5 de outubro de 2024

Pais viajam em carro modelo 94 por quase 800 km e chamam atenção com mensagem no vidro traseiro: ‘indo formar nossa filha’

Família de Natália Alves Ferreira, formanda do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa, gastou 13 horas entre Americana (SP) e o Campus da instituição na Zona da Mata mineira. Família, Natália e o Santana 1994 no Campus da UFV
Daniel Sotto Maior/UFV
Uma viagem de quase 800km, com 13 horas de duração, regada à emoção. Foi assim que os pais da estudante Natália Alves Ferreira, aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Viçosa, se deslocaram de Americana (SP) até Viçosa, na Zona da Mata mineira, para participar das cerimônias de formatura da jovem, de 27 anos.
Pela estrada, o Santana modelo 1994, chamou atenção não só por estar cheio – também com o irmão, a avó e a cunhada da universitária – como a mensagem escrita com pasta de dengue no vidro traseiro.
Segundo a família, o ‘indo formar nossa filha’ arrancou muitas lágrimas pelo caminho. Sem dinheiro para faixa ou banner, a solução foi usar um creme dental:
“Eles tentaram escrever [a mensagem] com a caneta. Como não conseguiram, meu pai comprou uma pasta de dente em um posto de gasolina e improvisou”, explicou a formanda.
“Foi uma viagem emocionante. As pessoas vibravam com a gente. Passou uma mulher, colocou as mãos para cima em sinal de oração. Outros buzinavam, aplaudiam, sorriam. Fui chorando o caminho todo. Voltamos chorando também, pois mudamos a frase para ‘formamos nossa filha’. Foi um novo chororô”, disse muito emocionada Adriana, mãe de Natália.
Oito anos fora de casa
A comemoração da universitária, filha de mãe faxineira e pai eletricista, deve-se também ao longo período que ficou longe da família – desde 2016, quando foi aprovada como cotista de escola pública.
Família de formanda da UFV saiu de Americana, em São Paulo, e viajou até o Campus de Viçosa
Arquivo Pessoal
“Embora ela [Natália] tivesse na faculdade, a questão da distância doía um pouco. Era muito ruim ficar tão longe”, relembra a mãe, que precisou ficar em Viçosa três meses, quando a filha sofreu uma lesão no pé, mas, mesmo assim, não quis se afastar dos estudos.
Mesmo com todas as dificuldades, inclusive financeiras, a família analisa que o esforço valeu a pena:
“Meu pai ficou sem trabalhar, teve um problema na coluna e a situação ficou bem complicada para me sustentar em Viçosa. Minha vó me ajudou bastante, além de amigos e pessoas de Viçosa. Meus pais não tiveram muito incentivo para estudar [quando jovens], mas, mesmo assim, fizeram de tudo para eu seguir em frente”, avaliou a universitária.
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A família, que chegou em Viçosa em uma terça-feira (24 de setembro) curtiu todas as solenidades da formatura, incluindo churrasco, culto ecumênico, colação de grau e baile.
“A pandemia e a greve atrasaram um pouco a formatura. Mas concluí o curso, não ficou nada para trás e estou formada”, orgulha-se Natália, que diz ter aproveitado todos os momentos da festa. Mesmo ainda em clima de comemoração, ela já projeta os próximos passos: “A expectativa é me preparar para o mestrado, que será no início do ano”.
Natália e a família logo após a colação de grau na UFV
Arquivo pessoal
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