28 de setembro de 2024

Em 1 dia, fogo consumiu área equivalente a 460 mil campos de futebol em agosto, aponta Canaoeste

Metade de todas as vegetações e plantações atingidas no estado no mês foi queimada no dia 23 de agosto, em meio a combinação crítica de umidade baixa, ventos fortes e calor. Uma área equivalente a 460 mil campos de futebol ou a cinco vezes o tamanho do município de Ribeirão Preto (SP) foi queimada em apenas um dia de agosto, o mês que registrou mais incêndios no estado de São Paulo, segundo levantamento da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste).
O registro foi feito no dia 23 de agosto, quando uma combinação de fatores meteorológicos fez as chamas se espalharem rapidamente e levaram caos a diferentes municípios, com rodovias fechadas, quedas de energia elétrica, moradores assustados, suspensão de jogos de futebol e um acúmulo de fumaça que agravou as condições respiratórias e aumentou a procura por atendimentos médicos.
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“Qualquer fogo que houvesse nesse dia seria potencializado. Foi o que aconteceu”, afirmou o consultor ambiental Olivaldi Azevedo, especialista da GMG Ambiental, empresa de gestão climática parceira da Canaoeste.
Com o pior número de focos de incêndio desde 2012, agosto terminou com 658,6 mil hectares de vegetações e plantações no estado de São Paulo destruídas pelo fogo, aponta a Canaoeste). Deste total, quase a metade – 328,2 mil hectares – foi atingida em um único dia, segundo a entidade que representa 2 mil produtores.
Incêndio em canavial na região de Ribeirão Preto (SP)
Reprodução/EPTV
Combinação climática crítica
A somatória crítica dessas condições é chamada por ele de triplo 30, ou seja, quando a umidade relativa do ar está abaixo dos 30%, as temperaturas estão acima dos 30 graus e os ventos estão com velocidade de mais de 30 km/h.
Naquele sábado, que já encerrava uma semana de alerta, com usinas evacuadas e estradas interditadas, a umidade ficou na casa dos 10%, os termômetros marcaram, em média 35ºC, e os ventos chegaram a pelo menos 40km/h.
Fogo e fumaça altos impressionam na região de Ribeirão Preto
Arquivo pessoal
Dados de satélites orbitais do sistema de monitoramento e gestão climática da GMG Ambiental, empresa especializada parceira da Canaoeste, mostram que o dia 23 foi o ápice de uma sucessão de fatores que foram se agravando desde o dia 20, quando o risco de fogo e de propagação já eram extremos, as temperaturas já estavam na faixa dos 35ºC e a umidade do ar já estava em 10%.
“Se você observar o que aconteceu nos dias 20, 21, 22, você entende que dia 23 foi realmente algo muito atípico, bem diferente da curva, seria natural que houvesse um acréscimo de incêndios e de área queimada nesse dia. Foi muito grande, foi a metade de todo o mês, então, se você observar também, foi um dia meteorologicamente falando bem diferente dos outros dias do mês todo”, analisa.
Recorde nos focos de incêndio
Os mais de 658 mil hectares queimados no estado refletem um recorde no número de focos de incêndio no período.
Somente em agosto, foram mais de 11,6 mil focos registrados por satélites orbitais da empresa parceira da Canaoeste – que utiliza parâmetros diferentes dos usados por plataformas como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que detectou, no período, 3,6 mil focos.
No comparativo feito pela Canaoeste, o total não só é oito vezes maior do que de 2023, como é o maior número apresentado desde 2012. “Foi algo muito diferente nesse mês de agosto”, diz.
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Pitangueiras (SP), com 354 focos, Sertãozinho (SP), com 296, e Altinópolis (SP), com 252, foram os municípios mais problemáticos em agosto. Os canaviais foram os locais mais atingidos, segundo a Canaoeste.
Fogo na região de Pitangueiras, SP, atinge grandes proporções
Reprodução/EPTV
Segundo Azevedo, o que aconteceu em agosto serve de alerta para que as autoridades e empresas se antecipem. Ele defende uma cultura que fortaleça uma gestão de risco para eventos climáticos.
“Os meses de agosto são mais propícios a esse tipo de fenômeno meteorológico, então o que precisa acontecer é ficar mais atento daqui em diante. Se essa vai ser a tônica, se isso vai acontecer daqui pra frente todos os agostos, a gente não sabe ainda, mas a gente precisa ficar atento.”
Incêndios em São Paulo
No fim de agosto, cidades do interior de São Paulo enfrentaram uma onda de incêndios que começou no dia 22. Os momentos mais críticos foram registrados nos dias 23 e 24.
Em Ribeirão Preto, uma das regiões mais atingidas, casas precisaram ser evacuadas, rodovias foram bloqueadas, e pessoas ficaram impossibilitadas de chegar ao destino, sujeitas a condições respiratórias extremas de poluição.
Somente neste período, 2.621 focos de incêndio foram registrados por satélites de referência do Bando de Dados de Queimadas (BDQueimadas), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Depois disso, o governo do estado criou um gabinete de crise, mobilizou equipes e aeronaves das Forças Armadas para ajudar no combate às chamas e investiga ações criminosas relacionadas aos incêndios, inclusive com prisões de suspeitos. Uma análise do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) apontou que a fumaça surgiu no intervalo de 90 minutos, entre 10h30 e 12h de sexta-feira (23).
Fogo e fumaça altos impressionam na região de Ribeirão Preto
Arquivo pessoal
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