30 de setembro de 2024

Voluntários do CVV falam sobre a importância do serviço de apoio emocional: ‘A gente escuta’

Em Sorocaba (SP), a unidade do CVV foi inaugurada em 1983 e já contou com apoio de mais cerca de 1 mil voluntários. Atualmente, 88 pessoas ajudam a manter o serviço ativo, mas a ONG precisa de pelo menos 200 voluntários para atender a demanda. Em Sorocaba (SP), a unidade do CVV foi inaugurada em 1983 e já contou com apoio de mais cerca de 1 mil voluntários
Divulgação
O trabalho voluntário é essencial para manter muitos projetos sociais. Não é diferente com o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece suporte e apoio emocional para pessoas em todo o país. Em Sorocaba (SP), o serviço existe há 41 anos e nesse tempo já contou com a disposição e boa vontade de mais 1000 mil voluntários (veja como participar).
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Atualmente, 88 voluntários participam do programa. A política do CVV pede que os voluntários não sejam identificados na reportagem, por isso, o g1 cita apenas o primeiro nome dos entrevistados.
Entre o grupo atual de voluntários está Guilherme, que desde 2016 encontrou no voluntariado do CVV uma missão para a vida. Foi o amor ao próximo que fez com que ele se colocasse à disposição das pessoas.
“É uma experiência gratificante poder ajudar as pessoas que precisam de apoio.”
Antes de estar na linha de frente dos atendimentos, o voluntário passa por um treinamento oferecido pelo CVV.
“Foram nove encontros presenciais. O curso tem a duração de 32 horas. O treinamento capacita para a atender pessoas que precisam de apoio emocional ou estão pensando em suicídio. É uma abordagem desenvolvida pelo CVV, que possui uma forma única e exclusiva de atender, baseada em 62 anos de experiência.
Prédio do CVV Sorocaba (SP) quando foi inaugurado, em 1983
Divulgação
Apoio psicológico para voluntários
Apesar do preparo e treinamento oferecidos aos voluntários, é impossível não se emocionar com as histórias dos atendidos, que, em alguns casos, estão em crise e pensando em suicídio. Guilherme relata que o CVV oferece continuamente atendimento para voluntários, em situações como esta.
“Já ocorreu comigo. Quando precisei de atendimento, falei com outro voluntário e recebi o mesmo acolhimento que todos que ligam para o CVV recebem. É um serviço oferecido 24 horas por dia, disponível para qualquer voluntário que precise, podendo recorrer ao CVV, ao padrinho ou ao coordenador do grupo de estudos.”
Para ele, que é voluntário há oito anos, serviços gratuitos de apoio emocional são extremamente necessários.
“Esse tipo de serviço, oferecido por voluntários, existe no mundo inteiro para atender quem precisa. Os voluntários são treinados, preparados, reciclados e acompanhados. Estão totalmente habilitados para prestar apoio.”
CVV Sorocaba já contou com mais de 1 mil voluntários em quatro décadas de atendimento
Divulgação
Saber agir em diversas situações
Bruna também já se dedicou ao voluntariado por meio do CVV. Ela decidiu ser voluntária durante um período muito crítico e quando o serviço precisava de muitos voluntários.
“Eu fiz o treinamento durante a pandemia da Covid-19. Por conta disso, o curso foi online. Durante o treinamento, a sensação que eu tive é que foi uma imersão sobre autoconhecimento, sobre o porquê de fazer um trabalho voluntário, não para o nosso ego e sim para o propósito”, relembra Bruna.
Assim como Guilherme, a jovem explica que o treinamento prepara o atendente para saber como agir em situações diversas.
“Você vive situações desde a simulação de uma senhora ligando até a simulação de um trote com um teor sexual que é o principal ponto do treinamento, preparar o voluntário para um monte de situações de incômodo que ele possa viver durante o dia a dia de plantão.”
CVV oferece escuta para pessoas que estejam em sofrimento psicológico
Divulgação/CVV
Bruna comenta que conheceu voluntários que estão há 30 anos dedicando parte da vida ao serviço. “Eles abrem mão de muito tempo da vida deles para se dedicar, porque todos que dão o curso também fazem os plantões de atendimento.”
A voluntária conta que participou do serviço por cerca de três meses. Tempo suficiente para realizar diversos atendimentos. “Na época, eu estava com horário de trabalho bem alternativo por conta da pandemia, então eu escolhi o turno da madrugada, que é o horário que as pessoas menos aderem. O plantão que eu fazia era de quatro horas. Você atende muita gente.”
Trotes que prejudicam
Sobre as situações que impactaram Bruna, a jovem cita que o treinamento a preparou para saber o momento certo de desligar a ligação.
“Tem muita gente que liga para conversar, tem muita gente que não tem um apoio presencial e quer desabafar. Infelizmente, recebi alguns trotes de teor sexual. O treinamento me preparou pra saber a hora certa de desligar o telefone. A gente fica com raiva de ver pessoas fazendo isso em um sistema que existe para ajudar quem precisa. Enquanto a pessoa está na linha, tem alguém não está conseguindo ser atendido”,
Apesar das experiências ruins por causa dos trotes, Bruna reforça que a contribuição que o CVV oferece à sociedade motiva os voluntários a persistirem: “O número de pessoas que você consegue ajudar, nem que seja de forma momentânea, é muito maior do que a quantidade de trotes. O CVV faz um trabalho incrível”.
Rede de apoio e sigilo nas ligações
O auxílio e apoio dos demais voluntários também foi importante para Bruna, que conta um pouco sobre como funcionam as ligações.
“A qualquer momento o voluntário pode chamar alguém pra conversar. A gente desabafa sobre as ligações, sem expor absolutamente nada. Até porque o voluntário não tem nenhuma informação da pessoa que liga, eu acho importante reforçar isso. A gente não sabe o nome da pessoa, endereço, nomes dos envolvidos naquele desabafo. É tudo sigiloso.”
‘A gente escuta’
O curto período de trabalho voluntário foi muito significativo para Bruna, que define como “uma experiência maravilhosa” e recomenda o voluntariado e também o serviço de apoio oferecido pelo Centro.
“Eu recomendo o CVV sempre que posso, tanto para quem quer ser voluntário, quanto para quem possa precisar de auxílio. A gente não faz pergunta, a gente não dá diagnóstico, a gente não dá conselho. A gente escuta. O serviço não é um substituto para a psicoterapia, é um suporte.”
CVV de Sorocaba (SP) fica na rua Doutor Nogueira Martins, 334
Júlia Martins/G1
Atendimento de graça
Alcebiades Alvarenga é um dos fundadores do CVV Sorocaba e também já foi voluntário. Ele comenta que o serviço necessita de 200 voluntários, mas atualmente, há apenas 88.
“O serviço é mantido pelos voluntários. Nós também temos uma mantenedora, a ‘Associação de Apoio a Vida'”, explica o fundador.
Os atendimentos do CVV são realizados tanto por telefone, por chat ou e-mail (para aqueles que preferem escrever seus desabafos ao invés de verbalizá-los). O atendimento telefônico é feito pelo número 188, a ligação não tem custo.
O voluntário atende as ligação de onde estiver. Não é necessário ir até a sede da ONG.
“Tem um software do CVV que é disponibilizado para o voluntário acessar pelo computador e atender as ligações. Não precisa de um telefone celular ou fixo. Ele pode trabalhar de casa. Mas, se quiser, pode ir até o espaço do CVV, onde tem recursos para o voluntário fazer o atendimento.”
Centro de Valorização da Vida CVV de Sorocaba
Eduardo Ribeiro Jr./G1
Apenas 4 horas semanais
Para ser voluntario, a pessoa tem que ser maior de 18 anos, passar pelo treinamento oferecido pelo Centro, que tem 36 horas de duração.
“Ter boa vontade para ouvir pessoas. O voluntário precisa nos disponibilizar apenas quatro horas semanais para fazer os plantões de atendimentos”, explica Alvarenga.
Em 2023, foram realizados 101.171 atendimentos. Até julho deste ano, foram cerca de 55 mil atendimentos. A média diária é de 259 ligações.
Além do atendimento com voluntários, a organização promove a conscientização sobre a importância da saúde mental, incentivando a busca de ajuda e reforçando a mensagem de que a vida sempre vale a pena.
O atendimento é sigiloso e as ligações não são gravadas.
Para ser voluntário do CVV basta ser maior de idade e ter boa vontade
SupCom ALE-RR
Como ser voluntário
A campanha de Setembro Amarelo convida a sociedade a refletir sobre formas de prevenir o suicídio e a importância de oferecer espaços de escuta e acolhimento.
“Dizem que, se a pessoa for ouvida, tiver alguém com quem possa desabafar, ela mesma consegue encontrar a melhor solução. No CVV, as pessoas são acolhidas, compreendidas e respeitadas de forma empática”, diz o fundador.
Setembro Amarelo: entenda como surgiu a campanha para prevenir suicídios
Setembro Amarelo
Divulgação
Alvarenga ressalta que o programa precisa cada vez mais de voluntários, pois, além da rotatividade, a demanda de atendimentos é crescente em todo o país.
A unidade de Sorocaba está com inscrições abertas para o curso gratuito de formação. As aulas serão virtuais. A inscrição pode ser feita pelo site. O voluntário pode escolher uma das turmas disponíveis para fazer o curso.
Turma de segunda-feira: início em 30 de setembro;
Turma de quarta-feira: início em 2 de outubro; das 19h às 23h.
Turma de sábado: início em 5 de outubro.
Outras informações podem ser solicitadas pelo e-mail sorocaba@cvv.org.br ou pessoalmente na unidade, que fica na R. Dr. Nogueira Martins, 334, no Centro, Sorocaba.
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