25 de setembro de 2024

Retratos da Região: Pariquera-Açu, SP, terá mais uma disputa eleitoral sem mulheres

Cidade nunca teve prefeita e, neste ano, não tem sequer uma candidata à prefeitura. Pariquera-Açu é a capital das plantas ornamentais no interior de São Paulo
Carlos Abelha/TV Tribuna
Pariquera-Açu, no interior de São Paulo, é referência em saúde no Vale do Ribeira por abrigar unidades estaduais, mas a área ainda precisa de melhorias, segundo a população. Os moradores também sentem falta de infraestrutura e investimento em agricultura. Pariquera-Açu nunca teve uma prefeita e, neste ano, não há sequer uma candidata à prefeitura. Disputam dois antigos candidatos, sendo que um é o atual prefeito.
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Pariquera-açu é considerada como a capital da saúde do Vale do Ribeira, pois abriga as principais unidades de saúde da região: o Hospital Regional e o Ambulatório Médico de Especialidades (AME). As duas estruturas são do Governo do Estado e atendem moradores de diferentes cidades.
O movimento de pacientes e familiares impacta a economia, seja com a geração de empregos no transporte ou no comércio. Mária Cícera Cassiano dos Santos é um exemplo. Ela mora em Juquiá, mas costuma ir até Pariquera em consultas no AME e, quando está na cidade, utiliza o comércio por lá.
“Se venho cedo, tomo um café. Na hora do almoço, a gente almoça aqui”, explicou a dona de casa, em entrevista ao repórter Rodrigo Nardelli, da TV Tribuna, afiliada da Globo, na série de reportagens Retratos da Região.
A cozinheira Juliana dos Santos Torquato trabalha em uma lanchonete próxima das unidades e, por isso, vê de perto o impacto delas na clientela. “Acho que 90% dos nossos clientes são pessoas de fora. O pessoal que vem de fora fazer consulta no AME ou visitar alguém no hospital acaba consumindo e gerando movimento para nós”, explicou.
Pariquera-Açu (SP) abriga o Hospital Regional Dr. Leopoldo Bevilacqua
Carlos Abelha/TV Tribuna
Devido aos dois postos de saúde estaduais, o município tem uma média de cinco médicos para cada mil habitantes, número maior do que a média do Estado. Porém, a população sente falta de maior investimento no atendimento primário.
“Se você chegar a um profissional, um especialista que você precisa, tudo certo. Mas para chegar lá, precisa do primeiro atendimento no Pronto-Socorro”, disse a aposentada Adete Domingues. Ela contou que teve uma experiência ruim ao ser socorrida após cair de uma escada: “Na mesma maca que eu fui, eu voltei”.
Infraestrutura
A confeiteira Silvia da Costa tem um filho com deficiência e sonha com uma série de melhorias na cidade para que ele tenha mais qualidade de vida. De acordo com ela, as calçadas são desiguais, prejudicando o dia a dia. “É um sofrimento para os cadeirantes, para quem usa muletas, e pessoas com qualquer deficiência, uma órtese que seja. É muito complicado”, lamentou a mulher.
Ainda segundo Silvia, em Pariquera-Açu falta um centro de compras e opções de lazer. “A gente tem que fazer compras em Registro, tem que procurar diversão, por exemplo, em Cajati. A gente não tem nada, um lugar de lazer para as crianças”, disse.
A confeiteira diz que os parquinhos da cidade não são acessíveis para crianças com deficiência. “Uma criança deficiente não tem oportunidade de ir lá brincar. Se ela for, vai ficar só olhando”, afirmou.
Emprego
De acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pariquera-Açu tem mais de 19 mil moradores. O número representa um aumento de quase 5% na comparação com 2010.
A maioria dos empregos está no comércio (13,4%), na administração pública (10,4%) e em atividades na área da saúde (5,5%). Porém, Silvia acredita que os jovens da cidade carecem de oportunidades para o primeiro trabalho.
“Os adolescentes vão para ETEC [Escola Técnica Estadual], fazem cursos, mas eles terão que sair daqui porque não tem uma oportunidade de emprego. Até tem, mas pouca”, relatou a confeiteira.
