O Fantástico conversou com Carolina Rebouças, namorada de Rafael, que sobreviveu ao acidente: ‘É muito ruim você estar acostumado com a rotina com aquela pessoa e, do nada, você se vê sendo obrigada a seguir sozinha’. Caminhoneiro embriagado e drogado entra na contramão da estrada e mata um motociclista
Um caminhão faz zigue-zague na pista de uma rodovia, no litoral de São Paulo. Os motoristas que vêm atrás se assustam e ligam o pisca-alerta. Mais para frente, o caminhoneiro invade a pista contrária, aterrorizando quem estava na estrada.
Quem dirige é um homem embriagado e drogado com uma extensa ficha de infrações de trânsito. Neste dia, ele passou por cima de uma moto e acabou matando o metalúrgico Rafael da Silva Oliveira, de 33 anos. O Fantástico conversou com Carolina Rebouças, namorada de Rafael, que estava na garupa e sobreviveu.
“Rafael era o amor da minha vida”, conta Carolina.
Rafael tinha acabado de reformar a casa.
“Já estávamos morando junto. Enfim, e aconteceu isso. Foi um sonho interrompido, um relacionamento interrompido. O que era para ser para sempre, acabou. O tempo todo a imagem volta na minha cabeça”, diz Carolina Rebouças.
Caminhoneiro que matou metalúrgico tem extensa ficha de infrações de trânsito e dirigia embriagado e drogado
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Por pelo menos 5 km, o caminhão carregado com glicerina causou pânico em quem estava na rodovia. Depois de bater em uma viatura da polícia, o caminhão foi para a contramão. Assustado com um veículo enorme vindo na sua direção, Rafael foi com a moto para o acostamento. Segundo o depoimento dos policiais, o caminhão foi para cima dele. A batida foi em uma curva. O caminhão passou por cima de Rafael, que morreu na hora. Carolina foi arremessada; sobreviveu por pouco.
“Eu conseguia ver que ele estava vindo para cima da gente. Eu só consegui segurar nele, firmar mais minha perna no corpo dele. Falei: ‘Rafael, caminhão’”, conta Carolina.
Carolina ficou em estado grave; teve alta na quinta-feira (26).
“Eu perdi um dedo do pé. Eu estou com essa perna direita cheia de ponto, fraturada”, diz Carolina.
Rafael e Carolina tinham ido à praia para encontrar alívio para uma dor recente. O pai dele sofreu um infarto e morreu em agosto.
Maria de Lourdes, mãe de Rafael: Ele chorava muito.
Repórter: Em menos de dois meses, a senhora está enfrentando um segundo luto.
Maria de Lourdes: E esse foi pior, que foi filho.
O Fantástico conversou com Carolina Rebouças, namorada de Rafael, que sobreviveu ao acidente
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Não existem imagens do momento em que o caminhão atropelou a moto de Rafael. Só há o registro dos minutos seguintes, de quando o caminhoneiro, ainda na contramão, atinge outros veículos. Bateu em nove, no total.
Repórter: O que a polícia tem que fazer para parar um caminhão desse?
Fernando Leite, capitão da Polícia Militar: Fomos acompanhando, tentando parar e sempre solicitando para ele parar, onde ele desobedeceu. E também tirando os demais veículos da frente para evitar mais vitimização.
Repórter: Disparar contra o pneu não é uma opção?
Capitão Fernando: Não, não. Não tem disparo. A gente não tem segurança de disparo. Não podemos aumentar o risco dos usuários da rodovia.
Um homem filmou o momento em que o caminhão finalmente parou. O caminhoneiro foi preso em flagrante. O Fantástico teve acesso a imagens da câmera corporal de um dos policiais.
O caminhoneiro se chama Roberval José Sebastião. É motorista profissional há 15 anos. O exame do IML apontou que ele tinha bebido e usado drogas. Roberval tem 36 anos, está preso e vai responder por vários crimes. Entre eles, o assassinato de Rafael.
“Uma carreta muito pesada. Mais de 40 toneladas. Ele está inclusive com uma carga. Ou seja, ele vira uma arma”, diz o delegado Jorge Álvaro Gonçalves Cruz.
A polícia tentou ouvi-lo, mas Roberval se manteve em silêncio. Ele ainda não contratou advogado.
Histórico de infrações
Roberval tem um longo histórico de infrações graves no trânsito. Entre janeiro de 2020 e outubro de 2023, ele foi multado 25 vezes. Os principais motivos: dirigir em alta velocidade, dirigir sob efeito de drogas e álcool e avançar o sinal vermelho. E por que as punições pararam em outubro de 2023?
Em outubro de 2023, Roberval já tinha, em alta velocidade, desafiado a polícia. Ele também não obedeceu a ordem de parar o caminhão. Passou correndo pelo pedágio e ainda fez zigue-zague na rodovia Anhanguera, uma das mais movimentadas do estado de São Paulo. Dessa vez, não houve nenhuma vítima. Roberval acabou preso em flagrante, na cidade de Cosmópolis.
Na época, ele confessou o consumo de cocaína e disse que dirigiu tendo alucinações. O caminhoneiro alegou que “a mãe tinha falecido naquele ano” e que “a esposa o deixou devido ao uso de entorpecentes”. Ele pôde responder em liberdade e ficou com a habilitação suspensa até agosto, depois que a defesa fez um acordo com o Ministério Público. Roberval pagou R$ 600 de multa e o processo foi extinto, sem punição.
Em 9 de setembro, recebeu a habilitação de volta. Treze dias depois, dirigiu de forma ainda mais perigosa e matou o metalúrgico Rafael da Silva Oliveira.
“Mandava nos áudios: ‘Ai minha rainha, você tá bem?’. E quando ele vinha, ele beijava a minha cabeça. É uma delícia um filho falar para mamãe que ama ela. Tenho certeza que ele vai me dar força. Onde ele estiver, ele vai me dar”, diz Maria de Lourdes da Silva Oliveira, mãe de Rafael.
Rafael deixou uma filha, de 9 anos, de um relacionamento anterior.
“É muito ruim você estar acostumado com a rotina com aquela pessoa e do nada você se vê sendo obrigada a seguir sozinha. É muito difícil. É uma dor muito grande. Mudou todo o percurso, né? Eu não sei como vai ser agora”, lamenta Carolina Rebouças, namorada de Rafael.
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