Conflito entrou em nova fase após equipamentos de comunicação do Hezbollah serem explodidos em ação coordenada. Autoridades internacionais ainda tentam evitar ‘guerra total’ em meio à operação de Israel em território Libanês, iniciada nesta segunda (30). Casa atingida por mísseis do Hezbollah nas Colinas de Golã
AP Photo/Ariel Schalit
O Exército de Israel iniciou uma operação por terra no Líbano na madrugada de terça-feira (1º), pelo horário local — noite de segunda-feira (30), no Brasil. Segundo o Exército israelense, os ataques são limitados e contra alvos do grupo extremista Hezbollah.
A incursão terrestre é o mais novo capítulo da rápida escalada do conflito entre Israel e Hezbollah, que iniciou há 14 dias, com as explosões de pagers e de walkie-talkies de membros do grupo extremista no Líbano.
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Autoridades internacionais ainda estão tentando evitar que os confrontos entre Israel e o Hezbollah evoluam para uma guerra total. O presidente dos EUA, Joe Biden, disse nesta segunda (30) que o país ainda busca um cessar-fogo imediato na escalada entre as partes para evitar uma guerra. Biden já havia dito na Assembleia Geral da ONU que “uma guerra total não interessa a ninguém”.
A operação por terra de Israel é parte de uma “nova fase da guerra”, anunciada pelo país após as explosões dos aparelhos de comunicação do Hezbollah. Em resposta, o grupo extremista havia declarado estar em “guerra indefinida” contra os israelenses.
Veja abaixo algumas perguntas e respostas sobre o conflito entre Israel e o Hezbollah:
Por que Israel está atacando o Hezbollah?
Como e quando começou a atual troca de agressões entre Israel e Hezbollah?
Quais foram os ataques mais recentes?
Qual é a situação na fronteira entre Israel e Líbano?
O que é uma guerra total?
Qual seria o impacto de uma nova guerra total?
Israel e Hezbollah estiveram em guerra antes? Quando e quantas vezes?
O que Israel está planejando?
Por que Israel está atacando o Hezbollah?
Um tanque israelense avança no norte de Israel, perto da fronteira com o Líbano
Baz Ratner/AP
Israel diz que está atacando o Hezbollah porque o grupo libanês não permite que os cidadãos israelenses que moram ao norte do país, que faz fronteira com o Líbano, retornem às suas casas. Eles foram deslocados por bombardeios do Hezbollah em território israelense, que duram desde o ano passado.
Com isso, a “nova fase da guerra” anunciada pelo Exército israelense, e nomeada de “Operação Flechas do Norte”, busca fazer com que os combatentes do Hezbollah deixem as regiões ao sul do Líbano.
O Hezbollah prometeu continuar com os ataques contra Israel até que a guerra em Gaza termine.
O que é o Hezbollah, grupo extremista do Líbano que é alvo de Israel
Como e quando começou a atual troca de agressões entre Israel e Hezbollah?
Fumaça emerge no sul do Líbano após ataques israelenses, vista de Tiro, no Líbano, nesta segunda-feira (23).
Aziz Taher/Reuters
O Hezbollah faz parte do “Eixo da Resistência”, uma aliança de grupos apoiados pelo Irã em todo o Oriente Médio, que também inclui o grupo terrorista palestino Hamas, que desencadeou a guerra contra Israel na Faixa de Gaza ao realizar um ataque terrorista no sul de Israel há quase um ano, em 7 de outubro. O ataque do Hamas deixou cerca de 1.200 israelenses mortos e cerca de 250 foram levados para Gaza como reféns.
Declarando solidariedade ao Hamas, o Hezbollah começou a disparar contra posições israelenses na região fronteiriça em 8 de outubro.
Israel e Hezbollah têm trocado agressões quase diárias desde então, com o Hezbollah lançando foguetes e drones, e Israel realizando ataques aéreos e de artilharia. Dezenas de milhares de pessoas fugiram de suas casas em ambos os lados da fronteira.
O conflito se intensificou drasticamente em meados de setembro, quando milhares de dispositivos de comunicação sem fio usados pelo Hezbollah explodiram — em um ataque mortal amplamente atribuído a Israel — e um importante comandante do Hezbollah foi morto em um ataque aéreo israelense em Beirute.
