11 de janeiro de 2025

Saiba quem são as vítimas da chuva no Sul do ES

Temporal atingiu o Sul do Espírito Santo na noite de sexta-feira (22), deixando ao menos 19 mortos e muita destruição em várias cidades. Entre as vítimas estão dois aposentados, uma professora e uma mulher que estava internada num lar de idosos. Da esquerda para a direita: Adair Antônia Fernandes Medeiros, de 43 anos; Gilda Hastenreiter Leite Chalito, 50 anos; José Ricardo Queiroz, de 64 anos e Clara Tregges, de 87 anos
Reprodução
A tragédia da chuva no Sul do Espírito Santo deixou um rastro de destruição em várias cidades. Ao menos 19 mortes e 6 pessoas ainda estão desaparecidas, segundo a Defesa Civil estadual. Dos óbitos, 17 foram registrados em Mimoso do Sul, a cidade mais afetada pelo temporal, e 2 em Apiacá. Todos os desaparecidos são de Mimoso do Sul. Aos poucos, as vítimas estão sendo identificadas no Serviço Médico Legal.
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Em toda a região, 7.296 pessoas estão desalojadas (que foram para residência de familiares ou amigos) e 408 estão desabrigadas, isto é, perderam o imóvel e foram encaminhados a abrigos públicos. São 4 mil, pessoas desalojadas apenas em Apiacá, outras 3 mil em Boa Jesus do Norte, 269 em Vargem Alta, 18 em Mimoso e 9 em Muniz Freire.
A Polícia Civil chegou a montar uma força-tarefa no domingo (24) para identificação das vítimas que morreram nas enchentes em Mimoso. Os corpos encontrados foram levados para uma capela mortuária no Centro para que familiares fizessem o reconhecimento. Agora, os corpos encontrados são levados diretamente para o Serviço Médico Legal (SML) de Cachoeiro de Itapemirim, onde serão reconhecidos.
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Carros ficaram revirados em Mimoso do Sul após fortes chuvas no Espírito Santo
Fernando Madeira/A Gazeta
Ainda na manhã de segunda-feira (25), a reportagem da TV Gazeta apurou que todos os corpos que estavam na capela mortuária montada no Centro de Mimoso já foram reconhecidos pelos familiares, e foram liberados.
Das 19 pessoas mortas até agora, o g1 conseguiu apurar o nome e idade de dez vítimas. As identidades dos outros não foram divulgadas oficialmente.
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Mortos identificados
Professora Adair Antônia Fernandes Medeiros morreu nas chuvas em Mimoso do Sul, Espírito Santo
Divulgação
Em Mimoso do Sul, uma das mortes confirmadas é a de uma professora de 43 anos. Adair Antônia Fernandes Medeiros era professora de Português e Inglês na cidade e estava em casa com o marido e os dois filhos, um de 6 anos e outro de 3. O marido e o filho menor conseguiram ser resgatados e foram levados para hospitais. O outro filho de 6 anos ainda estava desaparecido nesta segunda-feira (25).
“Teve muito deslizamento de barreira e a casa dela foi uma das atingidas. Todos estavam em casa na hora em que a casa foi atingida. O marido foi resgatado e transferido para Cachoeiro de helicóptero”, disse uma prima de Adair.
Gilda Hastenreiter Leite Chalito, 50 anos, que morreu durante chuva em Mimoso do Sul, Espírito Santo
Divulgação
Outra vítima identificada é Gilda Hastenreiter Leite Chalito, 50 anos. Ela morava na Casa de Idosos que foi alagada. Gilda chegou a enviar um áudio para os familiares (ouça abaixo) falando sobre a chuva forte que caía na cidade, e comentou que os cuidadores levariam os hóspedes para a parte de cima da casa se a água entrasse no local.
“Aqui tá o maior temporal, com estalo e relâmpago. Aí eu perguntei a menina se encher o que eles fazem. Aí ela falou que pegam a gente e levam para a casinha mais alta, entendeu?”, comentou Gilda em um áudio para os familiares.
Vítima mandou áudio para familiares falando da chuva horas antes de morrer
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Gilda era técnica de Enfermagem e foi enterrada no início da tarde de segunda em Vila Velha, na Grande Vitória. O irmão da vítima, Gelcimar Hastenreite Leite, contou que a família estava indo até a cidade para ter mais notícias sobre a irmã, quando ficaram sabendo que Gilda tinha falecido.
“A Gilda era uma pessoa muito alegre, extrovertida, ela vivia cantando e sorrindo. Ela passou por vários momentos complicados na vida, mas sempre foi muito guerreira, nunca vi a Gilda reclamando de nada. Há 2 anos, ela estava acamada e ela tinha ido no dia 13 para essa clínica para fazer tratamento. A última notícia que a gente teve dela foi o áudio mesmo. Meu irmão decidiu ir até Mimoso, mas no meio do caminho eu recebi a ligação que tinham encontrado o corpo da minha irmã”, contou o irmão.
Interior de resiência onde 5 pessoas morreram durante chuva em Mimoso do Sul, Espírito Santo
Fernando Madeira/Rede Gazeta
Além da Gilda, outras quatro pessoas que moravam no lar morreram.
