25 de setembro de 2024

Mãe de menina encontrada morta em contêiner de lixo no RS vira ré por homicídio doloso qualificado

Julgamento de Carla Carolina Abreu de Souza ocorrerá no Tribunal do Júri caso for confirmada a pronúncia. Pai da vítima, Matheus Ferreira, foi denunciado por abandono material. Corpo de Kerollyn Souza Ferreira, de 9 anos, foi encontrado em Guaíba. Kerollyn Souza Ferreira, de nove anos, encontrada morta em um contêiner de lixo em Guaíba
Reprodução
A mãe de Kerollyn Souza Ferreira, menina de 9 anos encontrada morta em um contêiner de lixo de Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre, foi denunciada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) por homicídio doloso qualificado, ou seja, com a intenção de matar e com circunstâncias agravantes.
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Caso for confirmada a pronúncia, o julgamento de Carla Carolina Abreu de Souza ocorrerá no Tribunal do Júri.
A defesa diz que “as imputações constantes na acusação nada mais são do que uma manobra acusatória, para levar a acusada a júri popular, aproveitando-se da comoção social e a repercussão dada em sede investigativa” (confira a nota completa abaixo).
O promotor Rafael de Lima Riccardi afirmou que a mãe não apenas falhou em proteger a filha, mas também criou risco à vida da menina ao administrar medicamentos de forma inadequada. Apesar do pedido de prisão preventiva, a mulher foi colocada sob monitoramento eletrônico, decisão que o MPRS vai recorrer.
Carla também foi denunciada por maus-tratos a Kerollyn e a outros três filhos.
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“A morte de Kerollyn é consequência direta da conduta da mãe, que corriqueiramente permitia que a filha transitasse pelas ruas sem qualquer supervisão, inclusive na lixeira em que foi encontrada, somado ao fato de que, naquela mesma noite, ministrou medicação sedativa não prescrita e de consequências imprevistas à criança”, diz Riccardi.
Por sua vez, o pai da vítima, Matheus Ferreira, foi denunciado por abandono material, sem prover suporte à filha mesmo diante das intervenções da rede de proteção e do desejo da criança de retomar o contato com ele. Ele também poderá ser julgado pelo Tribunal do Júri por crimes conexos.
A reportagem tentou contato com a defesa de Ferreira, mas não obteve um retorno até a última atualização desta matéria.
“Concluímos que esse pai nunca auxiliou e, pior, sempre que chamado ele sequer mencionou em auxiliar a Kerollyn nos momentos difíceis, então ele vai ter que responder também por esse abandono”, afirma o coordenador do Centro de Apoio Operacional do Júri (CaoJúri), promotor de Justiça Marcelo Tubino.
Relembre o caso
Menina de 9 anos é encontrada morta em Guaíba
O corpo de Kerollyn foi encontrado por um reciclador dentro de um contêiner de lixo no bairro Cohab, em Guaíba, Região Metropolitana de Porto Alegre, de acordo com a Brigada Militar (BM). Na época, não foram encontrados sinais de violência aparentes no corpo da vítima, conforme a perícia.
A mãe da menina, Carla Carolina Abreu Souza, foi presa temporariamente em 10 de agosto, um dia após o corpo ter sido encontrado. Segundo a Polícia Civil, ela é suspeita de responsabilidade sobre as circunstâncias que levaram à morte da filha.
Em depoimento à polícia, Carla teria dito que deu um sedativo sem prescrição médica à menina horas antes de Kerollyn ter sido encontrada morta dentro do contêiner de lixo. De acordo com a investigação, a criança teria ingerido um grama de clonazepam, além de ter recebido a medicação risperidona (com prescrição).
A investigada afirmou em depoimento que também teria ingerido clonazepam e que tanto ela quanto a filha foram dormir momentos depois, segundo a Polícia Civil. A suspeita ainda teria dito que acordou por volta de 7h, viu que a menina não estava em casa, tomou mais medicamento e voltou a dormir.
A mulher também teria afirmado à polícia, de acordo com a investigação, que já agrediu a filha com uma escumadeira – espécie de colher de metal. Nesse episódio, Kerollyn chegou a ser levada para o hospital por uma lesão na cabeça, supostamente por consequência de um tombo de bicicleta, mas que, após investigação, apurou-se ter sido causada pela mãe.
Uma vizinha, mãe de um colega de escola de Kerollyn, afirmou, em entrevista à RBS TV, ter supostamente acionado o Conselho Tutelar “mais de 20 vezes” para falar sobre a situação da criança. Segundo a dona de casa Fernanda Cardoso, a menina pedia carinho e comida aos vizinhos.
“Eu liguei mais de 20 vezes, eu pedi por favor para eles resolverem. Eu mandava foto da criança, mandava tudo. A criança na chuva pedindo. Ela vivia na minha porta pedindo. Pedia água, pedia abraço, pedia beijo”, relatou.
Em nota, o Conselho Tutelar de Guaíba alegou que estava “acompanhando e colaborando com as autoridades competentes”, mas que não poderia fornecer detalhes adicionais sobre o andamento das investigações.
Ao menos outros três vizinhos denunciaram o caso ao Conselho Tutelar do município. Segundo eles, a mãe gritava e ofendia Kerollyn frequentemente. Uma das mulheres afirma ter ouvido um pedido de socorro, que seria da menina, ao passar pela frente da residência da família. Os relatos dão conta de que a criança ainda cuidava de irmãos menores.
O pai de Kerollyn, Matheus Ferreira, disse ter ficado sabendo através de vizinhos que a filha supostamente dormia na rua.
“A guria dormia na rua, a guria comia comida do lixo, os vizinhos me falaram. Era uma situação que eu não estava sabendo, não estava por dentro do que estava acontecendo”, afirma Matheus.
Nota da defesa
A defesa de Carla Carolina Abreu Souza não demonstra surpresa com a denúncia oferecida pelo Ministério Público. As imputações constantes na acusação nada mais são do que uma manobra acusatória, para levar a acusada a júri popular, aproveitando-se da comoção social e a repercussão dada em sede investigativa. Concluída a investigação, constatou-se que não haviam elementos de prova suficientes para indiciar Carla pela morte de Kerollyn. E nada alterou-se desde o indiciamento. A defesa acredita na inocência de Carla, e seguirá efetuando seu trabalho de forma ética e transparente, com a certeza de que demonstrará se tratar essa acusação uma das maiores injustiças do sistema investigativo gaúcho.
Thaís Constantin
Wellyton Noroefé
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