4 de outubro de 2024

Brazão pediu por meio de intermediário para encontrar com Giniton Lages antes de ser preso pela PF, diz delegado

Em depoimento no STF, Giniton disse que policial fez contato com ele, mas não atendeu porque estava em curso e não deu muita atenção ao assunto. Delegado contou ainda que relatou a secretário que a questão fundiária era uma possibilidade de motivação para o assassinato de Marielle. Delegado Giniton Lages, em depoimento no STF sobre o caso Marielle
Reprodução
O conselheiro Domingos Brazão, do Tribunal de Contas do Estado (TCE) tentou se encontrar com o delegado Giniton Lages, antes de ser preso pela Polícia Federal, em 24 de março de 2024. Para isso, usou como intermediador um delegado da Polícia Civil do RJ.
A história foi contada, na tarde desta sexta-feira (27) pelo delegado Giniton Lages, em audiência de instrução e julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os mandantes dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
Giniton Lages foi o primeiro delegado a investigar o crime e atualmente e está indiciado pela PF por suspeita de atuar para a obstrução das investigações do caso.
Giniton foi convidado a depor no STF como testemunha de três acusados presos pelo crime: os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, que para a PF são os mandantes do crime, além do delegado Rivaldo Barbosa, apontado como mentor.
No depoimento, Giniton disse que não topou o encontro. “Estava num curso e fui procurado por um delegado [que iria intermediar o encontro com Brazão]. Só tive tempo de responder que não tenho nenhum interesse em encontrar com eles. Foram investigados”, disse Giniton.
Segundo o delegado, ele relatou a história aos policiais que realizaram busca em sua casa, em 24 de março, dias após o contato feito pelo policial e no mesmo dia em que os irmãos Chiquinho e Domingos foram presos.
O conselheiro do TCE do RJ, Domingos Brazão, preso na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia
Reprodução
“A relação de delegados com políticos é muito comum. Qualquer policial pode se relacionar. Não vou fazer juízo de valor. Eu achei que não valia a pena fazer isso”, contou.
O delegado está afastado do cargo e usa um tornozeleira por determinação do STF.
Coleta de imagens
Questionado pelo promotor Olavo Pezzotti, representante da Procuradoria da República na audiência, o delegado Giniton Lages não conseguiu explicar por que policiais da Delegacia de Homicídios coletaram imagens de câmeras instaladas na orla da Barra e anexaram ao inquérito sem ver passar pelo local o Cobalt dirigido por Élcio de Queiroz, um dos presos pela execução.
Segundo Giniton, a imagem foi coletada e, em outubro de 2018, após uma denúncia anônima, o material foi revisto e os policiais viram o Cobalt passando pela orla da Barra da Tijuca.
Cobalt usado em execução de Marielle rodou 17 km pelo Rio com assassino armado; veja o trajeto
Arte / g1
A denúncia a qual Giniton se refere foi a que chegou à Delegacia de Homicídios e descreve o veículo utilizado pelos assassinos de Marielle e que Ronnie Lessa foi o responsável pelos disparos contra a vereadora.
A Polícia Federal afirma que agentes da cúpula da Polícia Civil agiam juntos pra atrapalhar as investigações sobre os assassinatos de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Segundo o relatório da PF, imagens de câmeras de segurança que poderiam ter ajudado os assassinos a serem encontrados de forma mais rápida, não foram buscadas de propósito.
“Destacamos dois policiais para coletar as imagens. Eles não veem o carro. Quando chega a denúncia anônima resolver rever e encontramos o veículo. Não sei o que houve. Houve um erro de análise”, admite o delegado Giniton.
Ronnie Lessa e Élcio Queiroz
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