“A gente não estava acreditando, foi um desespero muito grande. Ela não andava mas era consciente e tinha a esperança de voltar para casa. Quando eu comecei a ver os vídeos das enchentes, eu tive uma sensação de que minha irmã não estava mais viva, porque ela não podia andar, não podia correr. Então, a tristeza maior foi que minha irmã viu a morte chegando. Eu fico imaginando aquela enchente subindo e ela sem poder andar”, disse o irmão.
O g1 apurou com representantes da Casa Reviver que as vítimas são pessoas com deficiência, com idades entre 19 e 55 anos, que estavam em uma das casas inclusivas. Todos foram levados para a capela mortuária que foi aberta no município. Dentre os mortos do local, estão:
Davi Gomes da Silva, 51 anos
Gilda Hastenreiter Leite Chalito, 50 anos
Ester Santanna dos Santos, 26 anos
Flávia Barboza Almeida, 20 anos
João Carlos Alves Ferreira, 58 anos
Familiares velam o corpo de Gilda, uma das vítimas da chuva no Espírito Santo
Fernando Madeira
Os parentes das vítimas já reconheceram os corpos, que foram liberados para o sepultamento. Dos cinco mortos, um era cadeirante e outro era acamado. Todos eram moradores da residência. Nenhum cuidador morreu.
Além das vítimas da Casa de Idosos, outras três vítimas foram identificadas em Mimoso do Sul, mas não há confirmação do local exato onde os corpos foram encontrados.
Sérgio Luiz de Souza, 61 anos
Antônio Marcos Fernandes de Souza, de 55 anos
Adair Antônia Fernandes Medeiros, de 43 anos
Aposentada Clara Tregges, de 87 anos, morreu durante chuva em Apiacá, Espírito Santo
Divulgação
Em Apiacá, uma das vítimas é a aposentada Clara Tregges, de 87 anos. Ela morreu afogada dentro do quarto. Ela estava acamada porque sofreu um AVC e tinha Alzheimer. A água subiu muito rápido e a família não conseguiu tirá-la de casa a tempo.
O aposentado José Ricardo Queiroz também foi uma das vítimas na cidade. O homem de 64 anos morreu salvando uma tia, também acamada. Quando viu a água tomando conta da rua e entrando na casa da mulher, ele passou mal. Teve um infarto. E por causa do alagamento, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) não conseguiu socorrê-lo.
Aposentado José Ricardo Queiroz, 64 anos, que morreu durante chuva em Apiacá, Espírito Santo
Divulgação
“Quando a água começou a subir, ele ficou desesperado, colocou ela em cima de uma mesa de mármore, e dessa mesa de mármore ele viu que a água chegou até o pé da mesa. E ele tinha problema de coração. Samu não estava entrando no local. Infelizmente, não tinha barco, não tinha carro, não tinha nada. O Zé Ricardo na nossa vida, ele foi m herói”, relatou uma prima, Jacira Neto.
Portanto, em Apiacá, são duas vítimas:
Clara Tregges, 87 anos
José Ricardo Queiroz, 64 anos
Cenário de destruição
Várias casas totalmente destruídas e alagadas. Em uma das residências em Mimoso do Sul, uma das cidades mais atingidas, uma geladeira chegou a ficar pendurada no teto após o local ter sido atingido por uma enxurrada. A água cobriu casas em vários locais. Em alguns lugares mais perto do rio, a água subiu mais de 6 metros nas casas. Muros e paredes quebraram.
Enchente deixa geladeira pendurada no teto de casa após chuva em Mimoso do Sul, Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
Uma das moradoras de Mimoso do Sul que teve a casa atingida vivia no local há apenas um mês com as três filhas pequenas, que não estavam na residência na hora do temporal.
“Foi desesperador. Só agradecer a Deus agora. Graças a Deus minhas filhas estão vivas, eu estou viva, e agora é começar de novo. Ainda não caiu a ficha de ter perdido tudo, de você ver as suas coisas tudo no barro. Não sei nem o que fazer, estou na adrenalina de acreditar que ainda é mentira”, comentou Waine.
O cenário na cidade é de guerra. Além de móveis jogados nas ruas e pertences espalhados com lama pela cidade, carros também apareceram revirados e em cima de muros. Durante o temporal, até um caminhão dos Bombeiros foi levado pela força da água. Em meio à tragédia, falta comida e água. Muitas pessoas foram flagradas procurando alimentos junto da sujeira da lama.
O coordenador estadual adjunto da Defesa Civil, tenente-coronel Benicio Ferrari Junior, informou que em Mimoso do Sul a água já está baixando e, com isso, as equipes estão conseguindo acessar mais áreas. “Nesse trabalho de acessar mais locais, a contagem de óbitos cresceu. Vamos seguir nos trabalhos para acessar todas as vítimas”, diz.
Mimoso do Sul
Fernando Madeira
Nesta segunda, algumas pessoas ainda estavam ilhadas em várias localidades de cidades do Sul capixaba.
“Com as águas baixando, diminui muito essa demanda por pessoas a serem resgatadas. Tem algumas localidades como Santo Antônio de Muqui, Conceição de Muqui, Ponte de Itabapoana, esses locais ainda estão com dificuldade de acesso por terra então a gente manteve bastante ontem algumas ações de busca e salvamento”, explicou o coordenador.
Os trabalhos estão voltados para a ajuda humanitária e em fazer com que água e comida chegue até as pessoas. Uma rede de solidariedade se formou. Veja aqui como ajudar as vítimas da chuva no Sul do estado.
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