21 de setembro de 2024

Parecer confronta versão de PMs sobre morte de jovem no Jacarezinho; família pede reanálise do caso na Justiça

Documento elaborado por defensores e peritos aponta falhas em investigação em perícia sobre disparo de fuzil que atingiu Jonatan de Almeida em abril de 2022. MP arquivou procedimento alegando que policiais agiram em legítima defesa durante operação. Um parecer técnico foi apresentado à Justiça do Rio de Janeiro para tentar impedir que o processo sobre a morte de um jovem na comunidade do Jacarezinho, na Zona Norte da cidade, seja arquivado.
O documento, obtido pelo g1 e pela GloboNews confronta a dinâmica apresentada até então sobre o que teria motivado o disparo de fuzil que atingiu Jonatan Ribeiro de Almeida, de 18 anos, em 25 de abril de 2022.
O tiro, de acordo com relatos, foi de um policial militar do Batalhão de Choque a PM do Rio. Em seu depoimento, o policial alegou legítima defesa.
O questionamento na Justiça faz parte do trabalho desenvolvido pelo Projeto Mirante, iniciativa apoiada pela Secretaria de Acesso à Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública, com a participação de integrantes das defensorias públicas de RJ e de São Paulo, junto com peritos independentes, para rever casos de violência policial.
De acordo com três policiais do Batalhão de Choque que faziam a incursão pela favela, o jovem vendia drogas no local e reagiu, após uma abordagem, apontando uma arma contra eles.
Essa atitude, segundo os PMs, motivou a reação por parte deles.
Exame do IML mostrando o ferimento à bala (vermelho) e lesões em azul sofridas por Jonatan Almeida
Reprodução
A investigação, instaurada após a morte do adolescente, foi arquivada pelo MP. A justificativa: os policiais teriam agido em legítima defesa, atribuindo a Jonatan um simulacro (arma falsa) e uma mochila com porções de maconha e cocaína.
Já os integrantes do Mirante, entre eles, defensores públicos e o perito criminal Cássio Thyone, responsável pela revisão do caso, afirmam que Jonatan foi executado e que não há como provar que ele, em algum momento, esteve armado e/ou que não vendia drogas no local.
O parecer indica ainda que o jovem foi baleado pelas costas, quando possivelmente tentava fugir dos policiais.
Com o novo parecer, a família de Jonatan quer evitar que a investigação seja arquivada e pede que os policiais sejam julgados por homicídio.
PMs deram duas versões sobre o caso
Segundo os PMs, três policiais com fuzil caminhavam pela comunidade e passaram pelo túnel (passagem abaixo da linha do trem). Ao ultrapassarem o túnel, avistam algumas pessoas, entre elas, Jonatan. Os PMs alegam que o rapaz estava com uma sacola na mão conversando com um homem em uma moto. Os agentes dizem que, então, abordaram Jonantan.
Em um primeiro relato, disseram que Jonatan levou a mão na cintura e puxou uma arma. Um PM, então, atira de fuzil.
Em um segundo relato dos policiais, Jonatan e homem na moto teriam tentado fugir após a abordagem. Na perseguição, Jonatan puxou a arma enquanto corria, se virou e apontou contra os policiais a 10 metros de distância. Um PM, então, atirou de fuzil contra ele.
Jonatan Ribeiro de Almeida, que morreu na favela do Jacarezinho em abril de 2022.
Reprodução
O que diz a análise do Mirante
Segundo a versão do grupo, três policiais com fuzil caminhavam pela comunidade e passaram pelo túnel (passagem abaixo da linha do trem). Ao passarem pelo local, avistam algumas pessoas, entre elas, Jonatan. Um PM abordou Jonatan, que fogiu correndo. O PM atira de fuzil contra Jonatan.
O rapaz teria sido atingido nas costas enquanto se deslocava (bala entra pela região lombar direita) e sai pelo tórax (região mamária, hemitórax esquerdo).
Ainda segundo a versão, Jonatan caiu ferido, girando para o seu lado direito, momento em que as escoriações ocorrem na região lombar direita e no braço do mesmo lado. Jonatan foi socorrido por populares e levado até a UPA de Manguinhos, onde deu entrada já morto, em decorrência da gravidade das lesões.
O que diz a PM
A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar disse que a corporação ainda não foi notificada acerca dessa nova análise pela Justiça. Cabe informar que, assim que for comunicada oficialmente sobre o caso, tomará as medidas determinadas pelo Judiciário.
Até o momento, o Ministério Público não se manifestou sobre o caso.

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