28 de setembro de 2024

Faculdade importa cabeças congeladas dos EUA para aulas de harmonização facial; entenda

Escola com unidade em Campinas (SP) importa cadáveres dos Estados Unidos preservados pelo procedimento ‘fresh frozen’ para ensinar procedimentos cirúrgicos aos alunos. Imagem de modelo viva representando procedimento visando harmonização facial
Freepik
A harmonização facial é um procedimento estético que envolve uma série de aplicações e técnicas que promete deixar o rosto do paciente mais proporcional. Para aprender tais processos são feitas aulas práticas em cadáveres preservados em formol, mas uma faculdade com unidade em Campinas (SP) tem importado cabeças humanas congeladas dos Estados Unidos para uso no ensino.
A legislação do Brasil permite a doação de corpos com objetivos científicos ou altruísticos, mas são poucas as pessoas que fazem essa doação. Assim, algumas unidades de ensino começaram a importar cadáveres, mediante autorização do governo.
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No Brasil apenas duas instituições utilizam cadáveres que passam pela técnica de conservação por congelamento chamada ‘fresh frozen’, e uma delas possui unidade em Campinas.
Para conhecer como funciona, as vantagens da utilização da técnica e os cuidados necessários, o g1 conversou com a cirurgiã-dentista e professora na Faculdade CTA, Erika Bueno Camargo.
“Nós utilizamos a técnicas de harmonização facial no cadáver para que o aluno tenha a segurança na hora de aplicar em um paciente”, explica a professora.
Vale destacar que não são permitidos fotos ou vídeos das cabeças congeladas usadas para fins educacionais – os alunos, inclusive, são proibidos de entrar com celulares e outros equipamentos eletrônicos nos laboratórios.
🌎 Cabeças importadas
Erika explica que as cabeças congeladas são importadas dos Estados Unidos, fruto de uma autorização realizada pelo próprio paciente que indica o que fazer com o corpo depois da morte.
Assim que a instituição as adquire, elas vão para a sede da faculdade em São Paulo, todas com registros, para em seguida serem redirecionadas para as outras unidades, como Campinas, onde ficam guardadas em freezers e retiradas para as aulas.
“Ela vai durar alguns meses e é muito cara”, pontua.
Uma peça, como a cabeça é denominada pela especialista, pode ser utilizada várias vezes, mas em determinado momento, quando não é mais possível devido ao estado de deterioração, há todo um protocolo para o reenvio de volta aos Estados Unidos
“Com o passar do tempo o cadáver não tem um cheiro agradável, aí a gente avalia que deve descartar […] quando a epiderme sai do cadáver, ele fica desprotegido e tem um cheiro mais forte”, diz.
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Pexels.
👩👨 Mais próximo do corpo vivo
A professora explica que a técnica do ‘fresh frozen’ preserva os cadáveres exclusivamente por congelamento, sem utilizar qualquer produto químico que pode mudar as características naturais.
Diferente dos métodos tradicionais encontrados em faculdades da área médica, no qual são utilizados cadáveres preservados em formol para fins de pesquisa e ensino, o procedimento de congelamento consegue, segundo a professora, “se aproximar com mais fidelidade a uma pessoa ainda viva”.
“A cabeça é perfeita, então o aluno tem essa sensação de conseguir passar o fio de PDO, o ácido hialurônico, e o subcutâneo do ‘fresh frozen’ e sentir como seria no paciente de verdade”, detalha.
A cirurgiã lembra que ainda existe a rigidez cadavérica na parte de músculo, no entanto, a parte subcutânea “os alunos conseguem sentir exatamente”.
“Antes de o aluno fazer em um ser vivo, ele pode errar o que tiver que errar no cadáver, porque o cadáver está lá exatamente para ele aprender”, reforça.
Para estender o tempo de uso, Camargo explica que são injetados gel de cabelo em vez dos produtos verdadeiros, por exemplo, para conseguir tirar depois. E até mesmo os fio de PDO (material biocompatível e absorvível, usado em procedimentos no rosto) são retirados para deixar a cabeça “pronta para o próximo aluno poder utilizar”.
🏳 Respeito e psicologia
A professora explica que há toda uma preparação também para o aluno antes de entrar nos laboratórios de anatomia.
Tanto para as pessoas que acabam demonstrando repulsa e se negando a mexer no corpo, como eventuais abusos com imagens.
Assim, para minimizar o impacto psicológico no aluno, toda vez que uma aula é realizada em laboratório, é feita uma oração em respeito à peça que não tem cunho religioso, mas faz uma demonstração de respeito à peça.
Além disso, os alunos são proibidos de entrar com celular para evitar que alguém tire fotos ou filme as peças e divulgue-as nas redes sociais.
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