2 de outubro de 2024

Mãe tenta fugir com crianças do Líbano após ataque matar marido e filha brasileira

‘Dormem debaixo de viaduto, dormem na mesquita, dormem na escola para tentar fugir’, diz familiar Solange Barbieri, que mora em Santa Catarina e tenta trazer cunhada e seus três sobrinhos. Bbrasileira de 16 anos morta em ataque no Líbano com o pai
Arquivo Pessoal/Divulgação
A família da brasileira Mirna Raef Nasser, de 16 anos, que foi encontrada morta abraçada ao pai após um ataque no Líbano, tenta deixar o país para se refugiar no Brasil. De acordo com Solange Barbieri, a mãe e os três irmãos pequenos da adolescente buscam alternativas para chegar a Santa Catarina, onde têm parentes.
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Além da guerra e das mortes dos familiares, confirmadas em nota pelo Itamaraty, a casa onde moravam ficou destruída no ataque de 23 de setembro. O órgão foi questionado pelo g1 sobre a ajuda com a vinda da família ao Brasil, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
“Todo dia eles estão em um lugar diferente, porque eles estão fugindo. Dormem debaixo de viaduto, dormem na mesquita, dormem na escola para tentar fugir. Eles querem vir o mais rápido possível. Não têm onde eles ficarem”, afirmou.
Mirna nasceu em Balneário Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina, e é filha de Ikram Yassine e Raef Hussein Nassser, também morto no ataque. Solange mora no litoral catarinense e é casada com Ali Bu Khaled, irmão do homem morto.
Às 15h desta terça, Solange relatou que conseguiu falar rapidamente com Ikram antes da ligação cair. A mulher relatou que estava batendo de porta em porta e se movimentando enquanto fugia dos bombardeios
“Eles não têm condições de ficar no Líbano, eles não têm. Eles não têm nem casa para morar, está destruído”, comentou a tia.
O pai de Mirna tinha 44 anos quando morreu.
Irmãos de Mirna tentam deixar o Líbano com a mãe e ir para o Brasil
Arquivo pessoal
A especialista em direito internacional Priscila Caneparo explicou que seria mais fácil para a família vir para o Brasil se Mirna estivesse em território brasileiro.
Da forma como tudo ocorreu, a família precisa vir para o Brasil como turista e, depois, pedir refúgio (veja mais informações abaixo).
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Como foi a morte
A adolescente e a família deixaram a residência por conta dos ataques no Líbano que tiveram início há cerca de duas semanas. Mirna e o pai dela, porém, precisaram voltar horas depois para pegar roupas e materiais escolares.
Antes do ataque, a menina ainda enviou uma mensagem para a mãe dizendo que sentia que iria morrer e se despediu, segundo o relato do tio Khaled (assista ao vídeo abaixo).
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Vinda de libaneses ao Brasil
Priscila Caneparo explicou mais sobre as regras para que libaneses possam vir para o Brasil.
“É necessário, primeiramente, que eles façam um pedido de visto em algum consulado brasileiro no Líbano, já que o Brasil impõe, como condição para o ingresso, o visto para pessoas de tal nacionalidade. Nesse sentido, até o presente momento, não há a possibilidade de entrarem sem atender tal condição. Deve-se lembrar que a concessão do visto é determinada pela vontade brasileira, já que se traduz como um exercício de soberania”.
Estando no país, é possível pedir o refúgio.
“Se conseguirem chegar até aqui, o libanês é passível de pedir o instituto do refúgio, já que saiu de seu país devido à grave e generalizada violação de direitos humanos, como dispõe o artigo primeiro da Lei do Refúgio (Lei 9474/1997). Não obstante, o Brasil pode fazer – como aconteceu no caso dos sírios, afegãos e haitianos – uma portaria que conceda a acolhida humanitária, facilitando a permanência dos libaneses que aqui se encontram, já que o processo de obtenção do refúgio é demorado”.
Há situações em que o libanês pode pedir reunião familiar, mas o parente precisa estar no Brasil, explicou.
“Caso a pessoa tenha cônjuge ou companheiro brasileiro, seja filho de brasileiro ou estrangeiro beneficiário de autorização de residência no Brasil, seja enteado de brasileiro ou beneficiário de autorização de residência no Brasil, tenha filho ou beneficiário de autorização de residência no Brasil, ascendente até segundo grau de brasileiro ou beneficiário de autorização de residência no Brasil, irmão de brasileiro ou beneficiário de autorização de residência no Brasil ou que tenha brasileiro sob sua tutela, curatela ou guarda, desde que a pessoa se encontre no Brasil, pode fazer o pedido de visto para reunião familiar, que acaba sendo mais célere”.
Quem era a brasileira
De acordo com Khaled, a brasileira se destacava na escola e saiu do Brasil com 1 ano e 2 meses. Ao finalizar os estudos, ela planejava voltar ao país para conhecer a cidade que nasceu.
“Ela era uma menina muito inteligente na escola, era alegre, cuidava, gostava da família, de estudar”, destacou o tio.
O que disse o Itamaray sobre a morte da jovem
O governo brasileiro tomou conhecimento, com grande pesar e consternação, da morte, no Sul do Líbano, da adolescente brasileira Mirna Raef Nasser, de 16 anos, natural de Balneário Camboriú – Santa Catarina. Segundo relato familiar, a adolescente e seu pai, de nacionalidade libanesa, foram atingidos por bombardeio aéreo, em casa, na segunda-feira, 23/9.
Trata-se da segunda vítima brasileira atingida pelos intensos bombardeios aéreos israelenses na região. A Embaixada do Brasil em Beirute está prestando assistência à família da adolescente.
Ao expressar à família as mais sentidas condolências, o governo brasileiro reitera a condenação, nos mais fortes termos, aos contínuos ataques aéreos israelenses contra zonas civis no Líbano e renova o apelo às partes envolvidas para que cessem imediatamente as hostilidades.
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