4 de outubro de 2024

Saem o vermelho, verde e amarelo e entra o ‘azul institucional’; especialistas analisam candidatos à Prefeitura de Vitória

Especialistas examinaram materiais de campanha a pedido do g1. “Exploraram imparcialidade dentro do cenário político de antagonismo entre direita e esquerda”, pontuou pesquisadora de Semiótica Discursiva. Candidatos à Prefeitura de Vitória: Assumção (PL), Camila Valadão (PSOL), Du (Avante), João Coser (PT), Lorenzo Pazolini (Republicanos) e Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSBD)
Reprodução
Seis candidatos estão na disputa pelo comando da Prefeitura da Vitória para o próximos quatro anos. Nas campanhas da Eleições 2024, na construção das identidades visuais, a maioria foi para um caminho diferente do tradicional. O “azul institucional” foi a cor predominante na vestimenta, além de fugirem das cores tradicionais representadas pelas ideologias políticas.
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O g1 convidou especialistas para analisar materiais de campanha dos candidatos. Por ordem alfabética, confira o conjunto de elementos desenvolvidos por Assumção (PL), Camila Valadão (PSOL), Du (Avante), João Coser (PT), Lorenzo Pazolini (Republicanos) e Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), para transmitir a mensagem que desejam durante a candidatura deste ano.
A Doutora em Educação e pesquisadora de Semiótica Discursiva, Larissa Zani, analisou o material visual da campanha dos candidatos e o perfil deles no Instagram.
Nas eleições de 2020, os candidatos mais alinhados à direita utilizaram símbolos azul e amarelo; e os que se posicionavam como esquerda, usaram o vermelho.
Neste ano, devido à polarização política que o país vive, é possível verificar uma divisão cromática entre os partidos. Aqueles mais alinhados à direita exploram mais as cores azul e amarela; e nas campanhas dos partidos de esquerda, prevalece o laranja e o vermelho alaranjado.
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Segundo Larissa, isso revela os esforços da maioria dos candidatos para alcançar um número de votos maiores, ao tentar expressar uma certa “neutralidade”.
A publicitária, doutora em educação e especialista em Administração Estratégica em Marketing, Maria Nazareth Bis Pirola, verificou que, de modo geral, a estrutura da maioria dos candidatos é bem parecida.
“Eles se apresentam com uma neutralidade imaginária. De um modo geral, a estrutura das campanhas é muito semelhante. Não há grandes diferenças assim em relação ao marketing político em relação à comunicação que está sendo feita para convencer os eleitores”, analisou.
Outra distinção apontada por Maria Nazareth é a polarização do uso da tipografia e da linguagem escolhida por eles. Para a especialista, os conversadores utilizaram um vocabulário mais formal e os progressistas, informal.
Disse ainda que a maioria dos candidatos vestiu peças azul claro e branca, muito comum no campo corporativo, trazendo ar de formalidade e institucionalidade. A candidata Camila Valadão foi a única que escolheu algo diferente, optando por uma camisa rosa, sendo um tom atribuído historicamente à feminilidade.
Assumção (PL)
Assumção (PL), candidato à Prefeitura de Vitória
Reprodução Redes Sociais
“O candidato Assumção não adotou a patente de coronel nas eleições municipais, como fez em sua candidatura para Deputado Estadual. Em sua vestimenta, usou uma peça azul claro, dando um distanciamento do militarismo, que explorou na sua última candidatura, onde usou farda”, destacou Larissa Zani.
Apesar disso, Assunção foi quem mais abordou elementos da bandeira nacional e símbolos conservadores, historicamente associadas à direita, afirmando a posição do seu partido (PL).
“O slogan ‘Força, Fé e Vitória’, o que reitera os princípios do partido de extrema direita para o qual a fé cristã é um princípio inegociável. O amarelo ao fundo remete ao sol nascente, um novo dia, o que demonstra o texto verbal da candidatura que diz ‘Uma nova Jornada começa aqui’”, observa a especialista em semiótica.
Camila Valadão (PSOL)