As explosões de dispositivos eletrônicos do Hezbollah, nas quais milhares de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah explodiram simultaneamente, causou um impacto. Pelo menos 37 pessoas morreram, incluindo duas crianças, e cerca de 3.000 ficaram feridas. Israel não confirmou nem negou seu envolvimento.
Nesse meio tempo, Israel também matou o chefe do Hezbollah, Fuad Shukr, em um bombardeio em Beirute no final de julho, o que ajudou a elevar as tensões. O grupo extremista libanês havia prometido uma resposta, o que deixou israelenses sob alerta.
Quais foram os ataques mais recentes?
Pagers usados pelo Hezbollah explodiram, em 17 de setembro de 2024
Reuters
Os bombardeios entre Israel e o Hezbollah se intensificaram desde meados de setembro, após as explosões dos pagers e walkie-talkies de membros do grupo extremista no Líbano.
Desde então, o grupo libanês dispara centenas de mísseis por dia contra o território israelense, segundo Israel. Em contrapartida, o Exército de Israel bombardeiou milhares de alvos militares do Hezbollah espalhados pelo Líbano, principalmente no sul do país.
Os bombardeios israelenses mataram mais de mil pessoas no Líbano e causaram a fez com que milhares fugissem do sul do Líbano. Israel afirmou que realiza ataques a locais de armas do Hezbollah e que já atingiu milhares de alvos desse tipo. O ministro da Saúde do Líbano disse que hospitais, centros médicos e ambulâncias foram atingidos.
Antes dos bombardeios, o exército israelense alertou os moradores para deixarem imediatamente áreas onde o Hezbollah estaria armazenando armas. A mídia libanesa afirmou que o alerta de evacuação foi repetido em mensagens de texto.
Os bombardeios israelenses mataram comandantes de diversas unidades do Hezbollah. O mais impactante foi na última sexta-feira (27), quando um bombardeio preciso no QG do grupo extremista no sul de Beirute matou o número 1 do Hezbollah, Hassan Nasrallah.
Qual é a situação na fronteira entre Israel e Líbano?
Unidade de artilharia móvel israelense é vista perto da fronteira de Israel com o Líbano, na noite desta segunda-feira (30).
Baz Ratner/AP
A operação por terra de Israel começou aos poucos. Primeiro, moveram tropas para lá e estudaram como a realizar. Depois, o país informou aos Estados Unidos que iniciaria a incursão e nesta segunda-feira (30) declararam três áreas ao norte como “zonas militares restritas”.
As áreas isoladas pelas Forças Armadas de Israel são as cidades de Metula, Misgav Am e Kfar Giladi, no extremo norte de Israel.
Na noite desta segunda, Israel anunciou que começou a operação por terra. “As Forças de Defesa de Israel (FDI) começaram incursões terrestres limitadas, localizadas e direcionadas, com base em inteligência precisa, contra alvos e infraestrutura terrorista do Hezbollah no sul do Líbano. Esses alvos estão localizados em vilarejos próximos à fronteira e representam uma ameaça imediata às comunidades israelenses no norte de Israel”, disse o o comunicado israelense.
A expectativa é observar mais bombardeios israelenses no sul do Líbano para abrir caminho para o avanço das tropas pelo território.
O que é uma guerra total?
Uma guerra total, ou guerra generalizada, é um conflito armado em que dois adversários, que declaram guerra um contra o outro, mobilizam todos os seus recursos militares e civis em prol de uma vitória completa sobre o outro, o que pode afetar amplamente a sociedade e a economia das partes envolvidas.
Esse tipo de guerra geralmente envolve múltiplos fronts e pode incluir o uso de forças terrestres, aéreas e navais, além de operações cibernéticas e de inteligência.
Qual seria o impacto de uma nova guerra total?
O medo é que uma nova guerra possa ser ainda pior do que a de 2006, que foi traumática o suficiente para ambos os lados servirem como dissuasão desde então.
Os combates naquela época mataram centenas de combatentes do Hezbollah e cerca de 1.100 civis libaneses, deixando grandes áreas do sul e até partes de Beirute em ruínas. Mais de 120 soldados israelenses foram mortos e centenas ficaram feridos. O fogo de mísseis do Hezbollah sobre cidades israelenses matou dezenas de civis.
