Segundo a denúncia e biólogos entrevistados pelo RJ2, os animais são vendidos para o consumo da carne e para serem domesticados. Caça ocorre nas cinco lagoas: Marapendi, Taxas, Tijuca, Jacarepaguá e Camorim. O território é ocupado pela espécie Jacaré do Papo Amarelo. Moradores denunciam caça predatória de jacarés em lagoas da Zona Oeste do Rio
Moradores da Zona Oeste denunciaram a presença da caça predatória de jacarés nas cinco lagoas que fazem parte do Sistema Lagunar de Jacarepaguá. Os animais são capturados com vida e vão para o comércio ilegal.
De acordo com a denúncia, os animais são vendidos para o consumo da carne e para serem domesticados. Em alguns casos, os animais são negociados com traficantes e outros chefes de facções criminosas.
A caça ilegal acontece nas cinco lagoas da região: Marapendi, Taxas, Tijuca, Jacarepaguá e Camorim. O território é ocupado pela espécie Jacaré do Papo Amarelo desde o século passado.
Construções irregulares às margens da Lagoa de Jacarepaguá
Divulgação
Os animais são capturados por meio de armadilhas no fundo das lagoas. A denúncia vem de moradores da comunidade Rio das Pedras, favela que cresceu nas margens de uma das lagoas.
“As armadilhas são feitas de garateias, amarradas em cordas ou em garrafas pets, com gancho e pelanca, bucho de aves que têm na redondeza ou porcos. E aí eles prendem o jacaré. O jacaré fica preso quando morde, e aí depois eles vão e retiram os filhotes”, revelou.
“Eles estão fazendo garateias no deck de Rio das Pedras, onde tem um ferro velho, e estão capturando filhotes para criar em caixas d´água nos prédios abandonados, no fundo lá de Rio das Pedras”, comentou.
Churrasco ou animal de estimação
O objetivo dos caçadores é vender os animais e pra isso eles capturam os filhotes e fazem um trabalho para engordar o animal. Segundo a denúncia, os compradores dos jacarés pegam os animais para o consumo ou para transformá-los em animal de estimação.
Os compradores também estão cometendo crime. Mas alguns desses, são chefes de grandes quadrilhas que dominam regiões controladas pelo tráfico.
“São vendidos também nas feiras de Rio das Pedras ou do Gardênia. E clandestino, fica guardado dentro dos carros, das Kombis. E quando alguém pergunta, eles levam no canto e vendem. Ou são vendidos os filhotes para algumas comunidades que são amigas aqui do Rio das Pedras”, completou.
Biólogos cobram fiscalização
Os biólogos Ricardo Freitas e Mário Moscatélli, disseram ao RJ2 que a caça predatória traz prejuízos para todos da região. Segundo eles, a extinção da espécie pode provocar um desequilíbrio ecológico.
“Estamos falando de uma espécie que é predador topo de cadeia. E como predador topo de cadeia ele é uma espécie regulatória (…) uma vez que a espécie diminui sua população e chega a um nível de extinção ou chega a ser extinta, você leva a todo um colapso de todo um resto de comunidade biológica, levando à extinção de várias outras espécies, que são importantes para o equilíbrio ambiental”
“Uma vez que você perde a diversidade de predadores que se alimentam, por exemplo de larvas de mosquito, larvas, dos roedores que são nocivos à saúde humana, você prolifera esses vetores e prolifera as doenças”, completou Freitas.
Para Mário Moscatelli, esse é um problema de saúde pública. O biólogo também cobra maior fiscalização dos agentes de segurança na região.
“É um problema de saúde pública. Esses animais, apesar de resistirem bravamente nesses ecossistemas ainda degradados, toda carne deles tá contaminada. (…) Você vai comer essa carne e vai tá ingerindo as toxinas, que são acumulativas”, explicou Moscatelli.
“O que a gente precisa de fato é política de estado para gerenciar a população desses animais, que são ativos econômicos ambientais importantes para o ecoturismo. A gente precisa copiar coisas boas que acontecem lá fora, que proporcionam emprego, impostos, série de atividades que dependem da existência desses animais”, reforçou o biólogo.
O que diz a prefeitura
Em nota, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Clima afirmou que não recebeu denúncias sobre esse tipo de crime, este ano. O órgão informou que tem uma coordenadoria dedicada à fiscalização de caça e captura de animais silvestres e planeja intensificar as ações na região.