havia algo quebrado. Ao confirmarem que estava tudo bem, a menina foi medicada e liberada para casa.
Cirurgia foi feita em perna errada de menina, em Campina Grande
Reprodução/TV Cabo Branco
No dia seguinte, Fernanda Cabral, mãe da menina, retornou ao hospital com a filha. Através de uma ultrassom, foi descoberto um quadro clínico de celulite infecciosa.
“Transferiram a gente pro Trauma para colocar um acesso central. Começaram a fazer novos exames, a gente ficou na UTI do Trauma e descobriram várias coisas, que [a celulite na perna da menina] já estava com sepse, teve um trombo na perna e aí veio a suspeita de lúpus também. Com a suspeita de lúpus, transferiram a gente pro HU”, narra a mãe da menina.
Foram cerca de 40 dias no Hospital de Campina Grande até receber a alta médica. Pouco depois, as dores sentidas pela menina voltaram.
“Só que ela com a dor e eu já traumatizada pelo tanto de tempo que a gente tinha passado no hospital, fui pro Trauma, no dia 21 de abril. Chegando lá, eles fizeram um examezinho e disseram que teriam que interná-la porque achavam que era uma osteomielite”, detalha a mãe da criança.
De acordo com o médico e diretor técnico do Hospital de Trauma de Campina Grande, Flávio Daniel, a osteomielite é uma infecção que atinge a parte óssea do corpo humano. “É uma infecção que necessita de tratamento, na maioria das vezes prolongado, com antibioticoterapia e em algumas situações, de drenagem, quando é feito procedimento cirúrgico”, explica.
A cirurgia errada e a investigação do caso
A menina foi encaminhada para o centro cirúrgico do Hospital de Trauma de Campina Grande e, ao sair, a mãe da criança se desesperou ao perceber que a perna direita é a que tinha sido operada, quando, na verdade, o problema estava na perna esquerda. A criança teve que voltar para o centro cirúrgico para ter a perna correta operada.
Pouco depois do erro ser identificado, o Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande emitiu uma nota de esclarecimento confirmando o afastamento de toda a equipe e determinando a abertura de uma sindicância para apurar o caso.
Os conselhos de medicina e enfermagem na Paraíba também estão investigando o caso.
O primeiro secretário da diretoria do CRM-PB (Conselho de Medicina da Paraíba), Klecius Leite, fala sobre as medidas que podem ser tomadas em relação a equipe médica responsável. “O médico poderá ser absolvido ou considerado culpado. Se ele for considerado culpado, existem vários tipos de pena, que podem ir de uma advertência até a cassação”, explica.
“Em relação à comissão de ética de enfermagem, eles concluíram com a parte deles. Já foi enviado relatório para o Coren, órgão responsável por apurar a parte de enfermeiros e técnicos de enfermagem, se houve alguma conduta para ser punida ou não”, complementou o diretor técnico do Hospital de Trauma de Campina Grande, Flávio Daniel.
De acordo com informações da Delegada da Polícia Civil, Renata Dias, que investiga o caso, parte da documentação necessária para a investigação já foi recebida pela polícia. “O próprio hospital onde a cirurgia foi realizada já forneceu parte da documentação que estava em andamento para apurar as condutas dos profissionais envolvidos e nós buscamos também o parecer do CRM”, detalhou.
“Em relação à perna direita [da criança], na qual ocorreu o evento adverso, é bom que fique claro que o acompanhamento da nossa equipe de ortopedistas, todos os colegas que avaliaram a paciente viram que ela não ficou com nenhum tipo de sequela do ponto de vista funcional”, esclareceu Flávio Daniel.
A criança, no entanto, continua sem conseguir andar mesmo após quatro meses da operação e depende unicamente dos cuidados da mãe, que se vê tendo que prestar explicações repetidas vezes ao seu local de trabalho para conseguir tomar conta da filha.
“A parte mais difícil é não poder brincar, não poder andar. Saudade de brincar de esconde-esconde e brincar de pega-pega. Saudade de andar de bicicleta, mas eu não posso”, desabafa a menina.
A delegada Renata Dias, da Polícia Civil, ressaltou que o caso continua em investigação e que ainda aguarda o parecer do Ministério Público da Paraíba para concluir o inquérito. A assessoria do CRM-PB informou que o órgão não enviou o parecer para a Polícia porque os processos éticos apurados correm em sigilo.
O MP informou que ouviu a mãe da menina e está acompanhando as medidas que estão sendo tomadas para que a criança tenha acesso a todo o atendimento necessário pelo SUS e que seguem as demais investigações. A menina está sendo acompanhada pela equipe de ortopedistas do Hospital de Trauma de Campina Grande e por fisioterapeutas e psicólogos do município.
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