12 de janeiro de 2025

Prisão de Robinho gera debate sobre a violência sexual no esporte; especialistas destacam ambiente de poder e impunidade

Advogadas de mulheres vítimas de violência sexual dão panorama sobre o universo do futebol, predominantemente masculino. Segundo elas, a ‘cultura do estupro’ acaba por normalizar atos criminosos. Robinho foi preso pela Polícia Federal em Santos, no litoral de São Paulo
Reprodução e Fábio Pires/TV Tribuna
A prisão de Robinho em Santos (SP), na última quinta-feira (21), pelo crime de estupro coletivo contra uma albanesa em 2013, em Milão, na Itália, traz à tona novamente os casos de violência sexual contra mulheres envolvendo atores do mundo do esporte. Daniel Alves, condenado por estupro na Espanha, e o treinador Alexi Stival, o Cuca, que teve o caso de estupro anulado pela Justiça Suíça, estão constantemente nos noticiários e são temas de debate.
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O g1 ouviu advogadas que defendem mulheres vítimas de violência sexual para entender por que profissionais que atuam no meio esportivo têm se envolvido em escândalos dessa natureza: estupro, assédio e importunação sexual.
As advogadas Laura Cardoso, Carol Valentino e Ana Carolina Candido Alves à equipe de reportagem demonstraram encarar da mesma forma o tema. O primeiro ponto de consenso, em relação o que motivaria os casos está, segundo elas, na condição financeira favorável e contatos desses homens. As profissionais destacam o poder e a crença na impunidade.
Para Laura, a prisão de Robinho foi emblemática e uma vitória para todas as mulheres. O ex-jogador foi condenado a 9 anos de prisão pela Justiça italiana em 2022, mas vai cumprir a pena no Brasil após a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça ter decido pelo cumprimento da pena no país, que não extradita seus cidadãos. A defesa dele, que está na Penitenciária de Tremembé (SP), entrou com pedido de revisão do habeas corpus no STF.
“É um suspiro de alívio diante de tudo que a gente vê na realidade. E de entender que, sim, o judiciário pode funcionar”, apontou Laura.
Robinho durante audiência de custódia em Santos, antes de ser transferido para a Penitenciária em Tremembé
Jornal Nacional/Reprodução
A advogada explicou que parte da sociedade tem em mente uma ideia do que seria considerado violência sexual. Assim, outras situações que não se enquadram nesse “padrão” acabam sendo normalizadas, o que ajuda a perpetuar a “cultura do estupro”.
Laura compreende que jogadores de futebol, assim como atletas de outras modalidades, costumam ter uma ascensão social muito rápida, o que pode mexer com o psicológico deles. A também advogada Carol Valentino, segue a mesma linha de raciocínio e entende que existe uma cobrança social grande para a pratica da ostentação.
Ela cita como exemplo as festas rodeadas de bens caros e mulheres, o que reforça a ideia de enxergá-las como propriedade. “Acaba dando uma interpretação de que o dinheiro dá liberdade para ele fazer o que ele quiser. E isso se confunde muito com essa questão da cultura do estupro, da deslegitimização, por exemplo, de mulheres que trabalham com a prostituição”, disse Carol.
Gravações do caso Robinho: “A mulher estava completamente bêbada”
Carol citou um áudio de Robinho (presente no vídeo acima) para reforçar o posicionamento sobre a postura desses atletas. O trecho destacado por ela, de uma ligação grampeada do ex-jogador, foi usado pela Justiça italiana durante o processo de investigação, que levou à condenação.
“No próprio áudio do Robinho, ele diz: ‘Imagina, fazer com que ela faça um sexo oral em mim não é transar. Isso não é estupro’. Em nenhum momento ele nega as questões que ele teria feito com ela, de cunho sexual. Ele diz que ele não estuprou. Só que ele não entende que isso é estupro”.
Outros casos
Julgamento de Daniel Alves
Alberto Estevez/Reuters
Robinho não é primeiro esportista a se envolver em crimes sexuais, dentro e fora de território brasileiro. Como citado anteriormente, Daniel Alves foi condenado a quatro anos e meio de prisão por estuprar uma mulher na Espanha.
O jogador teve a liberdade provisória autorizada pela Justiça espanhola para aguardar em liberdade o julgamento de recurso à condenação, mas não havia depositado a fiança de 1 milhão de euros para deixar a prisão.
Cuca
Jornal Nacional/Reprodução
O treinador Alexi Stival, o Cuca, que está no comando do Athletico-PR, foi condenado por ter estuprado, à época, uma adolescente de 13 anos durante uma excursão do Grêmio à Suíça, em 1987. O Tribunal de Berna, no entanto, anulou a sentença que havia condenado o técnico.
Ele não foi inocentado, o Ministério Público daquele país alegou que o crime estava prescrito e, por não poder ter um novo julgamento, se deu a anulação da pena e extinção do processo.
Jogadores estrangeiros
Denúncias contra jogadores estrangeiros mostram que os brasileiros não são os únicos a cometerem violência contra mulheres. O galês Ched Evans, por exemplo, foi condenado a cinco anos de prisão em 2012 por violentar uma mulher embriagada.
Em 2016, outro esportista, o ex-futebolista inglês Adam Johnson, foi condenado a seis anos de prisão por abuso sexual de menor. Esses são apenas alguns casos que repercutiram na mídia.
Escândalos estão mais frequentes?
Para a advogada Ana Carolina Candido Alves, alguns fatores ajudam na visibilidade desse tipo de caso, que acaba repercutindo na mídia.
“Sempre existiu. Hoje, a pressão da mídia, somada com a coragem dessas mulheres de virem falar de suas dores, está refletindo nas instituições e evitando a violência institucional. Falo isso em casos que se assemelham a famosos, pois, quando se trata de [predadores] anônimos a violência constitucional continua prevalecendo”, opinou.
Ela ressaltou que as vítimas são revitimizadas “da forma mais cruel e imaginável” em casos de violência sexual. Todas precisam de apoio de amigos e familiares para passarem por essa situação, mas em casos de repercussão nacional é fundamental ter uma assessoria jurídica para ajudar nos posicionamentos nos meios de comunicação.
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