5 de outubro de 2024

‘A Cara do Brasil’: Centro-Oeste é a parada final da série que investiga a convivência dos brasileiros em um país polarizado

Nesta sexta-feira (4), foi ao ar o quinto e último capítulo da série especial que percorreu o país com Nilson Klava, Henrique Picarelli, Diogo André e Rafael Norton. “Cara do Brasil”: Nilson Klava e equipe desembarcam no Centro-Oeste
Ao longo da semana, o Jornal Nacional exibiu um resumo de cada reportagem de uma série especial oferecida pela GloboNews aos assinantes. Os colegas Nilson Klava, Henrique Picarelli, Diogo André e Rafael Norton percorreram o país para mostrar como estão convivendo brasileiros com visões políticas opostas. Nesta sexta-feira (4), foi ao ar o quinto e último capítulo desse trabalho jornalístico.
Mato Grosso do Sul foi o destino no Centro-Oeste. Os agricultores Rodrigo Álvares Monteiro e o Marcelo Monteiro são exemplos de como a relação com o campo é passada de geração em geração no Centro-Oeste.
A família que começou com a pecuária, agora se concentra na produção de soja e milho. A forma de produzir no campo mudou muito dos tempos do avô do Rodrigo para cá. Novas tecnologias chegaram e as mudanças climáticas também. Elas estão cada vez mais presentes e têm impactado muito a colheita. A equipe esteve na lavoura da família antes dos incêndios florestais se intensificarem na região.
“Nós estamos tendo muitos períodos de climas extremos. Como nós tivemos agora na última colheita, uma seca com um calor muito forte, em que isso afeta profundamente a produtividade tanto da soja quando do milho. Ou nós temos excesso de chuva, como nós vimos agora no Rio Grande do Sul”, diz Rodrigo Álvares Monteiro.
O agro está presente em toda a família. O Rodrigo se casou com a economista e consultora técnica Adriana Mascarenhas. Ela trabalha com consultoria para os produtores locais.
Nilson Klava, repórter: O que é a política para o agro?
Adriana Mascarenhas, economista e consultora técnica: Não tem como a gente pensar a agro sem pensar política. Por isso que nós vemos hoje tantos produtores rurais na política partidária. O agro precisa da política para crescer. O produtor tem sim que ter lucro com sua atividade. Como eu preciso ter lucro com a minha, você precisa ter lucro com a sua.
O avicultor Adroaldo Hoffmann, como tantos outros produtores da região, foi com a família do Rio Grande do Sul. Eles chegaram em 1992. Começaram do zero com uma padaria e depois apostaram na criação de aves.
O Adroaldo tem muito em comum com o Rodrigo, o Marcelo e a Adriana. Ele compartilha de várias preocupações dos produtores da região, mas escolheu um outro caminho nas urnas em 2024. Diferentemente da grande maioria do agro, ele decidiu votar mais à esquerda na última eleição.
Adroaldo Hoffmann, avicultor: Eu, por exemplo, eu já votei nos dois candidatos, no ex-presidente e no presidente atual. Eu acho que o direito do cidadão brasileiro de fazer as suas escolhas da melhor forma que lhe convir não pode, de forma alguma, ser colocado em risco.
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Repórter: Qual espectro político de vocês?
Rodrigo Álvares Monteiro, agricultor: Eu me considero um conservador. Por quê? Porque eu preservo os valores principais hoje da nossa atividade, principalmente na questão jurídica. Eu acho que a segurança jurídica é um pilar que a gente não pode nunca mexer.
Adroaldo: Ação social é uma coisa que sempre me tocou muito. Tem alguns nichos que realmente precisam de uma atenção especial. A gente precisa levar todo o povo brasileiro, das mais diferentes regiões do Brasil, para que tenham condições de disputar o mercado de igual para igual com quem teve uma condição melhor de vida.
Rodrigo: Só que essa ajuda tem que vir com uma porta de saída. A porta de saída, o que é? Ele melhorar a cultura, a condição do cara, do cara poder… Ou sair de onde ele está e ir para um lugar melhor ou naquele lugar, ele criar alguma coisa em que essa pessoa possa se desenvolver.
Adriana: Eu não preciso de um pai governo, não preciso disso e ninguém precisa disso. O papel do governo é te dar capacidade de você estudar e conquistar o seu espaço.
Rodrigo: E o maior problema que eu vejo atualmente nesses governos é a falta de segurança jurídica. Então, para você produzir, você precisa ter regras claras. E é isso que todos os governos deveriam pensar, independente se é esquerda ou direita. Os outros países, como França, Estados Unidos, todos esses na Europa, Alemanha, todos esses outros países, eles já têm uma política agrícola de décadas. E ele sabe exatamente o que ele vai poder fazer. Aqui não.
Adroaldo: De cada três frangos vendidos no mundo, um é brasileiro. E, para nós, continuar produzindo no patamar e no grau de tecnologia que a gente produz, nós precisamos de políticas públicas que proporcionem que o produtor acesse o crédito e um crédito que dê condições para que o produtor pague.
Além do crédito, Adroaldo enfrenta outro desafio: a relação com as grandes indústrias que compram dele.
“E aí surgiu as associações justamente para que o produtor unido conseguisse chegar a um acordo, digamos, do qual seria o melhor caminho para a produção. E levar essa opinião da porteira para dentro, para a integradora, para que a integradora entendesse que o melhor caminho é discutir o negócio com os parceiros para que o negócio flua bem para todas as partes”, diz Adroaldo.
Adriana: Eu trabalho como consultora técnica. Eu sou uma das consultoras técnicas da associação. Eu trabalho na parte de negociação com a indústria, defendendo as pautas de interesse do produtor.
Repórter: E foi ali que você conheceu o Adroaldo? Foi nessa interlocução?
Adriana: Foi.
Adroaldo: Em uma associação onde tem 130 produtores, com as mais diversas opiniões possíveis, e a gente consegue transformar isso em uma ideia única para reivindicar alguma coisa, uma melhoria para a categoria.
Adriana: E quando se trata de um assunto que é de interesse da atividade coletiva, a gente esquece dessas divergências políticas.
Repórter: O que na sua avaliação diferencia um grupo do outro?
Adroaldo: O que diferencia a esquerda da direita? Você falar que o pessoal da esquerda não valoriza a família. Assim como você falar que um pai de direita não vai aceitar o filho que é gay.
Adriana: Qual foi o grande problema que eu vejo na minha geração? Que teve essa cisão realmente de esquerda e de direita? Comunicação. A gente pode dizer uma coisa de várias formas, e depende da forma que você se comunica, você pode causar isso tudo que a gente está vivendo hoje.
Repórter: E o que une o Brasil hoje?
Marcelo Monteiro, agricultor: Eu acho que o que une o Brasil hoje é o gosto de morar aqui, de estar aqui. Ser apaixonado pelo país.
Adriana: A vontade de um Brasil que dê certo. Não posso mais ouvir que o Brasil é um país de futuro. Eu acredito que esse futuro já chegou.
Adroaldo: Eu vejo que a nossa oportunidade de crescimento passa muito por um amadurecimento político, que os nossos políticos, que os nossos gestores consigam transformar as oportunidades que o Brasil tem em qualidade de vida para o brasileiro.
Rodrigo: E a gente sabe que política é sempre um lado ganha uma vez, o outro lado ganha outra vez. Em todo o mundo é assim e sempre foi assim desde o tempo dos romanos. E nós vamos ter sempre essa alternância de poder, que é muito saudável para a democracia. Se nós não tivermos isso, nós não temos democracia.

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