Moradores de Ribeirão Preto, SP, inovam na hora de escolher penitência e chamam atenção por escolhas diferentes. Tradição chama devotos para a prática de jejum, caridade e oração. Catedral Metropolitana de São Sebastião no Centro de Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
Das penitências mais tradicionais durante a Quaresma, cortar a carne vermelha e a bebida alcóolica e não comer doce por 40 dias são as mais comuns.
Mas, de uns tempos para cá, muitos fiéis têm inovado e, em muitos casos, usado o período para dar aquele empurrãozinho em algo que sempre quiseram fazer, mas que nunca saiu do papel.
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Para o padre Anderson Xavier Lopes, que atua há 11 anos na Paróquia Nossa Senhora dos Canaviais, na zona Norte de Ribeirão Preto (SP), as penitências estão cada vez mais populares por conta da possibilidade de compartilhamento nas redes sociais, o que, de certa forma, acaba engajando mais gente à prática.
“A partir do momento que, por exemplo, eu deixo de comer algo durante 40 dias, provo pra mim mesmo que posso controlar minhas atitudes”.
É justamente este pensamento de controlar as atitudes que fez a analista de dados Amanda Jordão, de 26 anos, de Sertãozinho (SP), decidir que este era o momento de reduzir as peças do guarda-roupa.
Ela, que está acostumada a fazer Quaresma, viu na chegada do período a hora certa para radicalizar e deletou todos os aplicativos de compras do celular.
Amanda está confiante de que vai conseguir chegar ao final dos 40 dias, que terminam com o Domingo de Ramos, neste domingo (24), sem comprar absolutamente nada. (veja mais abaixo explicação sobre o assunto)
“Acho que vou conseguir cumprir. Na verdade, minha ideia é ficar mais tempo do que a Quaresma. Só que imagino que, quando chegar o frio, vou querer comprar por questões de necessidade mesmo. Minha ideia é diminuir um pouco esse tipo de consumo”.
Amanda Jordão, de Sertãozinho, SP, decidiu ficar sem comprar roupas durante a quaresma
Arquivo Pessoal
A medida drástica, diz Amanda, foi tomada após abrir o guarda-roupa um dia e ver que não tinha mais lugar para novas peças.
“Já fiz promessa de ficar sem tomar refrigerante, fazer doação de alimento para orfanato quando passei na faculdade. Estou com uma promessa de ficar sem tomar cerveja até me formar. Mas um certo dia, abri meu guarda-roupa e ele estava explodindo, não tinha mais onde colocar roupa”.
Acordar bem antes do galo cantar
Comerciante em Ribeirão Preto, Marcos Silva é frequentador assíduo da igreja e vê na Quaresma o momento de se conectar espiritualmente e de fortalecer a fé.
Para isso, ele tem uma lista de penitências que vai desde fazer a comunhão diária e abstinência de doce até acordar às 4h da manhã às sextas-feiras, a promessa mais difícil, segundo o comerciante.
“É uma penitência mesmo, minha rotina é acordar 6h30. Para a missa penitencial [que acontece às sextas-feiras], tenho de acordar às 4h. Somos três [na família], até todos se arrumarem pra sair”.
Comerciante de Ribeirão Preto, SP, acorda às 4h para participar de missa durante a quaresma
Arquivo Pessoal
Há mais de dez anos fazendo jejum durante a Quaresma, Silva vê o período como um momento de reflexão e preparo para viver a morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Para ele, são 40 dias de abstinências e tentações, mas que, ao final, valem a pena e ajudam na união da família.
“A gente tem um costume totalmente diferente, de acordar um pouco mais tarde para começar as atividades do filho, mas tem sido muito gratificante. É um momento de oração, de estarmos juntos”.
Momento de reflexão
Tradicional na Igreja Católica, a Quaresma faz referência ao trecho bíblico onde Jesus Cristo passou 40 dias no deserto, em meio a inúmeras tentações.
A passagem, segundo o padre Anderson, é uma das mais importantes para a igreja.
“Os 40 dias, contando a partir da Quarta-Feira de Cinzas, terminam no Domingo de Ramos e aí começamos a Semana Santa. Entretanto, as penitências e o senso comum levam até a quinta-feira da Semana Santa, quando se inicia o Tríduo Pascal”.
No período, fiéis são convidados a praticar a penitência, o jejum e a oração como uma preparação espiritual para a Páscoa, data que celebra a ressurreição de Cristo.
“Quando Jesus passa esses 40 dias no deserto, ele é tentado pelo diabo e nessas coisas do ser, do ter, do poder. Então, esses 40 dias remetem à isso e a questão da penitência. E tem mais a questão da caridade, da escolha, da oração”, explica padre Anderson.
Segundo o pároco, o período, que começa na Quarta-Feira de Cinzas, pós-carnaval, e termina no Domingo de Ramos, é um momento de reflexão, renovação e esperança.
“Se posso deixar de comer algo, também posso voltar a conversar com alguém que fez algo que eu não gostei”.
Além das promessas, a procura pela confissão também cresce no período, segundo o padre. Em especial, na Sexta-Feira Santa.
“Neste período a gente percebe essa busca, esse aprofundamento da fé e da espiritualidade, procurar mais ficar em silêncio, ler mais a bíblia. A gente percebe essa busca de interiorização de cada um”.
*Sob a supervisão de Flávia Santucci
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