Muitos temem que uma guerra total entre Israel e o Hezbollah desestabilize ainda mais o Oriente Médio, já abalado pelos combates em Gaza. Um novo conflito teria o potencial de arrastar outros países na região — grupos armados de outros países poderiam reforçar o Hezbollah — e até potências mundiais, como os Estados Unidos, aliado de Israel, e o Irã, aliado do Hezbollah.
Israel estima que o Hezbollah agora possua cerca de 150 mil foguetes e mísseis, alguns dos quais são guiados com precisão, colocando todo o país dentro de seu alcance. Israel reforçou suas defesas aéreas, mas não está claro se pode se defender contra as intensas barragens de uma nova guerra.
Israel prometeu que poderia transformar todo o sul do Líbano em uma zona de batalha, afirmando que o Hezbollah tem embutido foguetes, armas e forças ao longo da fronteira. E, na retórica elevada dos últimos meses, políticos israelenses falaram em causar o mesmo dano no Líbano que o exército provocou em Gaza.
Lançador de mísseis em vídeo do Hezbollah
Hezbollah/Telegram
Israel e Hezbollah estiveram em guerra antes? Quando e quantas vezes?
Sim, uma vez. O conflito mais notável entre eles ocorreu em 2006, no episódio conhecido como Guerra do Líbano. A guerra durou cerca de cinco semanas e resultou em significativas perdas humanas e materiais de ambos os lados.
O conflito foi desencadeado pelo sequestro de dois soldados israelenses por membros do Hezbollah. Para Israel, o episódio foi uma gota d’água das tensões que se desenrolavam desde 2000. O governo israelense decidiu lançar um ataque em território libanês, deixando quase 1.200 mortos, majoritariamente civis, e cerca de um milhão de deslocados só dentro do país vizinho.
Para além da Guerra do Líbano, confrontos e escaladas de violência de menor proporção ocorreram em diversos outros momentos.
O bombardeio israelense de 23 de setembro marcou o dia mais sangrento no Líbano desde a guerra de 2006.
O que Israel está planejando?
Benjamin Netanyahu
Government Press Office/Israel
Autoridades israelenses dizem que ainda não tomaram uma decisão oficial de expandir as operações militares contra o Hezbollah — e não declararam publicamente quais poderiam ser essas operações. No entanto, na semana passada, o chefe do Comando Norte de Israel foi citado na mídia local defendendo uma invasão terrestre do Líbano.
Enquanto isso, à medida que os combates em Gaza diminuíram, Israel aumentou suas forças ao longo da fronteira libanesa, incluindo a chegada de uma poderosa divisão do exército que se acredita incluir milhares de tropas.
O Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, declarou na semana passada o início de uma “nova fase” da guerra, à medida que Israel direciona seu foco para o Hezbollah.
“O centro de gravidade está mudando para o norte”, disse ele.
Uma trégua mediada pela ONU na guerra de 2006 exigia que o Hezbollah recuasse 29 quilômetros (18 milhas) da fronteira, mas o grupo se recusou, acusando Israel de também não cumprir algumas disposições. Israel agora exige que o Hezbollah se retire de oito a 10 quilômetros (cinco a seis milhas) da fronteira — o alcance dos mísseis guiados antitanque do Hezbollah.
A guerra de 2006, desencadeada quando combatentes do Hezbollah sequestraram dois soldados israelenses, incluiu bombardeios pesados de Israel no sul do Líbano e em Beirute, e uma invasão terrestre no sul. A estratégia, disseram os comandantes israelenses mais tarde, era causar o máximo de danos nas áreas onde o Hezbollah operava para dissuadi-los de lançar ataques.
No entanto, Israel pode ter um objetivo mais ambicioso desta vez: tomar uma “zona-tampão”, uma espécie de área neutra de proteção territorial para os dois lados, no sul do Líbano para afastar os combatentes do Hezbollah da fronteira. Uma luta para manter o território ameaça uma guerra ainda mais longa, destrutiva e desestabilizadora — lembrando a ocupação de Israel no sul do Líbano de 1982 a 2000.