13 de janeiro de 2025

Caso Clarinha: paciente pode ser sepultada em 40 dias para aguardar exames de DNA

Decisão foi tomada para aguardar liberação de resultados de novos exames realizados para identificação de possíveis parentes da paciente que ficou 24 anos internada em coma e sem identificação em hospital de Vitória. Polícia faz simulação de como estaria o rosto de ‘Clarinha’, mulher que vive no hospital em coma há 15 anos, espírito santo, HPM
Reprodução/ TV Gazeta
O corpo de Clarinha, paciente não identificada que morreu após ficar 24 anos internada em coma, deve permanecer por, pelo menos, 40 dias no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória. A decisão foi tomada pela Polícia Civil devido ao surgimento de novos possíveis familiares depois que a paciente faleceu, na quinta-feira (14). A ideia é que com este prazo exista chance de a mulher ser enterrada com a sua real identificação. Exames por meio de digitais já estão sendo feitos.
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A história de Clarinha ganhou repercussão após uma reportagem sobre o caso ser exibida no Fantástico, em 2016. A mulher foi atropelada em um Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, no Centro de Vitória. Ela foi levada sem documentos para receber atendimento médico, chegou já desacordada e nunca foi comprovada a sua identificação por algum familiar.
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A auxiliar de perícia médico-legal da Polícia Civil do Espírito Santo, Polyanna Caliari Modesto, explicou que na rotina de trabalho do DML, é comum que o corpo não identificado permaneça durante 30 dias no local antes de ser sepultado como indigente, se não houver identificação nesse intervalo de tempo.
“No caso da Clarinha, como é um caso muito atípico, em que há anos existe uma mobilização para identificação dela, a intenção é dar esse último prazo para encontrar uma possível família, para que ela possa ser enterrada com a sua identidade real. É uma questão de dignidade”, disse Polyana.
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Arquivo
Polyanna explicou que depois que cessarem as tentativas com os testes das digitais que estão sendo feitos, a ideia é agendar os exames de DNA para a próxima semana.
“O tempo médio de espera para o resultado de um exame de DNA é de 30 a 40 dias. Gostaríamos de fazer um apelo às famílias que cogitam a possibilidade de parentesco que procurem o DML e solicitem o exame de DNA o quanto antes, para que quem precisar passar pelo teste já o faça na semana que vem”, disse.
Dois familiares que apareceram após a morte de Clarinha já tiveram a possibilidade de parentesco descartados através da comparação de digitais e, por isso, não vão nem realizar o teste de DNA.
Caso Clarinha: Procedimento pós-morte colhe digital completa pela primeira vez e descarta possíveis parentes
Outras duas famílias, uma do Paraná e outra de Brasília, vão passar pelo teste das digitais e depois terão o exame genético agendado , se necessário. E ainda um terceiro caso de Minas Gerais será encaminhado diretamente para DNA.
“Neste caso de Minas Gerais, a mulher que fez contato seria uma suposta filha de Clarinha e alegou que a mãe nunca teria feito RG. Por esse motivo a comparação de digital não tem como ser feita e ela seguirá direto para o DNA”, contou Polyanna.
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Enquanto isso, o corpo de Clarinha está sendo refrigerado para manter suas condições até ser liberado para velório e/ou enterro. “O corpo fica armazenado a uma temperatura muito baixa, de 10 graus negativos, e fica conservado 100%, como se a pessoa tivesse acabado de falecer”, disse a auxiliar de perícia.
Exames de DNA e banco genético
Banco Nacional de Perfis Genéticos reúne dados de amostras coletadas em todo o Brasil.
Getty Images via BBC
O perito Oficial Criminal Caio Nucci de Araújo, chefe do Laboratório de DNA Forense da Polícia Científica do Espírito Santo (PCIES), explicou que como o teste de DNA é um exame forense, ele depende muito das condições do material do corpo para um resultado conclusivo. Dependendo da natureza e das condições do material biológico, as dificuldades são diferentes e, consequentemente, o tempo para saída do resultado.
“O tempo médio estimado é de 30 dias. No caso da Clarinha, a amostra dela está no Banco Nacional de Perfis Genéticos desde 2015. E ainda foi feita uma coleta protocolar agora que ela morreu, quando deu entrada no DML. Então, teremos que processar apenas o material biológico dos familiares”.
