Nesta quinta (21), nos Estados Unidos, Leonardo Riella se uniu ao resto da equipe para anunciar que a cirurgia deu certo. Médico brasileiro chefia cirurgia revolucionária: pela primeira vez, um ser humano vivo recebe o transplante de rim de um porco
Um médico brasileiro chefiou, nos Estados Unidos, uma cirurgia revolucionária: pela primeira vez, um ser humano vivo recebeu o transplante de um rim de um porco.
Esse é o porco da raça yucatan – escolhida porque é mais ou menos do tamanho de um humano. A gente tende a se achar muito maior que um porco, mas se você parar para pensar, a cabeça é a cabine de controle; a região abdominal é a casa de máquinas, que tem o tamanho de um porco e os órgãos seguem esse mesmo padrão. No final das contas, o que faz nos parecer assim agigantados são esses supermembros que servem, no fim das contas, para nos transportar.
O porco usado na cirurgia parece um animal normal, mas é um clone. Os cientistas alteraram o DNA dele antes do nascimento: colocaram sete genes humanos para os órgãos ficarem mais parecidos com os nossos, retiraram três genes do porco que podiam causar rejeição do rim e desativaram vírus suínos que podem causar doenças em humanos. No total, foram feitas 69 modificações genéticas, com uma tecnologia de ponta, vencedora do Prêmio Nobel de Química.
Foram feitas 69 modificações genéticas em porco que teve rim usado para 1º transplante em um ser humano vivo
JN
Cirurgias com órgãos de porco não são inéditas na medicina. Cientistas já transplantaram até o coração do animal em um ser humano, mas os pacientes não sobreviveram.
Com o rim, a história é um pouco diferente. Em 2021, médicos em Nova York transplantaram o rim de um porco em um paciente que já tinha sofrido morte cerebral. Ficou do lado de fora do corpo para que fosse analisado e funcionou. Depois, um rim de um porco foi implantado em um macaco e funcionou por alguns anos.
Mas no sábado (16), cirurgiões em Boston foram além. Um homem de 62 anos com diabetes, pressão alta e problemas no coração foi o primeiro humano vivo a receber o rim de um porco.
Leonardo Riella é o chefe da equipe médica e brasileiro.
“Quando conectou o rim e a urina começou a sair foi uma sensação incrível. No instante ali, quando desconecta os vasos para ter o fluxo de sangue no rim, que a gente percebe que realmente funcionou”, conta.
Xenotransplante: como e quais órgãos de porcos são modificados para salvar vidas humanas
Leonardo é de Curitiba e estudou na Universidade Federal do Paraná. Foi para os Estados Unidos fazer mestrado e doutorado e lá ficou. Nesta quinta-feira (21), se uniu ao resto da equipe para anunciar que a cirurgia deu certo.
“O paciente está ótimo. Já deu 20 voltas no andar hoje e a gente está removendo o cateter de diálise dele. O rim está funcionando perfeitamente, mantendo tudo estável em termos de minerais e líquido no corpo, e a gente está planejando, no fim de semana, provavelmente mandar ele para casa”, conta Leonardo Riella.
O médico Leonardo Riella
JN
Os rins funcionam como um filtro. O sangue passa por eles e o que não serve para a gente, eles transformam em urina. Quando os rins não funcionam, a pessoa tem que fazer essa filtragem do lado de fora do corpo, usando uma máquina.
O paciente que ganhou o rim do porco fazia hemodiálise há anos, mas o procedimento não era suficiente. Ele precisava ser hospitalizado com frequência por causa de complicações. A hemodiálise não substitui todas as funções do rim – não é uma cura -, por isso, o sonho de quem tem falência renal é fazer um transplante.
No Brasil, é o tipo de transplante com a maior procura. São mais de 30 mil pessoas na fila. No mundo todo, são milhões.
É um avanço histórico para a medicina que uma operação tão complicada tenha dado certo e pensar que pode ajudar a manter milhões de pessoas vivas, dá muita vontade de chamar de milagre.
“Cada pessoa contribuiu da forma que podia e trouxe para a gente, não só a experiencia, mas a alma. Quando a gente fala de dias e noites trabalhando e, finalmente vendo o resultado final, acaba trazendo muita emoção”, afirma Leonardo Riella.
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