Camila Valadão (PSOL), candidata à Prefeitura de Vitória
Reprodução/Redes Sociais
A candidata Camila Valadão (PSOL), única mulher e pessoa negra entre os candidatos, explorou a diversidade cromática e a tipografia mais informal.
“A sobreposição de formas e cores nos faz crer tratar-se de uma colagem manual, como os conhecidos scrapbooks, o que, somado à tipografia de cordel, reforça o sentido de ser uma candidatura popular”, pontuou Larissa.
A doutora em semiótica observou que a candidata foi a única que foi para um caminho diferente na vestimenta, explorando a cor rosa na camisa.
“Como o sol que simboliza o partido, a candidata se apresenta com um sorriso amplo, nos olhando de frente com o rosto levemente inclinado, o que reitera o sentido de informalidade presente em toda a construção do material de campanha. A roupa rosa dialoga com o botão rosa utilizado pela candidata, o que fortalece a construção da ideia de informalidade e jovialidade presente na linguagem de todo o material da campanha”, disse Larissa.
Du (Avante)
Du (Avante), candidato à Prefeitura de Vitória
Reprodução/Redes Sociais
O empresário Eduardo Ramlow, conhecido como Du Kawasaki por ser proprietário de uma concessionária de motocicletas, se intitulou para a disputa à prefeitura de Vitória apenas como “Du”. Na campanha, buscou trazer elementos figurativos para dar sentido a sua história com motos.
“A figura das corridas se dá tanto na tipologia quanto na escolha do quadriculado como plano de fundo. A bandeira quadriculada é um símbolo para o automobilismo, servindo para marcar o fim de uma corrida. O uso do quadriculado e da própria bandeira constroi o sentido de corrida, neste caso, a corrida eleitoral. O mesmo sentido está presente no Slogan ‘Acelera Vitória’”, disse Larissa Zani.
A especialista pontuou que, em termos visuais, quando é feita comparação com a dos outros candidatos, o material de campanha do Du é o mais “cru” de elementos e figuras.
“A candidatura de Du é a menos expressiva em termos de linguagem visual. Explorando poucas cores, predomina o Branco, com pequenos destaques de preto e verde. As cores escolhidas se distanciam das cores do partido do candidato, o Avante, cujas cores oficiais são laranja e ciano”, destacou a especialista em semiótica.
João Coser (PT)
João Coser (PT), candidato à Prefeitura de Vitória
Reprodução/Redes Sociais
O João Coser (PT), diferente de suas outras campanhas políticas, optou por também não colocar a cor principal do seu partido, o vermelho. Em vez disso, explora o uso de um tom mais suave, como o alaranjado.
Larissa destacou que o uso das cinco estrelas reitera o slogan ‘Vitória merece o melhor’.
“Sendo o número estrelas diretamente proporcional à atribuição de valor de qualidade comumente utilizada. Isso traz menção ao partido que participa (PT), cujo símbolo principal é uma estrela. Em seus materiais de campanha também são exploradas as cores amarela, azul e verde, mas em tons que se afastam dos tons da bandeira nacional. Nota-se também o uso da cor roxa o que estabelece um aspecto de informalidade e diversidade quando somadas as outras cores da campanha”, descrevu a especialista.
Lorenzo Pazolini (Republicanos)
Lorenzo Pazolini (Republicanos), candidato à Prefeitura de Vitória
Reprodução/Redes Sociais
O candidato à reeleição Lorenzo Pazolini (Republicanos) também faz uso das cores mais corporativas e neutras.
“Na foto, Lorenzo Pazolini se posiciona a frente de sua parceira de chapa, vestindo uma camisa branca e um blazer azul marinho. Cris Samorini está vestindo camisa branca e blazer bege, construindo uma imagem neutra, para destacar o candidato”, observa a professora de semiótica.
Larissa avaliou que o tons de verde aparecem com sutileza, apenas nas áreas de encontro entre o amarelo e o azul.
“A ausência do verde bandeira pode ter a intencionalidade de distanciar a candidatura de um vínculo direto com a extrema-direita. O Slogan ‘Paz e União’ aparece na junção das duas letras ‘is’ ao final do sobrenome do candidato, ao formar uma ponte que recobre e protege a letra ‘N’”, destacou a professora.
Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB)
Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), candidato à Prefeitura de Vitória
Reprodução/Redes Sociais
Para a especialista, o ex-prefeito de Vitória, de 1997 a 2004, Luiz Paulo (PDSB), explorou a sua experiência de atuação com o slogan “Vote em quem sabe fazer”, que é colocada repetidamente no plano de fundo de sua campanha.
“As cores se distanciam das tradicionais cores de seu partido, explorando tons de azul e amarelo que fogem dos tons correspondentes aos da bandeira nacional. Esse distanciamento cromático intencional traz para a candidatura um distanciamento cromático dos partidos de direita e extrema direita e, ao mesmo tempo, dos partidos de esquerda. O que constrói o sentido da posição política do PSDB, são centro. A linguagem gráfica e a tipografia conservam a tradicionalidade o que dialoga diretamente com o retrato do candidato”, percebeu Larissa Zani.
Em síntese, para a especialista em Semiótica Discursiva, os candidatos foram por uma linha mais clássica dentro das suas campanhas políticas, explorando a imparcialidade dele em um cenário político de antagonismo entre a direita e a esquerda do país.
A especialista em Administração Estratégica em Marketing Maria Nazareth Bis Pirola concluiu que as campanhas são muito parecidas.
“Existe uma maneira de fazer campanha eleitoral, você conta a história do candidato e fala dos seus propósitos, isso é um clássico na comunicação política, mas eu acho que nenhuma dessas campanhas está fazendo nada de muito diferente mesmo”.
* Rebeca Fagundes é aluna do 27º Curso de Residência em Jornalismo. Este conteúdo teve orientação e edição de Juirana Nobres e Vitor Ferri.
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