19 de setembro de 2024

Procurador-geral da Venezuela pede à Justiça prisão de Milei em caso de ‘roubo’ de Boeing; Argentina repudia

Boeing 747 foi apreendido em 2022 pela Argentina a pedido dos EUA por supostas ligações com o Irã, em caso que Venezuela chama de ‘pirataria e roubo’. Sansões também atingem Karine Milei, secretária geral da presidência argentina e irmã de Milei, e Patrícia Bullrich, ministra da Segurança. O Boeing 747 da venezuelana Emtrasur parado no aeroporto de Córdoba, na Argentina.
Sebastian Borsero/ AP

O procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, anunciou nesta quarta-feira (18) que pediu à Justiça venezuelana um mandado de prisão contra o presidente da Argentina, Javier Milei, pelo “roubo” de um avião de carga pelo governo argentino, ocorrida em Buenos Aires em 2022. A secretária-geral argentina e irmã do presidente, Karine Milei, e a ministra de Segurança, Patricia Bullrich, também são alvos do pedido de ordem de prisão Ministério Público venezuelano.
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O anúncio de Saab é mais um capítulo de uma crise entre os governos da Venezuela e da Argentina, que se estende desde 2022, quando o governo argentino apreendeu um Boeing 747 de carga venezuelano a pedido dos EUA por suspeitas de relação com o braço de elite das Forças Armadas do Irã. Entenda o caso abaixo.
Segundo o procurador-geral, as autoridades argentinas citadas serão acusadas de “roubo agravado, lavagem de dinheiro, privação ilícita de liberdade, simulação de ato punível, interferência ilícita, inutilização de aeronave e associação criminosa”.
O anúncio foi feito um dia após uma ONG e promotores federais solicitarem à Justiça argentina que ordene a prisão do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em uma causa de crimes contra a humanidade.
O MP venezuelano anunciou a nomeação de dois promotores especializados para tramitar mandados contra as autoridades argentinas, disse Saab em coletiva nesta quarta.
O governo da Argentina repudiou o pedido de ordem de prisão realizado pelo procurador-geral venezuelano e disse que “o caso mencionado foi resolvido pelo Poder Judiciário, um poder independente sobre o qual o Executivo não pode nem deve ter qualquer interferência, em conformidade com um acordo internacional.”
Venezuela fecha espaço aéreo para voos da Argentina, a quem acusa de ‘roubar’ Boeing; entenda a crise
Montagem de Javier Milei (à esq), presidente da Argentina, e Nicolás Maduro, presidente da Venezuela.
Reprodução/Leonardo Fernandez Viloria/Reuters
A nota do governo argentino também cutucou Maduro, dizendo que na Venezuela não há divisão de poderes nem a independência de juízes.
Venezuela e Argentina não mantêm relações, e Maduro e Milei costumam trocar críticas e insultos.
Saab também anunciou a abertura de uma investigação por crimes contra a humanidade no controle de protestos contra o governo Milei, que chamou de “genocídio”. “Decidimos nomear um procurador especializado em direitos humanos para que realize as investigações” contra Milei e Patricia.
Crise do avião
O motivo da briga entre Venezuela e Argentina é um Boeing 747 da Emtrasur, subsidária de carga da Conviasa, empresa aérea estatal venezuelana.
Em junho de 2022, a aeronave foi retida por autoridades argentinas ao aterrissar na cidade de Córdoba, na Argentina, levando um carregamento de peças automotivas do México. Autoridades do aeroporto atenderam a um pedido de confisco dos Estados Unidos, que afirmam que o avião tem ligação com as Forças Quds, o braço de elite da Guarda Revolucionária do Irã.
Segundo os EUA, o Boeing 747 foi comprado pela Emtrasur da Mahan Air, uma companhia aérea iraniana que é sancionada pelos EUA e que faz voos de apoio às Forças Quds.
A tripulação, que era composta por 14 venezuelanos e cinco iranianos, foi detida e posteriormente liberada, mas a aeronave permaneceu em solo argentino enquanto a Justiça do país deliberava sobre o caso.
Em fevereiro deste ano, uma decisão judicial entendeu que o voo da aeronave até Córdoba violou uma normativa norte-americana de controle de exportações e autorizou entregá-la a autoridades dos Estados Unidos, o que foi feito pelo governo de Javier Milei.
A apreensão irritou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que já vinha trocando acusações com o líder argentino, Javier Milei — as relações entre a Argentina e a Venezuela têm se deteriorado desde a chegada de Milei ao poder, em dezembro de 2023.

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