16 de novembro de 2024

Produtores de cana refutam acusações de benefício com fogo em lavouras: ‘Não faz sentido’, diz diretor da Canaoeste

Almir Torcatto critica setores da sociedade que desconhecem evolução para colheita mecanizável e cogeração de energia. ‘Sociedade está presa na década de 1980’, afirma. Relatório mostra que área queimada equivale a cinco cidades de Ribeirão Preto
Os incêndios que bateram recorde este ano e causaram destruição em todo o país em nada beneficiam o setor sucroenergético, afirma o diretor executivo da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste), Almir Torcatto.
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Desde o início da crise em agosto, circulam nas redes sociais comentários que acusam o segmento de ter provocado o fogo nas lavouras em benefício próprio.
Segundo o dirigente da Canaoeste, tais afirmações partem do desconhecimento de setores da sociedade e de especialistas que não acompanham a evolução desse segmento agrícola, que mecanizou a colheita e hoje não só fornece etanol e açúcar como produz energia elétrica por meio da cogeração nas usinas.
” A gente começou a produzir energia elétrica da biomassa, então não faz sentido a gente queimar biomassa no campo em vez de queimar na caldeira pra produzir energia elétrica”, diz.
Incêndio em canavial na região de Ribeirão Preto (SP)
Reprodução/EPTV
Torcatto explica que, embora tenha sido uma prática comum nos anos 1980 e 1990, a queima da cana foi abandonada ao longo das décadas. Da mesma forma, a própria dinâmica das usinas se transformou em função da mecanização e das novas áreas de atuação das usinas.
“A sociedade está presa na década de 1980, década de 1990, quando ainda se utilizava o emprego de fogo pra facilitar a colheita, quando a colheita ainda era manual. Hoje as colheitas são 100% mecanizáveis, 100% na nossa região, não tem cana de corte manual e isso evoluiu de tal forma que, pra usina receber cana queimada, é um problemão”, explica.
De acordo com o diretor da Canaoeste, além de todos os prejuízos para o campo em si, o aproveitamento da matéria-prima retirada da lavoura após ter sido queimada demanda ajustes na produção. Além disso, as áreas atingidas pelo fogo nos canaviais também afetam diretamente o planejamento daquilo que ainda pode ser colhido.
“É importante a sociedade entender que esse é um problema pra todo mundo. Como foi um volume muito grande de cana queimada, a gente não tem frente de colheita, às vezes a frente de colheita estava aqui, a cana queimada estava ali, não está planejado, e quando a colheita é mecanizada você tem um planejamento estratégico que facilita o decorrer da safra ao longo desses oito, nove meses de safra que se tem.”
Almir Torcatto, diretor executivo da Canaoeste
Reprodução/EPTV
Prejuízos para a safra
Os canaviais estão entre as áreas mais atingidas pela recente onda de incêndios, principalmente no estado de São Paulo, onde 658,6 mil hectares de vegetações e plantações foram destruídas pelo fogo, segundo a Canaoeste, somente em agosto. Entre os vários segmentos do agro prejudicados pelos incidentes, o sucroenergético teve perdas da ordem de R$ 2.762.773,72, segundo projeção da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
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Segundo o diretor da Canaoeste, os danos ainda estão sendo contabilizados, mas já é possível antecipar problemas, entre eles a incerteza de rebrota na cana queimada, o que obrigaria a um novo plantio e mais gastos aos produtores.
“Se a cana estava no segundo corte e já atingiu a soqueira vai precisar replantar todo o canavial novamente. Isso custa na média de R$ 13 mil a R$ 14 mil por hectare”, diz.
Usina de cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto (SP)
Reprodução/EPTV
Outro ponto levantado pelo dirigente é a perda de qualidade da cana que já se queimou. Isso porque a matéria-prima tem um tempo de perenidade e, se não aproveitada, acaba se deteriorando.
“Como o volume de cana queimada foi muito, é muita matéria-prima pra ser processada, e a gente não tem ideia, dimensão ainda, de quanto acabou ficando no campo e não foi para as pras moendas.”
Para ele, no entanto, já é certo que a safra que começa em 2025 já está prejudicada por parte do canaviais que não poderão ser recuperados de imediato, já que as novas mudas demoram 18 meses para se desenvolver até o primeiro corte. Por isso, o momento é de planejamento, segundo o diretor.
“Essa área não vai ter cana na safra que vem, e essa área é um ano a menos de receita e só gasto. É hora de planejar o financeiro, de ter parcimônia, de fazer conta, de organizar, o produtor tem que se organizar”, diz.
Plantação de cana-de-açúcar
GATec
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