25 de setembro de 2024

Após absolvição do único suspeito, estupros e homicídios cometidos há 18 anos em MG podem não ter culpado preso

Eurípedes Martins foi absolvido após 18 anos como o único suspeito de ser o “Maníaco de Araguari”. Sem outros suspeitos dos estupros e mortes de 5 mulheres, entre 2004 e 2006, os crimes podem prescrever. Eurípedes Martins durante um dos julgamentos
Reprodução/TV Integração
Entre 2004 e 2006, uma série de assassinatos assustaram moradores do Triângulo Mineiro. No período, um criminoso foi chamado de “Maníaco de Araguari” após cinco vítimas, todas mulheres entre 13 e 47 anos, serem vítimas de estupro e homicídio.
Desde o início, a investigação apontou o carroceiro Eurípedes Martins, o Oripão, como o único suspeito dos crimes. No entanto, 18 anos depois do último crime, o homem de 58 anos foi absolvido pelos últimos crimes de furto, estupro e homicídio.
Só que, agora, vinte anos depois da morte da primeira vítima e após a absolvição de Eurípedes, a autoria dos crimes continua um mistério sem suspeitos, podendo prescrever sem que o verdadeiro culpado seja preso.
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Prescrição
A prescrição de um crime ocorre quando a possibilidade de punir o autor pode ser extinta após um determinado período de tempo. No Brasil, os tempos de prescrição do homicídio variam entre 20 e 30 anos, de acordo com a pena prevista para o crime, que muda de acordo com as circunstâncias.
À TV Integração, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) informou que, até o momento, não há informações relacionadas a novas investigações.
Para o promotor Genney Handro, um dos quatro promotores a atuarem no caso em Uberlândia em 2024, ocorreram falhas processuais nas investigações do caso.
“Foi extremamente atabalhoada. A prova unânime, desde o início, seria a confissão do senhor Eurípedes e em uma reconstituição que foi feita com base nessa confissão. Confissão esta que foi colhida também em um dia de domingo e de maneira bastante suspeita. Ela estava totalmente destoante do próprio laudo pericial da vítima”, disse ele, à TV Integração.
Ele explicou que, mesmo que o autor seja encontrado, o risco de não ser responsabilizado é alto.
“Um crime ocorrido, por exemplo, em 2004, já está prescrito. É até um tanto incompreensível que um processo se arraste por tanto tempo”, afirmou.
“Infelizmente, isso é muito triste. São crimes gravíssimos, horríveis contra mulheres jovens… É algo que o estado tinha que ter trabalhado melhor para dar uma resposta à sociedade”, opinou o promotor.
Edma Maria Guedes Batista, que morreu aos 41 anos, era a mãe de Sirlene Maria Batista e saiu de casa para entregar o convite de casamento da filha para uma amiga. Sirlene afirmou que, desde a morte da mãe, sua vida mudou completamente.
“Hoje sou uma pessoa completamente diferente do que eu era, muito abalada. Minha mãe era como eu, sorridente, feliz e alegre. Gostava de ajudar o próximo, não tinha dó. Mas agora estamos nessa, sem saber quem realmente foi o culpado.”
Um único acusado
De acordo com o delegado Wagner Pinto de Souza, da Divisão de Crimes Contra a Vida, que conduzia o caso à época, o modus operandi do responsável pelas mortes era sempre o mesmo. Ele vigiava as vítimas enquanto andava de bicicleta pela cidade e aguardava a oportunidade de convidá-las para um passeio, então as espancava e as estuprava até a morte.
Eurípedes se tornou um suspeito após a Polícia Civil identificar as características físicas dele a partir de um retrato falado feito por uma pessoa que teria fugido após ser abordada. Ele foi preso na época, mas solto em 2007 e, desde então, aguardava ao julgamento em liberdade.
Atualmente, Eurípedes Martins vive em um lar de acolhimento em Araguari
TV Integração/Reprodução
As absolvições
Os julgamentos começaram apenas em 2019, inicialmente em Araguari, quando Oripão foi absolvido do homicídio da adolescente Lara Rodrigues Caetano, de 13 anos, e morta em agosto de 2004. Pelo mesmo número de votos, o carroceiro foi absolvido da acusação de ocultação de cadáver.
À época, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) apresentou a confissão feita por ele ao ser preso em 2006. Segundo a defesa, contudo, ele foi coagido na época da prisão a confessar.
A defesa alegou, ainda, que por conta de problemas físicos, Eurípedes não teria condições de cometer o crime.
Após o julgamento, o MPMG protocolou recurso, porém, em 2022, a absolvição de Eurípedes foi mantida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).
Os julgamentos dos outros crimes foram transferidos para a cidade vizinha, Uberlândia, por meio de um processo de desaforamento, onde o julgamento de um crime passa para outra comarca, em vez de ser realizado na comarca de origem. A justificativa para a medida foi de garantia da idoneidade do julgamento, a segurança do acusado e o interesse público.
“Os julgamentos vieram parar em Uberlândia após um pedido do Ministério Público de Araguari. Tinha um entendimento na comunidade local de que o senhor Eurípedes não era o autor daqueles crimes”, contou o promotor Genney Handro.
No primeiro caso analisado em Uberlândia, o de Amanda Aparecida de Sousa, também de 13 anos, os promotores pediram a absolvição por falta de provas. Nos outros três, relativos às mortes de Rejane Maria Fonseca, Michele Monteiro Silva e Edma Maria Guedes Batista, ocorreu situação semelhante: a absolvição.
Falta de provas
Segundo a juíza Danielle Louise Rutkowski Dias, a denúncia do caso foi considerada improcedente. Ela também concedeu o direito ao réu de aguardar quaisquer recursos em liberdade.
“Submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri nesta data, o Conselho de Sentença afirmou, por maioria, a materialidade de todos os delitos, e em seguida acatou a tese sustentada em plenário de ausência de autoria”, disse.
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As mortes
Segundo a investigação da Polícia Civil, entre 2004 e 2006 vários restos mortais como crânios e arcadas dentárias com sinais de violência foram encontrados em várias partes da cidade. À época, aulas noturnas foram paralisadas como medida de proteção.
Eurípedes foi apontado como suspeito de cometer cinco assassinatos, sendo que as vítimas tinham entre 13 e 41 anos.
Lara Rodrigues Caetano, 13 anos;
Amanda Aparecida De Souza, 13 anos;
Michele Monteiro Da Silva, 24 anos;
Rejane Maria Fonseca, 27 anos;
Edma Maria Guedes Batista, 41 anos.
Ele foi preso após a Polícia Civil identificar as características físicas dele a partir de um retrato falado feito por uma pessoa que teria fugido após ser abordada pelo então suspeito. Na casa dele foi encontrada uma calcinha, que foi identificada pela filha de uma desaparecida.
Após ser preso, Eurípedes chegou a confessar os crimes, mas passou a negá-los afirmando que teria sido influenciado para assumir a responsabilidade pelos assassinatos.
Com absolvição do único suspeito, crimes em Araguari continuam sem solução
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