4 de outubro de 2024

Em visita a comunidades, MPF reúne demandas quilombolas e ribeirinhas em Oriximiná

Reuniões foram realizadas presencialmente, durante três dias de trabalhos. Membros do MPF em reunião com moradores de comunidades de Oriximiná
MPF / Divulgação
Ministério Público Federal (MPF) realizou, em setembro, uma rodada de visitas presenciais a comunidades tradicionais de Oriximiná, na região do Baixo Amazonas, para levantar demandas e compartilhar informações úteis para a efetivação de direitos. Em quatro comunidades quilombolas (Mussurá, Jarauacá, Jauari e Pancada) e em uma comunidade que tem famílias ribeirinhas e quilombolas (Nova Aliança), foi detectada a falta crônica de assistência aos territórios, sobretudo quanto às ações de proteção das áreas tradicionais.
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Entre os temas mais frequentes nos diálogos, estiveram a necessidade de efetivação de direitos a serviços e políticas públicas essenciais, como acesso à saúde, educação e água; acesso a políticas públicas voltadas especificamente a territórios quilombolas e a comunidades ribeirinhas; urgência da resolução de questões territoriais e de regularização fundiária, além de riscos à subsistência das comunidades provocados pela entrada de pessoas não autorizadas, principalmente para atividades exploratórias, como a pesca predatória.
Os trabalhos, que duraram três dias e exigiram quase 24 horas de deslocamento por rios da região, cumpriram dispositivos previstos na Resolução nº 230/2021 do Conselho Nacional do Ministério Público, que estabelece que a atuação do Ministério Público junto aos povos e comunidades tradicionais se pautará pela observância da autonomia desses grupos e pela construção de diálogo intercultural permanente, de caráter interseccional, sendo a presença física nos territórios um dos requisitos para que esse tipo de diálogo ocorra.
Encaminhamentos
Entre as definições gerais compartilhadas pelo procurador da República Paulo de Tarso Moreira Oliveira durante as visitas, o MPF decidiu instaurar procedimento para averiguar a conformidade e legalidade dos acordos de pesca aprovados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) na região e a compatibilidade desses acordos com a gestão das unidades de conservação e o modo de vida dos povos e comunidades tradicionais das respectivas áreas de abrangência.
Comunitários apresentaram demandas em reunião com o MPF
MPF / Divulgação
Sobre deficiências na área da educação, que incluem denúncias sobre suposta violação de direitos trabalhistas de professores, o MPF também decidiu abrir investigação, em articulação com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o Ministério Público do Trabalho (MPT), além de tratativas com a Secretaria de Educação do Município de Oriximiná.
O MPF também decidiu abrir procedimento para propor e acompanhar iniciativas necessárias para a atualização dos dados de membros das comunidades quilombolas de Oriximiná no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) e colocou-se à disposição das comunidades para atuar no reforço da fiscalização ambiental nos territórios, em articulação com a Semas. Além disso, o MPF registrou que, a partir de informações sobre violações de normas nos territórios, podem ser abertos inquéritos para apurar a responsabilidade criminal dos infratores.
Apoio das comunidades
Para apoiar a atuação do MPF, associações e lideranças quilombolas comprometeram-se a levantar dados sobre o histórico das tratativas, no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), para a inclusão de quilombolas na relação de beneficiários dos programas geridos pela autarquia. Com esses dados, o MPF fará uma análise legislativa do tema e adotará as providências necessárias para a efetivação dos direitos das famílias.
Procurador da República Paulo de Tarso em conversa com liderança quilombola
MPF / Divulgação
Em relação à comunidade Pancada, da Terra Quilombola Erepecuru, a Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Município de Oriximiná (Arqmo) deve enviar ao MPF um relatório com informações sobre os impactos gerados na região pela retirada das bases ambientais antigamente instaladas na comunidade. Também foi definido que a Arqmo vai informar o MPF sobre procedimento relativo ao gerenciamento da área da comunidade.
Ainda sobre a comunidade Pancada, a Arqmo assumiu o compromisso de solicitar à Secretaria de Assistência Social do Município de Oriximiná a realização de mutirão para atualização e abertura de cadastro no CadÚnico das famílias. O MPF informou que apoiará essa iniciativa por meio do encaminhamento de comunicação formal à Prefeitura de Oriximiná e à Secretaria de Assistência Social.
Convidados e participações
Além de representantes do MPF, das famílias das comunidades, de lideranças locais e da Arqmo, os eventos contaram com a presença de integrantes da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo da Área Trombetas (Acorqat). A Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Erepecuru (Acorque) esteve presente nas reuniões nas comunidades Nova Aliança, Jauari e Pancada.
MPF em visita a comunidade rural de Oriximiná para levantar informações sobre demandas de quilombolas e ribeirinhos
MPF / Divulgação
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Mineração de Oriximiná esteve presente na reunião da comunidade Mussurá, que também contou com a participação de representantes de áreas quilombolas do entorno da comunidade. Representantes do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome e da organização Projeto Saúde e Alegria participaram da reunião na comunidade Jauari.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio) foram convidados, mas não enviaram representantes para a reunião na comunidade Nova Aliança. O Ideflor-Bio também não compareceu à reunião na comunidade Pancada. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não enviou representantes para a reunião na comunidade Jauari.
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