26 de dezembro de 2024

Condenadas por falar o óbvio: dupla vive batalha judicial por rebater a falsa associação entre diabetes e verme

Na segunda (30), o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu decisão da Justiça de São Paulo que condenou duas cientistas a pagarem indenização por danos morais. Ana Bolassa, à esquerda, e Laura Marise produzem conteúdo sobre ciência e combatem a desinformação.
Divulgação/Nunca Vi Um Cientista
Um vídeo que desmentia a relação entre a diabetes e vermes foi o que rendeu às cientistas Laura Marise e Ana Bonassa, do canal Nunca Vi Um Cientista, um processo judicial movido por um nutricionista e influenciador que pretendia vender um “protocolo de desparasitação”.
Na segunda (30), o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu decisão da Justiça de São Paulo que condenou as duas cientistas a pagarem indenização por danos morais.
“A suspensão da sentença é muito importante para mostrar que a ciência está vencendo a primeira batalha”, afirma Laura Marise, farmacêutica-bioquímica e pós-doutora em bioquímica.
Apesar da disputa judicial envolvendo a dupla, a explicação das cientistas sobre o tema está correta.
➡️A diabetes é caracterizada pela produção insuficiente ou má absorção da insulina, hormônio que regula a glicose no sangue. O órgão que tem relação direta com a doença é o pâncreas, que produz a insulina – e não é atacado por vermes. Portanto, parasitas e diabetes não têm nenhuma relação. (entenda mais abaixo)
“A ideia é bem absurda. Até quem é leigo no assunto sabe que verme não está correlacionado a diabetes”, avalia Ana Bonassa, bióloga e doutora em ciências.
O canal das cientistas na internet é dedicado a desmistificar temas ligados à ciência e também combater desinformação científica.
Entre os vídeos que esclarecem informações incorretas que já circularam nas redes estão, por exemplo, conteúdos sobre a qualidade dos medicamentos genéricos e sobre as vacinas contra a Covid-19.
“A pessoa que vai produzir uma desinformação gasta muito pouco tempo, mas para desmentir é muito mais difícil. Combater desinformação é um trabalho sem fim”, comenta Ana.
Diabetes tipo 1 pode ter progressão freada por medicamento utilizado no tratamento de artrite, aponta estudo
Desinformação na ciência
Apesar da vitória parcial com a suspensão da decisão, o processo continua, assim como o trabalho diário da dupla para combater informações falsas.
“Tem dias que parece que a gente está enxugando gelo. A gente desmente algo e, logo na sequência, parece que surge milhares que novos conteúdos falsos sobre o assunto”, lamenta Laura.
Além da falsa associação entre a diabetes e os vermes, o vídeo desmentido pelas cientistas tinha como objetivo a venda de um produto denominado “protocolo de desparasitação” para o tratamento.
Laura lembra que não há um protocolo padrão de desparasitação. “Se você procurar na internet, você acha várias técnicas, vários produtos, mas sem nenhuma base científica”, explica.
❗Nenhuma dessas receitas pode ser usada contra parasitas e nem, claro, para combater a diabetes.
As cientistas ainda afirmam que o combate à desinformação se torna muito desafiador porque, muitas vezes, são conteúdos que trazem soluções imediatas para as pessoas.
“A informação de verdade nem sempre vai trazer uma solução fácil. A gente tentar educar nosso público para desconfiar das coisas”, diz Laura.
Diabetes: 7 em cada 10 pacientes só descobrem a doença após terem complicações; veja sintomas
Diabetes e vermes
Considerada uma patologia crônica, isto é, que não tem cura, a diabetes resulta na elevação do nível de açúcar no corpo. Estima-se que cerca de 17 milhões de pessoas vivam com diabetes no Brasil.
➡️Há dois tipos mais comuns da doença:
Tipo 1
É uma doença autoimune na qual o sistema imunológico ataca e mata as células do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina.
Esse tipo de diabetes aparece geralmente na infância ou na adolescência, mas o diagnóstico também pode ser feito já na fase adulta.
Segundo o Ministério da Saúde, entre os principais sintomas desse tipo da doença estão sede, emagrecimento, cansaço e fraqueza.
Tipo 2
Acontece quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz ou não produz insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia. Ele acontece com mais frequência os adultos e está diretamente relacionado à sobrepeso, sedentarismo e dieta inadequada.
Os sintomas são aumento de apetite, muito xixi, formiga no vaso sanitário, fraqueza e dor nas pernas.
Esse tipo de diabetes pode ser prevenido ou retardado com comportamentos saudáveis como prática regular de exercícios físicos e dieta balanceada.
Pessoas com diabetes fazem aplicações diáras de injeções de insulina.
Reprodução/EPTV
Em ambos os casos, os pacientes precisam fazer aplicações diárias de injeções de insulina para controlar a quantidade de glicose no sangue.
Já os vermes são como popularmente são conhecidos os parasitas. As infecções parasitárias causadas por esses organismos são, geralmente, de transmissão oral-fecal e afetam o sistema digestivo.
Esse tipo de infeção causa, de forma geral, dor abdominal, diarreia, náuseas e vômitos. O tratamento é feito com medicamentos antiparasitários.
Próximos passos do processo
Ainda que a suspensão realizada pelo STF tenha sido favorável às cientistas, a decisão é apenas liminar. A partir disso, a Procuradoria-Geral da República (PGR) será intimada a se manifestar. Também deve acontecer um julgamente de mérito, do qual cabe recurso.
Caso a setença permaneça cassada, deve haver um novo julgamento em primeira instância.
“Várias pessoas já estiveram ou vão estar em nosso lugar e é importante lutar para que a setença não seja concretizada”, defende Laura.
Enquanto dão sequência ao processo, a dupla vai seguir produzindo conteúdo sobre ciência e combatendo desinformação.
“Essa vitória é muito importante porque ela garante que a gente possa seguir fazendo nosso trabalho”, afirma Ana.
Justiça condena duas cientistas por desmentirem fake news sobre diabetes

Mais Notícias