10 de janeiro de 2025

Polícia investiga suposta dentista que deixou pacientes com infecções após lipo de papada

Segundo apuração da TV Globo, Camilla Groppo não é registrada no conselho profissional e teve a clínica fechada pela Vigilância Sanitária de Belo Horizonte depois de irregularidades. Polícia investiga suposta dentista que teve clínica interditada em BH
A Polícia Civil investiga uma suposta dentista de Belo Horizonte suspeita de deixar mais de dez pacientes com infecções após lipoaspirações de papada. Segundo uma apuração da TV Globo, a mulher não é registrada no conselho profissional e teve a clínica fechada pela Vigilância Sanitária.
Nas redes sociais, Camilla Groppo acumula quase 12 mil seguidores e diz ser especialista em lipos na região abaixo da mandíbula e bichectomias — cirurgia que remove gordura das bochechas. Em uma das publicações, ela afirmou que já fez cerca de dois mil procedimentos.
Camilla Groppo acumula quase 12 mil seguidores e diz ser especialista em lipos na região abaixo da mandíbula e bichectomias
Reprodução/Redes sociais
À equipe de reportagem, uma das vítimas contou que viu as postagens, acreditou na dentista e decidiu passar pela intervenção cirúrgica. No entanto, o que era para ser um sonho virou um pesadelo.
“Eu sempre tive um grande problema com a minha papada, sempre. Eu não tirava foto, nada, e essa foi uma alternativa. E agora eu estou arrasada, arrasada… Tendo crise de ansiedade, não durmo…”, disse a mulher, que pediu para não ser identificada.
Com o rosto muito inchado e sentindo fortes dores, paciente procurou um hospital e recebeu diagnóstico de infecção
Reprodução/TV Globo
Com o rosto muito inchado e sentindo fortes dores, a paciente procurou um hospital, onde recebeu o diagnóstico de uma infecção grave e foi internada. Ela já fez duas cirurgias e está indo para a terceira.
“Maior pesadelo da minha vida vida. Primeiro foi passar sete dias longe do meu filho, no hospital. E ficar passando por isso, sabe?”, completou.
Mulheres que realizaram lipoaspiração na clínica relataram os mesmos problemas
Reprodução/TV Globo
Outras mulheres que realizaram a lipoaspiração na clínica relataram os mesmos problemas. A maioria foi atraída pela publicidade e pagou, em média, R$ 2,2 mil pelo procedimento e um pacote de drenagem pós-operatório.
“Começou a ficar vermelho, depois ficar roxo, e foi aumentando. E aí eu ia fazer a drenagem, e eu sempre batendo na tecla que não estava normal, que tinha algo errado… E ela falando que era assim mesmo, que era fibrose”, disse outra vítima, que pediu para não ter a identidade revelada.
Bactéria resistente
Uma terceira paciente disse que chegou a tomar 15 tipos diferentes de antibiótico para tentar controlar o processo infeccioso e chegou a procurar a dentista, mas foi bloqueada por ela nas redes sociais.
“Ela nunca mais entrou em contato comigo, pra saber como eu estava, pra perguntar se eu precisava de alguma coisa, de ajuda, né?”, contou a mulher.
Exames das vítimas que fizeram a lipoaspiração na mesma época identificaram o contágio por uma bactéria muito resistente, associada à contaminação por materiais manipulados ou esterilizados incorretamente.
A médica Carolina Lins, infectologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que o tratamento de casos assim envolve o uso de medicamentos orais e injetáveis por cerca de um ano e meio. O risco de sequelas não é descartado.
“O princípio do tratamento sempre é retirar aquele foco infeccioso. Isso vai implicar em abordar locais que são esteticamente muito importantes, como a região da mandíbula. Uma vez lesionados ou sendo retirados para tratamento, podem determinar deformidades importantes, como a perda do sorriso — deixar a boca torta”, disse a especialista.
Dentista sem registro
No site do Conselho Regional de Odontologia (CRO-MG), Camilla Groppo é, na verdade, Camila Aparecida de Andrade Silveira. Ela tem uma inscrição provisória, de abril de 2022, com situação “desativada”.
Ela tem uma inscrição provisória, de abril de 2022, com situação “desativada”.
Reprodução/TV Globo
Em nota, o CRO explicou que a inscrição provisória tem validade de seis meses. Quando o profissional não apresenta o diploma neste período, o cadastro é suspenso automaticamente.
“Com o registro desativado/caducado a profissional não pode exercer a odontologia, nem mesmo fazer cursos”, afirmou o conselho.
Isso significa que a mulher está exercendo a profissão e ministrando cursos de forma ilegal há quase dois anos.
Clínica fechada
Após as denúncias, a Vigilância Sanitária de Belo Horizonte fez uma vistoria na clínica odontológica, que fica no Centro da capital mineira, para verificar um possível surto de microbactéria não tuberculosa de crescimento rápido. O local foi interditado no último 11 de março.
Vigilância Sanitária de Belo Horizonte fechou clínica odontológica
Reprodução/TV Globo
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que a fiscalização constatou algumas irregularidades, como “esterilização inadequada do instrumental utilizado nos procedimentos, além de quantidade insuficiente desses materiais para atender a demanda do estabelecimento”.
O que diz a investigada
Em nota, a assessoria da Clínica Camilla Groppo disse que “segue em contínuo contato com o Conselho Regional de Odontologia e a Vigilância Sanitária, colaborando com as investigações e esclarecendo aos órgãos responsáveis quaisquer dúvidas referentes ao caso”.
“Até o presente momento, não existe um laudo conclusivo e oficial sobre do que pode ter sido a causa das infecções, sendo possível a hipótese de uma contaminação cruzada por pacientes que dividiram a sala de espera e não uma contaminação instrumental”, afirmou.
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