30 de setembro de 2024

Brega funk, forró, cumbia e até swingueira marcam jingles dos candidatos a prefeito do Recife

Cinco dos oito candidatos ao posto tem ao menos um jingle na campanha eleitoral deste ano. Cinco candidaturas à prefeitura do Recife usam jingles eleitorais em 2024
Montagem/g1
Os acordes da sanfona, o batuque do samba e o som eletrônico do brega funk estão inseridos na disputa por voto e na troca de alfinetadas na corrida pela prefeitura do Recife em 2024. Cinco dos oito candidatos ao posto tem ao menos um jingle, como são conhecidas as músicas que fazem parte das campanhas eleitorais.
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O g1 entrou em contato com todas as candidaturas para a prefeitura e fez um levantamento sobre os jingles oficiais das campanhas. As equipes de Ludmila (UP) e Simone Fontana (PSTU) afirmaram que não foram produzidos jingles para as candidatas. A assessoria de Victor Assis (PCO) não respondeu até a publicação dessa reportagem, mas não foi identificada nenhuma música atrelada ao candidato.
A seguir, os jingles de cada candidato, por ordem alfabética.
Dani Portela (PSOL)
Única candidata mulher com jingle na disputa pela prefeitura do Recife em 2024, Dani Portela tem duas canções oficiais. A mais divulgada é em ritmo de brega funk. A música usa da rima para passar a mensagem que “Recife tá com ela” e destaca que a candidata é “mulher negra, professora, mãe e amiga”.
A outra canção da campanha do PSOL é uma mistura de manguebeat com batidas de maracatu. Cantada por uma voz feminina, também exalta Dani Portela e diz que ela é “Recife com a cara da gente”, além de ressaltar a “flor no cabelo”, uma das marcas da candidata.
Daniel Coelho (PSD)
O candidato do PSD tem três jingles oficiais de campanha, de acordo com sua assessoria. “Recife sem filtro” critica, em ritmo de cumbia e maracatu, a atual gestão, diz que “foi feito pouco” e pergunta “tá bom pra quem?”. A melodia entoa no refrão “fala sério, eu quero um Recife sem filtro”, em referência à popularidade do prefeito João Campos(PSB) no Instagram.
O outro jingle é um forró estilizado, que diz que Daniel Coelho é um “cara arretado, também muito admirado” e que traz “a mudança”. Já na versão samba, fala que a eleição não é sobre Daniel (Coelho), nem João (Campos), mas “sobre Pedros, Manés e Josés, Marias, Joanas e Donas Zezés”, e alfineta a prefeitura com o trecho “sem maquiagem, sem engabelar”.
Gilson Machado (PL)
O candidato do PL é o que mais apresentou músicas oficiais de campanha. A assessoria do candidato enviou cinco canções, sendo dois forrós, um funk, um brega funk e até uma no estilo swingueira. Sanfoneiro da banda Brucelose, Gilson Machado destaca um forró que fala que é “gente de bem e Bolsonaro” e que a cidade “já não dá mais pra aguentar”.
Em outra versão de forró, a música da campanha destaca o número do candidato e diz que Gilson Machado “é o Recife mais forte” e que a cidade não pode “ser de uma família só”, em crítica velada ao clã político Campos-Arraes. A candidatura tem ainda um brega funk, um funk e uma versão swingueira que fala que “a cidade quer mudança” e diz “sai do Instagram, João”, em mais uma crítica ao prefeito.
João Campos (PSB)
A campanha do atual prefeito candidato à reeleição traz três jingles oficiais, de acordo com a assessoria. A música “O cara que faz” exalta a figura do prefeito e diz que ele é o “cara que faz o que ninguém fez”, em ritmo de brega funk. A canção diz ainda que o candidato é “diferenciado, dá resultado” e que “surpreendeu e fez sua história”.
Os outros dois jingles trabalham com os ritmos de maracatu, manguebeat e até acordes de samba. Em “João de novo”, a música fala que “meu prefeito só faz bem feito” seguida por gritos entoados como de uma torcida de futebol falando o nome e número do candidato. Já em “Abraço é laço”, com tom mais sentimental e com o ritmo de forró, destaca que com “um abraço se faz um amigo” e que a cidade “abraçou por inteiro” o prefeito.
Tecio Teles (Novo)
O candidato do Novo tem um jingle oficial, de acordo com a assessoria da campanha. A música vem em ritmo entre o axé e a swingueira. A canção diz que o Recife “quer o novo e uma nova história” e que Tecio Teles é a “hora da mudança”. A letra reforça o número do candidato e fala em “renovação”.
A força dos jingles eleitorais
Jarbas Vasconcelos celebra reeleição ao Governo de Pernambuco em 2002 ao lado de Marco Maciel e Sérgio Guerra, eleitos senadores.
Reprodução/TV Globo
O doutor em Ciência Política Bhreno Vieira destaca que a campanha eleitoral como conhecemos hoje no Brasil começou a ser gestada ainda na década de 1950. Com a baixa escolarização da época, os políticos apostavam nas músicas em contraposição a manifestos, que tinham mais força no exterior.
“Essas músicas de campanha funcionavam como uma espécie de um lembrete, de modo muito eficaz para gerar essa identificação, essa mobilização dos eleitores em torno da figura de um candidato de um partido político”, diz.
O cientista político lembra, ainda, que os jingles eleitorais dão um contexto mais personalista aos pleitos, no contexto do enfraquecimento dos partidos políticos com o passar do tempo. No caso de 2024, no Recife, de acordo com ele, o grande número de composições por candidato dificulta a memorização de um só jingle.
“Isso faz com que a população escute e memorize aquilo que ele acha mais interessante. Toda essa fragmentação de perfis acaba que não gera grandes jingles memoráveis como a gente tem na história da política”, afirmou.
Pernambuco tem eleições marcadas por jingles famosos. No retorno de Miguel Arraes ao governo do estado, em 1986, a canção remetia ao nome do candidato (“Arraes ‘taí’, Arraes ‘taí’ de novo”) e fez tanto sucesso que foi resgatada em 1994, quando Arraes foi eleito governador pela terceira vez.
Outro jingle famoso, “É Jarbas, Marco Maciel e Sérgio Guerra juntos pelo bem da nossa terra” foi um dos símbolos da campanha de 2002. Ele selou a vitória da chapa completa de Jarbas, que foi reeleito governador naquele ano, conseguindo ainda a vitória de seus dois candidatos ao Senado na época.
Para Bhreno Vieira, um jingle pode ir além de uma campanha. “Uma música bem construída, ela vai perpetuar por muitas vezes”, completa. Ele cita como exemplos jingles como “Lula lá”, usada por Lula (PT) em 1989, “É Eduardo É”, da primeira eleição para governador de Eduardo Campos, em 2006, e até do “varre, varre vassourinha”, utilizada por Jânio Quadros na corrida presidencial de 1960.
Nas história das eleições para prefeito do Recife, marcaram época as campanhas de João Coelho em 1985 com o jingle “vai dar Coelho na cabeça”, assim como a campanha de Joaquim Francisco, em 1988, que apostou no frevo “Voltei, Recife”, conhecido na voz de Alceu Valença, para conseguir sua segunda passagem no cargo.
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