Imigrantes
Uma característica curiosa de Pariquera-Açu é a presença de imigrantes na construção do município. Antigamente, os estrangeiros chegavam a Cananéia ou a Iguape e precisavam ir até Eldorado. Na época, as opções eram subir pelo Rio Ribeira de Iguape ou fazer o caminho a pé ou cavalgando.
A viagem durava dias e, como Pariquera-Açu ficava bem no meio do caminho, foi construída uma pousada. Tempos depois, um povoado se formou. Em 1854, o governo nomeou funcionários para a administração de um núcleo de desenvolvimento agrícola justamente na região, criando várias colônias.
Cultivo de plantas
Pariquera também é a capital das plantas ornamentais, mas essa característica está um pouco mais escondida, pois as plantas ficam na área rural da cidade. Jéssica Cristina Farias Gomes é produtora rural e diz que o município tem uma variedade enorme de espécies.
Ela trabalha em um sítio da família do marido. Antigamente, o local produzia bananas, mas nos últimos anos, o investimento foi em plantas ornamentais. “A vida aqui é maravilhosa. Aqui a gente respira ar puro, com as plantas então, é terapia”, disse a produtora.
Cultivo de plantas ornamentais é comum em Pariquera-Açu (SP)
Carlos Abelha/TV Tribuna
Segundo Jéssica, ela trabalhou grande parte da vida em locais fechados, como escritórios, até revolver mudar de profissão. “Com meu esposo e toda a família, aprendi a mexer na terra. Troquei e foi a melhor troca, a melhor possível”, afirmou.
A produtora explicou que muitos moradores de Pariquera-Açu trabalham com o cultivo de plantas ornamentais e, por isso, o número de quem deixa os escritórios pelo campo está aumentando. “Não é a coisa mais fácil do mundo, é logico, tem seus desafios mexer com as plantas, mas é muito gratificante você plantar, você mexer, cuidar daquela terra, planta e vê-las crescendo”.
De acordo com ela, as plantas são enviadas para todo o país. No entanto, a relevância poderia ser ainda maior e mais lucrativa para o município. “Espero ficar igual Holambra (SP), principalmente na parte de cooperativismo”, afirmou a mulher, dizendo que a cidade tem muito potencial.
“Falta união das pessoas. O poder público mesmo ir conversar com os produtores, ajudar, ver o que eles precisam, porque a economia vai girar muito mais na cidade se conversar com todo mundo”, finalizou Jéssica, dizendo que crê em dias melhores.
Eleições
Desde que Pariquera-Açu foi emancipada em 1953, a cidade nunca teve uma mulher à frente da prefeitura e o cenário continuará o mesmo nos próximos anos. Isso porque não há sequer uma candidata a prefeita do município na eleição deste ano.
Por outro lado, os dois homens na disputa pela administração municipal também já foram oponentes em 2020. Mario Preto (MDB) e Wagner Costa (PL) foram os candidatos mais votados entre os quatro disponíveis na última eleição municipal. Neste ano, eles são os únicos na corrida eleitoral.
Wagner é o atual prefeito de Pariquera-Açu e pretende ser reeleito com o mesmo vice Fábio Carravieri (Republicanos). Enquanto isso, Mario mudou o candidato a vice-prefeito para tentar vencer neste ano, agora está ao lado de Mauro Trianoski (União Brasil).
Dos dez vereadores atuais da cidade, somente dois não buscam a reeleição. Os outros oito concorrem com mais 87 candidatos, sendo um deles considerado inapto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Confira detalhes clicando aqui.
Retratos da Região
Esse conteúdo faz parte da série de reportagens ‘Retratos da Região’. A TV Tribuna, afiliada da Globo, percorreu 4.100 quilômetros para ouvir moradores das nove cidades da Baixada Santista e 20 do Vale do Ribeira.
O apresentador Rodrigo Nardelli e o cinegrafista Carlos Abelha viajaram por um mês para mostrar as características e problemas de cada cidade e, então, descobrir o que os moradores desejam para o futuro, pensando nas Eleições 2024.
A série ‘Retratos da Região’ é exibida no Jornal da Tribuna 1ª Edição, que começa às 11h45. A nova série estreou no dia 2 de setembro.
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