No Espírito Santo, quem busca uma pessoa desaparecida deve registrar Boletim de Ocorrência (BO) do desaparecimento e entrar em contato com o DML pelo telefone 3225 8260 (WhatsApp).
“Uma vez feito contato, a pessoa vai receber um formulário e deverá preencher todas as informações da pessoa desaparecida, que permitam possível identificação. Vai ser feita uma triagem inicial com os corpos que estejam no DML com identidade desconhecida, se isso não tiver sucesso, eventualmente essa pessoa poderá ser encaminhada ao laboratório de DNA, para coleta de material biológico, processamento, inserção de perfil genético no banco e sincronização com o banco nacional”, encerrou.
Cronologia das buscas após a morte
Vítima foi levada ao Departamento Médico Legal (DML) de Vitória para passar por exames
Reprodução/TV Gazeta
Cinco famílias buscaram o DML depois da morte da Clarinha afirmando terem possíveis graus de parentesco.
Um caso do Espírito Santo apareceu na sexta-feira (15), já descartado através de análise de digitais.
Um caso da Bahia apareceu no sábado (16), já descartado através de análise de digitais.
Um caso de Minas Gerais apareceu na segunda-feira (18) e vai direto para exame de DNA na próxima semana.
Um caso do Paraná e outro de Brasília apareceram na terça-feira (19) e ainda vão ser analisados por digitais inicialmente. Se necessário, podem ter que fazer DNA.
Principais pontos sobre o caso
Pela primeira vez, foram colhidas digitais completas de Clarinha para realização de comparações. Espírito Santo.
Divulgação/PCIES
Morte: Clarinha morreu na noite de quinta-feira (14). Em 2000, foi encontrada atropelada sem qualquer documento e ficou internada em coma por 24 anos em um hospital de Vitória. A informação foi confirmada inicialmente pelo coronel Jorge Potratz, médico que cuidou da paciente durante todos esses anos.
Clarinha passou mal, teve uma broncoaspiração e não resistiu. A mulher estava internada em estado vegetativo no Hospital da Polícia Militar (HPM), em Vitória.
Digitais colhidas: Um procedimento pós-morte realizado no sábado (16) permitiu o levantamento de digitais completas para realização de comparações e exames. Essa técnica só é possível em pessoas mortas, por isso só foi possível ser realizado agora.
O procedimento se chama “excisão da falange”, e só foi feito agora porque é realizado apenas em cadáver. “A gente tira a epiderme do polegar de maneira muito paciente e minuciosa. E a digital é colhida na derme, camada mais profunda da pele”, disse o perito João Carlos Quemelli.
Testes: Depois da reportagem exibida no Fantástico, mais de 100 famílias procuraram o Ministério Público para identificar Clarinha como uma possível parente desaparecida ao longo desses anos. Desse total, 22 casos chamaram mais atenção, pelas fotos ou pela similaridade dos dados próximos ao perfil da mulher internada.
Em 2021, uma equipe de papiloscopistas da Força Nacional de Segurança Pública usou um processo de comparação facial e fez buscas em bancos de dados de pessoas desaparecidas com características físicas semelhantes às da mulher. A suspeita era que ela seria uma criança desaparecida em 1976 em Guarapari, que esteve na cidade para uma viagem em família.
A possibilidade também foi descartada e o caso nunca foi solucionado. Esse foi o caso com maior número de evidências e possível compatibilidade.
Cicatriz de cesárea: Inicialmente, equipe médica teve esperança de encontrar algum parente ou até filho de Clarinha, já que ela tinha uma cicatriz de cesariana, mas isso não aconteceu. A estimativa é que, em 2024, Clarinha tivesse entre 40 e 50 anos.
Mistério: Durante os 24 anos em que esteve internada em hospitais de Vitória, a paciente Clarinha deixou dúvidas sobre toda a sua história. Além do nome, nunca houve informações sobre idade, local onde morava e se tinha parentes no Espírito Santo ou em outro estado
Apelido: Clarinha foi o nome dado à paciente pela equipe médica que a atendia, que desejava garantir a identificação dela e a criação de um laço afetuoso entre os profissionais e ela.
“O nome ‘não identificada’ é muito complicado para se falar, muito frio, a gente tinha que chamar de algum nome. Como ela era muito branquinha, a pele muito clara mesmo, a gente a apelidou de Clarinha. A ideia era que, se algum dia de fato aparecesse a família, a gente mudava novamente”, disse Potratz.
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