1 de outubro de 2024

Caneta contra obesidade: estudo aponta que liraglutida reduz peso de crianças entre 6 e 12 anos

Estudo publicado no ‘New England Journal of Medicine’ mostra que o uso da substância, em combinação com mudanças no estilo de vida, pode oferecer uma redução significativa no IMC de crianças com obesidade. Atualmente, não existe nenhuma medicação aprovada para essa faixa de idade. Aumento da obesidade infantil é apontado como um importante fator para o avanço da diabetes
PA Media
A liraglutida (vendida sob os nomes comerciais Saxenda e Victoza) pode se tornar mais uma ferramenta contra a obesidade infantil. Um estudo recente publicado na revista científica “New England Journal of Medicine” (NEJM) analisou a performance da substância entre crianças de 6 a 12 anos com obesidade. Atualmente, o medicamento está aprovado no Brasil para adolescentes a partir de 12 anos.
Segundo os dados, o tratamento com a liraglutida por 56 semanas, juntamente com intervenções de estilo de vida, resultou em uma maior redução no índice de massa corporal (IMC) se comparado com o placebo mais mudanças no estilo de vida.
📍O índice de massa corporal (IMC) é o peso em quilos dividido pela altura ao quadrado. Entre 25 e 29,9 é considerado sobrepeso. Se for superior a 30 é considerado obesidade.
“Pela primeira vez, temos evidências robustas que demonstram que a liraglutida, aliada a intervenções de estilo de vida, pode proporcionar uma redução significativa e clinicamente relevante no IMC em crianças entre 6 e 12 anos. Isso nos oferece uma nova esperança no combate à obesidade, uma condição crônica que, infelizmente, tem aumentado de forma alarmante”, pontua Marcela Saturnino Caselato, endocrinologista e diretora de medical affairs da Novo Nordisk.
📍A liraglutida é “prima” da semaglutida, substância usada no Ozempic e no Wegovy. Os medicamentos são análogos (muito parecidos) ao hormônio GLP-1 e reduzem o apetite, dando a sensação de saciedade (veja aqui como as canetas funcionam).
Resultados são promissores
Para endocrinologistas ouvidas pelo g1, esse novo estudo trouxe resultados promissores, já que os pacientes de 6 a 12 anos não têm nenhum tipo de medicação aprovado para tratamento da obesidade e, de acordo com estimativas, 50% das crianças brasileiras estarão com sobrepeso em 2035 se as tendências atuais continuarem (veja mais abaixo).
“O que vemos na prática é que existe essa necessidade de estudos para essa população. Antes, existia uma ideia de que, quando se tinha obesidade nessa idade, as crianças chegariam na puberdade, iriam crescer e iriam ficar com o peso normal. O que vemos hoje não é isso. Se a criança tem obesidade, a tendência é que ela seja um adolescente com obesidade e logo um adulto com obesidade”, alerta Maria Edna de Melo, endocrinologista e presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
📍Estudos populacionais mostram que uma criança com obesidade de 2 a 6 anos de idade tem 90% de chance de permanecer com obesidade quando adolescente e na vida adulta 84% de chance de estar com IMC acima de 30.
“Os resultados foram interessantes, clinicamente significativos e mostram uma consistência do efeito da medicação, que já foi estudada em adolescentes e que já é aprovada para crianças acima de 12 anos. É importante ter esse tipo de estudo no horizonte e pode ser sim uma estratégia terapêutica no futuro”, completa Cynthia Valerio, endocrinologista e membro da diretoria da Associação Brasileira para Estudos da Síndrome Metabólica e Obesidade (ABESO).
As especialistas ressaltam que é ainda é preciso ter mais estudos para poder analisar também os efeitos a longo prazo.
A orientação é mudar o estilo de vida, reduzir telas, ter uma dieta bem balanceada e exercício físico
G1
Estratégias contra obesidade
Como dito, não existe uma medicação aprovada para o tratamento da obesidade nessa faixa de idade. A orientação é mudar o estilo de vida, reduzir telas, ter uma dieta bem balanceada e exercício físico. No entanto, muitas vezes essas estratégias são limitadas em termos de eficácia.
“O paciente que tem obesidade, quando ele chega para avaliação, ele será encaminhado para nutricionista para ajustar a rotina de alimentação. E essa orientação não é uma dieta especial, é tirar o que não deve fazer parte do dia a dia. É fundamental que as famílias não deixem o acesso livre aos alimentos que não são necessários”, diz Maria Edna de Melo.
As endocrinologistas lembram que a alimentação é principal medida contra a obesidade. A atividade física vem em seguida e não são 30 minutinhos por dia. O ideal é uma hora de atividade física moderada a intensa todos os dias.
“É importante levar a criança para avaliação pediátrica para ver se eles estão na curva de crescimento. A avalição na infância e adolescência é por percentis, não é um cálculo tão exato só utilizando IMC normal. É preciso ver no gráfico, já que elas estão em fase de crescimento”, aponta Cynthia Valerio.
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50% das crianças brasileiras com sobrepeso em 2035
Segundo o Atlas Mundial da Obesidade, que reúne dados de 186 nacionalidades, 20 milhões de crianças brasileiras terão sobrepeso em 2035. Esse número representa 50% do público infantil. Em nível mundial, a federação diz que, se as tendências atuais continuarem até 2035, 770 milhões de crianças e adolescentes devem viver com sobrepeso e obesidade — um aumento de 22% (em 2020) para mais de 39% até 2035.
Uma análise publicada na revista The Lancet apontou que 159 milhões de crianças e adolescentes viviam com obesidade em 2022. Ao longo dos últimos 30 anos, as taxas de obesidade entre crianças e adolescentes em todo o mundo aumentaram quatro vezes — em meninas subiu de 1,7% para 6,9%; nos meninos, de 2,1% para 9,3%, entre 1990 e 2022.
“Esse tipo de diagnóstico vem acompanhado com outras comorbidades relacionadas ao peso. A gente vê uma maior prevalência de diabetes tipo 2 em uma faixa de adolescentes que não possuíam esse diagnóstico, hipertensão, redução de HDL”, ressalta Cynthia Valerio.
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