5 de outubro de 2024

Acusado de estuprar Gisèle Pelicot diz que não lembra de nada porque também foi drogado

Nesta quinta (3), no julgamento de Dominique Pélicot, que confessa ter drogado a ex-mulher por 10 anos para que desconhecidos a violassem, um dos 50 homens acusados dos abusos se defendeu: ‘Nunca me disse que a mulher estava dormindo, drogada e que eu ia estuprá-la’. Gisele Pélicot
Miguel MEDINA / AFP
Um dos 50 homens acusados de estuprar a francesa Gisèle Pélicot com o consentimento do ex-marido dela disse que não se lembra de nada e que, assim como a vítima, teria sido drogado por Dominique Pélicot, na audiência desta quinta-feira (3) do julgamento do caso, que começou há um mês.
“O senhor Pelicot me drogou porque me ofereceu algo para beber”, disse o homem, que ao ser questionado por que não prestou queixa se acredita que foi drogado, afirmou: “Foi um encontro ruim. Você esquece tudo e acabou”.
Jean T., um ex-carpinteiro de 52 anos, usava o pseudônimo “Bill” no site coco.fr, onde conheceu Dominique e marcou o encontro. Ele é um dos poucos acusados que esteve na casa dos Pélicot em Mazan, no sul da França, durante o dia.
“Ele nunca me disse que a mulher estava dormindo, drogada e que eu ia estuprá-la”, defendeu-se nesta quinta-feira, posição que o principal réu rapidamente rejeitou: “Todos sabiam”, reiterou.
Nas quase 10 cenas gravadas pelo ex-marido de Gisèle, no dia 21 de setembro de 2018, data em que Jean esteve na casa deles, a vítima aparece roncando. Em uma delas, Jean T. levanta o polegar em sinal de satisfação, na direção da câmera.
Perante o tribunal, o acusado garantiu que desconhecia que estavam sendo gravados e que soube quando os investigadores lhe mostraram os vídeos após sua prisão.
Embora durante o julgamento tenha garantido não se lembrar de nada, conseguiu descrever detalhadamente o ‘modus operandi’ do marido: estacionar longe, entrar em casa pelo pátio e despir-se na cozinha.
Questionado se pediu o consentimento de Gisèle Pelicot, respondeu que “nas relações libertinas em geral são os homens que falam” e “a mulher sempre espera”.
As declarações do acusado geraram um olhar de desdém por parte da vítima que, desde o início do julgamento, afirma que nunca deu seu consentimento ao marido ou a qualquer dos acusados e que desconhecia os fatos.
Nesta quarta (2), outro acusado, Jérôme V., de 46 anos, ex-funcionário de um supermercado que visitou a casa do ex-casal seis vezes entre março e junho de 2020, em plena pandemia, admitiu o crime:
“Eu não voltava porque gostava do ‘modo estupro’, mas porque não conseguia controlar minha sexualidade. Queria sair disso, fugia, esperava que ele não me contatasse novamente, mas não fiz nada para impedir. É difícil explicar por que eu não fui capaz de dizer ‘isso tem que parar’. Tinha medo do impacto, de que ele divulgasse as fotos. Eu não sabia dizer ‘não’ ao senhor Pélicot”.
Dominique Pélicot está sendo julgado, com outros 50 homens, por drogar secretamente sua então esposa entre 2011 e 2020 para estuprá-la com dezenas de estranhos.
O idoso, de 71 anos, nunca negou o crime. Em depoimento, no dia 17 de setembro, ele admitiu: “Sou um estuprador”.
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