26 de dezembro de 2024

Lagos do Amazonas onde 330 botos morreram em 2023 estão ainda mais quentes em 2024, aponta WWF Brasil

Fenômeno ocorre em meio a mais uma seca severa que atinge o estado e já castiga todos os municípios amazonenses. Mais de cem botos vermelhos e tucuxis apareceram mortos no lago Tefé (AM), desde o dia 23/09. A principal hipótese das mortes é a seca dos rios acima dos padrões já registrados e a alta temperatura da água
Miguel Monteiro / Instituto Mamirauá
Os lagos Tefé e Coari, no Rio Solimões, interior do Amazonas, que registraram a morte de 330 botos durante a seca do ano passado devido às altas temperaturas, estão ainda mais quentes em 2024. A informação é de um levantamento divulgado pelo WWF-Brasil e MapBiomas nesta segunda-feira (30).
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O Amazonas enfrenta mais uma severa estiagem este ano, que já afeta todos os 62 municípios, incluindo a capital. Dados da Defesa Civil indicam que mais de 745 mil pessoas estão sendo impactadas. Em Manaus, o nível do Rio Negro está a menos de um metro da marca recorde de seca de 2023.
De acordo com o levantamento dos órgãos, durante a seca do ano passado, 330 botos das espécies cor-de-rosa e tucuxi morreram nos lagos Tefé e Coari, no Rio Solimões. Naquele período, os pesquisadores registraram temperaturas da água que chegaram a 40ºC no dia de pico das mortes, em 29 de setembro.
EXTRA: veja as primeiras imagens dos mais de 200 botos mortos no Lago Tefé
Neste ano, a WWF-Brasil e o MapBiomas desenvolveram uma plataforma para monitorar 23 dos 60 lagos existentes na Bacia Amazônica. Os dados já indicam que a temperatura das águas está acima da média para esta época do ano, gerando preocupação entre os pesquisadores.
“O mais preocupante é que, em 23 de setembro, 12 desses lagos já estavam com temperaturas acima dos valores observados em 2023, ano no qual as águas atingiram temperaturas extremas, resultando em uma catástrofe para a população de botos da Amazônia”, afirmou Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil e uma das coordenadoras da plataforma.
“Esses lagos também acumulam de 5 a 9 meses com temperaturas médias acima do observado em 2023, ressaltando o estresse fisiológico acumulado pela sucessiva exposição a altas temperaturas e baixos níveis de água”, disse.
No lago Tefé, onde 209 botos morreram em 2023, as temperaturas estão 0,8 °C acima da média dos últimos cinco anos e 0,2 °C mais altas em comparação a 2023, segundo os dados da plataforma.
“O problema é que ainda temos pela frente mais dois meses de estação seca na Amazônia e esses números são um indício de que no auge do calor, entre setembro e outubro, teremos temperaturas bem acima das registradas no ano passado”, disse Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do MapBiomas Água.
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Durante a seca do ano passado, 330 animais das espécies cor-de-rosa e tucuxi morreram nos lagos Tefé e Coari, no Rio Solimões.
Adriano Gambarini/WWF-Brasil
Segundo a analista de conservação sênior do WWF-Brasil, Mariana Paschoalini, embora as mortes em massa de botos ocorrida no ano passado, tenham sido registradas apenas nos lagos Tefé e Coari, uma análise feita pelos pesquisadores do Instituto Mamirauá identificou um total de 23 lagos onde há presença de botos e que foram considerados áreas vulneráveis ao superaquecimento da água.
“Todos os 23 lagos têm uma geomorfologia semelhante e há potencial para a ocorrência do mesmo tipo de fenômeno. São lagos de conformação alongada que vêm do interior da floresta, começam a se alargar por grandes extensões muito rasas, até chegarem a um canal mais estreito onde se comunicam com o rio Solimões, drenando essa água superaquecida. Essas características contribuíram para a morte de botos nos lagos Tefé e Coari e por isso foram escolhidos como áreas prioritárias para monitoramento”, explicou.
Sempre que os satélites detectarem um aumento importante na temperatura da água de um desses lagos, um alerta será disparado para que as equipes possam se deslocar para um local específico e colocar em ação o protocolo de emergência sob comando do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “Esses alertas são essenciais para que tenhamos tempo hábil para agir”, diz Mariana.
🌡️Temperaturas podem subir rapidamente, alertam pesquisadores
Temperaturas podem subir rapidamente, alertam pesquisadores.
Adriano Gambarini/WWF-Brasil
Com o baixíssimo nível atual do Médio Rio Solimões, as temperaturas tendem a subir perigosamente nas próximas semanas, conforme uma análise feita pelo Instituto Mamirauá com dados coletados até 2 de setembro.
De acordo com o coordenador do Grupo de Geociências do Instituto Mamirauá, Ayan Fleischmann, esses dados foram obtidos a partir de sensores automáticos instalados em dois flutuantes no lago Tefé – que medem a temperatura a cada 10 minutos em diversas profundidades – e um monitoramento mensal em 24 pontos do lago.
“O nível do lago Tefé está em 6,35 metros, cerca de 1,6 metro acima do mínimo atingido no dia 23 de outubro de 2023. Quando a cota está abaixo de 7 metros, vemos que a água começa a ganhar calor muito rapidamente durante o dia. Já identificamos que o lago começou a esquentar nas últimas semanas. No dia 25 de agosto, alcançou 33 graus em toda sua profundidade – a maior temperatura do ano”, afirmou Fleischmann.
O superaquecimento dos lagos amazônicos é resultado da combinação de vários fatores, segundo o pesquisador, como:
🚱a redução da quantidade de água;
☀️excesso de radiação solar; e
🌅 água excessivamente turva, que facilita a difusão de calor no lago.
“Nos últimos dias choveu muito, o que resultou em um cenário mais favorável. Com isso, a temperatura ainda não chegou aos 40 graus, que é o limiar perigoso para os mamíferos aquáticos, mas estamos preocupados com as próximas semanas. No ano passado, observamos que 3 a 6 dias de sol intenso são suficientes para uma elevação rápida da temperatura, transformando o lago em uma verdadeira armadilha para os botos”, completou o pesquisador.
Risco não se restringe apenas ao aumento da temperatura na água
Lago Tefé, no Amazonas, onde botos morreram em 2023.
Adriano Gambarini/WWF-Brasil
“Com o estresse hídrico – baixo volume e extensão do lago, os botos ficam mais vulneráveis e expostos a conflitos com pescadores e outras interações antrópicas negativas” alertou a oceanógrafa Miriam Marmontel, líder do grupo de pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá.
“Na última semana, no Lago Tefé, ao menos uma morte de boto ou tucuxi foi registrada por dia, resultante de interação desses animais com atividades de pesca, navegação e retaliação direta”, finalizou.
Pesquisadores monitoram lago onde botos morreram, no Amazonas.
Adriano Gambarini/WWF-Brasil

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