30 de setembro de 2024

PM preso por morte de advogado no Rio negociou compra de pistolas com ‘Sem Alma’, aponta relatório da DH

Machado foi preso por, segundo a polícia, ter alugado os carros utilizados no crime. Já Sem Alma é apontado como chefe de um grupo de extermínio. Informações de relatórios indicam que Mondego, suspeito de monitorar vítima, tinha o contato do PM, conhecido como “Cara de Pedra”. Leandro Machado ao lado de Rafael do Nascimento Dutra, conhecido como Sem Alma, apontado como chefe de grupo de extermínio
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Relatórios da Delegacia de Homicídios da Capital revelaram indícios de negociação de armas e conversas de Leandro Machado, PM preso por suspeita de participar do plano do assassinato de um advogado no Centro do Rio, e o ex-policial Rafael do Nascimento Dutra, conhecido como Sem Alma. Para a polícia as conversas indicam que Rafael já negociou pistolas com Sem Alma.
As alegações finais do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio também deram mais detalhes do que a polícia investigou sobre a participação de Eduardo Sobreira Moraes e Cezar Daniel Mondego, e as conexões entre os suspeitos.
Sobreira e Mondego foram presos por suspeita de monitorar os passos do advogado Rodrigo Marinho Crespo entre os dias 22 de fevereiro e 26 de fevereiro, quando a execução aconteceu em frente à sede da OAB, no Centro do Rio.
A quebra de sigilo revelou, por exemplo, que Mondego tinha o número internacional do celular de Machado salvo em seu aparelho.
Foto de Eduardo Sobreira e Cezar Daniel Mondego juntos aparece em relatório de investigação da Polícia Civil
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Machado, também conhecido como “Cara de Pedra”, foi preso por ter alugado os carros utilizados no crime em uma locadora de veículos na Zona Oeste, segundo a polícia.
Sem Alma é apontado como chefe de um grupo de extermínio ligado ao contraventor Adilson Coutinho Filho, o Adilsinho.
De acordo com a Delegacia de Homicídios da Capital, Machado utilizou um “laranja” para assinar os documentos de locação dos carros. As investigações indicam que ele recebeu R$ 500 para ir até a locadora e assinar os documentos e que vários veículos já foram alugados em nome dessa pessoa.
A defesa de Leandro Machado foi procurada pelo g1 e negou as acusações. “Não houve até esse momento uma prova de que meu cliente Leandro Machado detinha conhecimento do crime ou sua motivação”, afirmou o advogado Diogo Macruz.
A defesa de Adilson Coutinho Filho nega as acusações.
Carro utilizado para seguir Rodrigo antes do assassinato foi monitorado até chegar em Duque de Caxias
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Encontro em batalhão
O policial militar Leandro Machado da Silva
Betinho Casas Novas/TV Globo
As alegações finais do Ministério Público lembraram de informações publicadas pelo g1 em abril que indicam que Machado, Mondego e Sobreira se encontraram no 15º BPM (Duque de Caxias), onde serviam Machado e Dutra, o Sem Alma, antes deste último ser expulso da Polícia Militar. Os encontros aconteceram, segundo a polícia, antes e depois da morte do advogado.
Quando Machado foi preso, sua defesa afirmou que, apesar de fotos em uma festa de aniversário de um filho de Sem Alma, ambos “apenas servem ao mesmo batalhão”. Rafael foi expulso da Polícia Militar em 2023.
Procurada, a defesa de Machado diz que não vai se manifestar sobre as informações do relatório, e que não teve acesso à integra do documento.
Compra de pistolas
Em uma conversa que ocorreu em 31 de maio de 2023, também investigada pela polícia, Dutra diz que “aquela parada” que Machado tinha pedido chegou. Machado pergunta então o preço: “R$ 1400?”
“R$ 700 cada”, responde Sem Alma.
“[Vou] fazer agora, já mando comprovante”, responde Machado. Em seguida, uma foto do comprovante é enviada por Machado para Sem Alma.
A arma, segundo as investigações da DH, teria como destinatário José Paulino da Silva Neto, que tem passagens na polícia por associação criminosa, estelionato, extorsão, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, receptação e roubo.
Em novembro de 2023, ele foi denunciado pelo Ministério Público com outras duas pessoas por formação de milícia privada.
Segundo o MP, Paulino fazia parte de uma quadrilha responsável por extorsões, três homicídios e um caso de ameaça para tomar um condomínio em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Com eles, a polícia apreendeu três pistolas, munições, carregadores e R$ 1,4 mil em espécie.
Na Justiça, José Paulino foi absolvido da acusação de formação de milícia, porém foi condenado a 3 anos e três meses de prisão por portar arma de uso restrito. O MP e os réus recorreram da decisão.
Em agosto deste ano, o Ministério Público pediu que a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) investigue Paulino em um inquérito por ameaçar uma testemunha. A investigação está em andamento.
Conversa sobre suspeitos
Vídeo mostra execução de empresário goiano em São Luís, no Maranhão
Em outra conversa no dia 11 de junho, Machado alerta Sem Alma para uma reportagem publicada pelo g1 sobre José Gomes da Rocha Neto, o Kiko, e Alfredo dos Santos Júnior, o Velho, e o envolvimento de ambos em uma morte ligada ao mercado de apostas esportivas e à contravenção no Maranhão .
Após receber o link da reportagem, Sem Alma responde: “Jesus”.
“P*ca gigante”, responde Machado. Dutra, por sua vez, responde com um palavrão.
Velho e Kiko foram citados em mensagens entre Machado e Sem Alma
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Alfredo, o “Velho”, foi preso na Região dos Lagos após envolvimento na morte de um secretário em 2023. Kiko já foi preso por ligações com a milícia de Duque de Caxias e por um homicídio em 2012.
Ele teve o mandado de prisão relativo ao crime no Maranhão contra ele revogado pela Justiça. O processo contra Kiko e Velho foi levado a júri popular, e atualmente encontra-se suspenso por decisão judicial.
Investigações anteriores das Polícias Federal e Civil apontam que Kiko e Velho são integrantes da mesma organização criminosa em que Dutra é suspeito de atuar como chefe de um grupo de extermínio.

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