Espécie foi reencontrada por um observador de Joaçaba. Os campos naturais de altitude no município de Água Doce (SC) são o local favorito para passarinhar do microempresário e observador de aves, Leandro Paiva. Morador de Joaçaba (SC), uma cidade vizinha, o lugar já rendeu ao passarinheiro bons registros de icônicas espécies.
Há pouco tempo, Leandro descobriu um ponto onde residia um casal de mocho-dos-banhados (Asio flammeus), e, desde então, passou a frequentá-lo à procura dos indivíduos.
Em um desses dias, numa manhã de neblina que comprometeu o avistamento dos mochos, Leandro acabou ficando mais tempo na área para observar e tentar registrar outras espécies. Foi quando foi “pego de surpresa”.
“De repente comecei a escutar um canto diferente e contínuo vindo de um local de campo sujo, pouco mais preservado. Confesso que na hora não sabia de que ave se tratava. Localizei de onde vinha o canto e fui me aproximando lentamente. Quando me aproximei olhei pelo binóculo, percebi que se tratava da corruíra-do-campo. Fiquei em êxtase”, conta o observador.
Corruíra-do-campo é registrada no estado de SC após 13 anos
Leandro Paiva
O próximo passo foi bolar uma estratégia para chegar mais perto. Conforme se aproximava, Leandro ia gravando o canto da ave e conseguindo alguns registros para inseri-los em plataformas de ciência cidadã, como WikiAves e eBird.
“Após alguns minutos, pude chegar a poucos metros dela. Ela ficou por cerca de 40 minutos na mesma arvorezinha cantando, o que me permitiu ir com calma e conseguir ótimos registros dela. E o mais legal, não precisei fazer playback pra atrair a ave, pois ela estava ali “me esperando”, relata Leandro.
Esse é o segundo registro da espécie no estado de Santa Catarina, sendo que o primeiro foi há 13 anos, na cidade de Passos Maia (SC). Leandro compartilhou que já sonhava em encontrar a espécie quando visitava a região em grupo.
“Era uma espécie que sempre falávamos que uma hora alguém ia reencontrá-la no estado, e eu fui o sortudo. O sentimento foi de uma enorme satisfação, alegria, gratidão, bem-estar e orgulho de mim mesmo por poder contribuir com a ciência cidadã, sentimentos esses ocasionados por essa bela prática que é a observação de aves”, diz Leandro.
Conexão com a natureza
Leandro é microempresário e começou na atividade em 2020, na pandemia, instalando comedouros e bebedouros em sua casa. Só pode comprar sua máquina fotográfica em 2022, quando percebeu a necessidade de fazer registros das aves que começaram a visitá-lo.
“A observação é um hobby, mas que eu levo muito a sério. Acabei conhecendo muita gente depois que iniciei e criamos o COA Contestado (Clube de Observação de Aves), que abrange toda a região do Contestado de SC”, explica o observador.
“Sempre gostei muito da natureza e de animais. Entrei em depressão após perder meu cachorro, companheiro por 17 anos, e achei na conexão com a natureza meu escape. Dali pra frente, acabei criando amor pela observação e me dedico muito a isso. Lá em casa é um verdadeiro paraíso para as aves”, finaliza.
Leandro descobriu um ponto onde residia um casal de mocho-dos-banhados e passou a fotografá-los
Leandro Paiva
Corruíra-do-campo
A corruíra-do-campo é uma espécie exclusiva de vegetação campestre, geralmente encontrada em campos naturais bem preservados, podendo ocasionalmente ser vista em pastagens. De acordo com o ornitólogo Guilherme Brito, a ave é dependente de campos e se desloca como um pequeno roedor, em altura baixa e enfiada em vegetações, motivo que a torna difícil de ser observada.
“É uma ave difícil de ver, pois vive enfiada nos arbustos e densa vegetação dos campos. Realiza voos muito curtos e dentro dessa vegetação. É mais facilmente observada na época reprodutiva quando tem maior atividade vocal e pode ser estimulado com playback, aí pode se mostrar, cantando no topo de capins com sua postura característica com a cauda levantada”, explica Guilherme Brito
Corruíra-do-campo
Leandro Paiva
Segundo ele, os hábitos da corruíra-do-campo dificultam sua observação, bem como suas exigências ecológicas. Campos naturais preservados são cada vez mais raros no Sul e no Sudeste do país.
A ave alimenta-se exclusivamente de insetos. É uma espécie de distribuição e taxonomia complexa. Ocorre em áreas de campo na América Central, Cordilheira dos Andes e a maior parte do Cone Sul. No Brasil, ocorre nos campos do Sul e partes do Brasil Central, nos campos cerrados.
*Texto sob supervisão de Lizzy Martins.
VÍDEOS: Destaques Terra da Gente
Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente