1 de outubro de 2024

Menina com câncer raro é curada após 6 anos de tratamento: ‘sempre acreditei’, diz mãe

Campanha do Setembro Dourado ajuda a conscientizar as famílias para ficarem atentas aos sintomas em crianças e adolescentes para ter um diagnóstico precoce. Elisâgela e Mariana se sentiram livres após os médicos informarem que a menina estava curada do tumor
Arquivo Pessoal
Este mês é marcado pelo Setembro Dourado, uma campanha que destaca a importância da conscientização sobre o câncer infantil. Essa doença é a principal causa de morte por enfermidade em crianças e adolescentes entre 1 e 19 anos no Brasil, mas quanto mais cedo o diagnóstico, maiores são as chances de cura.
A história de Mariana da Fonseca Vieira, de 10 anos, moradora de Muriaé, é um exemplo de sucesso no tratamento.
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Em 2018, Mariana foi diagnosticada com um tumor renal raro, o tumor de Wilms, quando tinha 4 anos. A mãe da menina, Elisângela Tavares da Fonseca, explica que a filha começou a apresentar sintomas em outubro de 2017, que foram tratados como infecções, mas se agravaram no ano seguinte.
“Mariana tinha febre constante, mesmo com o uso de antibióticos, falta de apetite, dormia mal, apresentava apatia e estava pálida. Os médicos a tratavam por infecções urinárias, de garganta e anemia”.
Após o agravamento dos sintomas, ainda demorou cerca de dois meses e muitos exames até que o diagnóstico correto fosse feito, ao identificarem uma massa no rim esquerdo. Quando foi descoberto, o câncer estava em estágio avançado, e os médicos explicaram à Elisângela que o medicamento para anemia havia provavelmente contribuído para o crescimento do tumor.
“O sentimento com o laudo do câncer foi como se o chão tivesse se aberto em um abismo. Havíamos perdido o pai dela há um ano e ainda estávamos muito abaladas. Como eu não tinha conhecimento sobre o tratamento, pensava que todas as pessoas que tinham câncer morriam. A família inteira ficou abalada”, conta Elisângela.
O tratamento
Segundo a oncologista pediátrica Franciane Benicá, o tumor de Wilms é uma neoplasia infantil que acomete o rim, podendo afetar um deles isoladamente ou ambos. Ela explica que é raro, pois representa apenas 5% dos casos de tumores infantis.
O diagnóstico é clínico, sendo feito a partir da observação de distensão abdominal, febre, quadro de pressão alta, entre outros sintomas. Em seguida, são realizados exames de imagem para identificar a massa, e pode ser feita uma biópsia.
Mariana iniciou o tratamento fazendo quimioterapia para diminuir o tumor no Hospital do Câncer de Muriaé. Após a redução da massa, a menina passou pela cirurgia em julho de 2018, quando o rim esquerdo foi removido. No entanto, quarenta dias depois, a notícia de uma recidiva abalou a família: o câncer havia se espalhado para o pulmão, fígado e abdômen.
Durante o tratamento, Elisângela se manteve esperançosa, sempre acreditando na cura de sua filha
Arquivo Pessoal
Novos ciclos de tratamento começaram, e, durante mais de um ano, Mariana lutou bravamente contra os efeitos colaterais da quimioterapia e as células cancerígenas. Para a família, os maiores impactos foram o afastamento do convívio com outras pessoas e a reclusão em casa.
“Minha filha passou 2 anos fora da escola. Não íamos a nenhum evento público. Ela não podia participar de brincadeiras que envolvessem impactos físicos, como correr, pular ou nadar. E isso foi um desafio, porque é tudo o que a criança quer”.
‘Sempre acreditei na cura’
Durante os seis anos de tratamento, Elisângela aprendeu a ter paciência, confiar nos médicos, lidar com os medos da minha filha e manter o psicológico forte enquanto mãe. “Lidar com o medo palpável da morte é difícil, mas nunca perdi a esperança. Sempre acreditei na cura”, disse.
Em julho de 2024, Mariana recebeu alta do tratamento, e Elisângela conta como recebeu a notícia:
“Ouvir da boca da médica que ela está curada foi libertador, tanto para ela quanto para mim. Hoje, Mariana se sente livre para brincar e já voltou a frequentar a escola normalmente desde a pandemia, quando foi constatado que as metástases tinham sido eliminadas”.
Mariana voltou a frequentar a escola durante a pandemia, após as metástases no pulmão, fígado e abdômen terem sido eliminadas
Arquivo Pessoal
Câncer em crianças e adolescentes
No Brasil, 12 mil novos casos de câncer infantil surgem a cada ano, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). O INCA também revela que são estimados 7.930 notificações da doença no triênio entre 2023 e 2025.
Os principais tipos de câncer que acometem crianças e adolescentes são a leucemia linfocítica aguda, seguida dos tumores no sistema nervoso central e dos linfomas, segundo a oncologista pediátrica Franciane Benicá, que trabalha no Hospital do Câncer em Muriaé.
A médica também explica que os principais sintomas aos quais os pais devem ficar atentos são:
febre prolongada;
aparecimento de ínguas e caroços pelo corpo;
distensão abdominal com a barriga crescendo e ficando dolorida;
surgimento de manchas roxas e aumento de alguma parte óssea.
Franciane também destaca que, nos tumores do sistema nervoso central, a criança pode apresentar vômitos e dores de cabeça que não melhoram com medicação comum. Além disso, pode haver irritabilidade, estrabismo (um desalinhamento dos olhos) e alterações na marcha.
De acordo com o INCA, cerca de 80% das crianças e adolescentes acometidos pela doença podem ser curados se diagnosticados precocemente. Por isso, a médica ressalta a importância do Setembro Dourado: “A campanha ajuda a conscientizar os pais sobre os principais sinais e sintomas, e, com isso, conseguimos um diagnóstico precoce, o que aumenta as chances de cura e a qualidade de vida dessas crianças”, finalizou.
*estagiária sob supervisão de Carol Delgado.
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