Em depoimento no STF, Giniton disse que policial fez contato com ele, mas não atendeu porque estava em curso e não deu muita atenção ao assunto. Delegado contou ainda que relatou a secretário que a questão fundiária era uma possibilidade de motivação para o assassinato de Marielle. Delegado Giniton Lages, em depoimento no STF sobre o caso Marielle
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O conselheiro Domingos Brazão, do Tribunal de Contas do Estado (TCE) tentou se encontrar com o delegado Giniton Lages, antes de ser preso pela Polícia Federal, em 24 de março de 2024. Para isso, usou como intermediador um delegado da Polícia Civil do RJ.
A história foi contada, na tarde desta sexta-feira (27) pelo delegado Giniton Lages, em audiência de instrução e julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os mandantes dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
Giniton Lages foi o primeiro delegado a investigar o crime e atualmente e está indiciado pela PF por suspeita de atuar para a obstrução das investigações do caso.
Giniton foi convidado a depor no STF como testemunha de três acusados presos pelo crime: os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, que para a PF são os mandantes do crime, além do delegado Rivaldo Barbosa, apontado como mentor.
No depoimento, Giniton disse que não topou o encontro. “Estava num curso e fui procurado por um delegado [que iria intermediar o encontro com Brazão]. Só tive tempo de responder que não tenho nenhum interesse em encontrar com eles. Foram investigados”, disse Giniton.
Segundo o delegado, ele relatou a história aos policiais que realizaram busca em sua casa, em 24 de março, dias após o contato feito pelo policial e no mesmo dia em que os irmãos Chiquinho e Domingos foram presos.
O conselheiro do TCE do RJ, Domingos Brazão, preso na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia
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“A relação de delegados com políticos é muito comum. Qualquer policial pode se relacionar. Não vou fazer juízo de valor. Eu achei que não valia a pena fazer isso”, contou.
O delegado está afastado do cargo e usa um tornozeleira por determinação do STF.
Coleta de imagens
Questionado pelo promotor Olavo Pezzotti, representante da Procuradoria da República na audiência, o delegado Giniton Lages não conseguiu explicar por que policiais da Delegacia de Homicídios coletaram imagens de câmeras instaladas na orla da Barra e anexaram ao inquérito sem ver passar pelo local o Cobalt dirigido por Élcio de Queiroz, um dos presos pela execução.
Segundo Giniton, a imagem foi coletada e, em outubro de 2018, após uma denúncia anônima, o material foi revisto e os policiais viram o Cobalt passando pela orla da Barra da Tijuca.
Cobalt usado em execução de Marielle rodou 17 km pelo Rio com assassino armado; veja o trajeto
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A denúncia a qual Giniton se refere foi a que chegou à Delegacia de Homicídios e descreve o veículo utilizado pelos assassinos de Marielle e que Ronnie Lessa foi o responsável pelos disparos contra a vereadora.
A Polícia Federal afirma que agentes da cúpula da Polícia Civil agiam juntos pra atrapalhar as investigações sobre os assassinatos de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Segundo o relatório da PF, imagens de câmeras de segurança que poderiam ter ajudado os assassinos a serem encontrados de forma mais rápida, não foram buscadas de propósito.
“Destacamos dois policiais para coletar as imagens. Eles não veem o carro. Quando chega a denúncia anônima resolver rever e encontramos o veículo. Não sei o que houve. Houve um erro de análise”, admite o delegado Giniton.
Ronnie Lessa e Élcio Queiroz
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