5 de outubro de 2024

Brasileira que mora no Líbano viaja pelo país com a família para fugir de explosões: ‘Não tem lugar seguro’

Amany Cheaito, de 30 anos, já passou por três cidades libanesas. Agora, ela quer ajuda do Brasil para retornar à terra onde nasceu. Ataques foram registrados por familiares de brasileira em Dein Antar, no sul do Líbano
Amany Cheaito é brasileira e há nove anos mora no Líbano. Desde que começaram os conflitos do país com Israel, a mulher de 30 anos contou que a família já se deslocou por três cidades em território libanês à procura de um local seguro. “Estou tentando manter meus filhos a salvo”.
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Nascida em Juquiá, no Vale do Ribeira, ela contou ter vivido a primeira experiência internacional aos cinco anos, quando foi morar na Venezuela com a família, de origem árabe. Em 2015, uma nova mudança, e chegou ao Líbano, onde vive com o marido e cinco filhos.
No Líbano, ela se estabeleceu em Deir Antar, ao sul do país, mas, com o início dos ataques na fronteira entre os países em 2023, a família e parentes próximos começaram a alugar apartamentos em Beirute, a capital, em uma tentativa de escapar dos conflitos.
Amany Cheaito deixou o Beirute após avisos de ataques
Arquivo Pessoal e Reuters/Mohamed Azakir
Segundo Amany, povoados como Deir Antar eram alvos frequentes de ataques. Aos filhos, a mulher contava que os estrondos da guerras eram fogos de artifício, tudo para que não se assustassem. “E aplaudiam cada vez que faziam isso. E pouco a pouco foram se acostumando”, relata.
Em vídeo enviado ao g1, é possível ver o momento em que os familiares registraram os disparos feitos na região durante a passagem de aviões pelo local (veja acima).
Israel intensifica bombardeios contra Beirute
O cenário em Beirute mudou após as explosões de pagers utilizados pelo grupo Hezbolahh na cidade. Amany contou que, por conta do ocorrido, decidiu partir com os familiares para o norte do país, região predominantemente cristã, onde não estão sendo registrados ataques.
“Este país, que alguma vez foi um lugar cheio de história e cultura, tem se convertido em um cenário de sofrimento e desespero. A situação atual é aterrorizante para todos nós”, disse.
Ataques a Beirute surpreenderam
Amany relatou que os primeiros ataques atingiram áreas civis de Beirute sem avisos, como anunciado pelo governo de Israel. Segundo ela, os moradores ficaram surpreendidos com os bombardeios direcionados à capital. “Ninguém esperava que atacariam Beirute”, afirmou.
“Qual o propósito de atacar regiões civis? […] O que eles mandam não são avisos, são ameaças que nunca sabemos o local correto. Cada noite fica pior. A cada dia que passa o temor cresce. Não tem lugar seguro para onde ir”, conta.
Além disso, Amany revelou que os alertas são emitidos sem tempo hábil para que idosos, por exemplo, deixem os locais. “Minha família, assim como muitas outras, só quer viver em paz”, comentou.
Ela contou, ainda, que os ataques provocaram a paralisação das atividades em diversas escolas e comércios na região. Desde o ano passado, os filhos estão sem estudar e perderam o ano escolar. “[Eles] vivem com medo”. Ela disse que esse sentimento vem à tona “Só de escutar um avião passar”.
“Muitas pessoas têm deixado de trabalhar devido às inseguranças que estamos vivendo agora. Tudo está destruído. As pessoas fugiram de suas casas, a maioria está vivendo nas ruas. Procurando o que comer, crianças que ficaram sem pai, mãe, sem alguém que os guie”, revela.
Amany disse já ter inscrito a família na operação de repatriação que é realizada pela Força Aérea Brasileira (FAB), com objetivo de retornar ao Brasil. De acordo com ela, a inscrição pode ser feita apenas para familiares de primeiro grau, já que são estrangeiros.
Entenda o conflito
Israel informou estar fazendo uma operação militar contra o grupo extremista Hezbollah. Embora tenha atuação política no Líbano, a organização possui um braço armado com forte influência no país. Além disso, o Hezbollah é apoiado pelo Irã e é aliado dos terroristas do Hamas.
Os extremistas têm bombardeado o norte de Israel desde outubro de 2023, em solidariedade ao Hamas e às vítimas da guerra na Faixa de Gaza.
Veja onde fica o Líbano
Arte/g1
Nos últimos meses, Israel e Hezbollah viveram um aumento nas tensões. Um comandante do grupo extremista foi morto em um ataque israelense no Líbano, em julho. No mês seguinte, o grupo preparou uma resposta em larga escala contra Israel, que acabou sendo repelida.
Mais recentemente, líderes israelenses emitiram uma série de avisos sobre o aumento de operações contra o Hezbollah.
O gatilho para uma virada no conflito veio após os seguintes acontecimentos:
Nos dias 17 e 18 de setembro, centenas de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah explodiram em uma ação militar coordenada.
A imprensa norte-americana afirmou que os Estados Unidos foram avisados por Israel de que uma operação do tipo seria realizada. Entretanto, o governo israelense não assumiu a autoria.
Após as explosões, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que estava começando “uma nova fase na guerra”.
Enquanto isso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu que levará de volta para casa os moradores do norte do país, na região de fronteira, que precisaram deixar a área por causa dos bombardeios do Hezbollah.
Segundo o governo, esse retorno de moradores ao norte do país só seria possível por meio de uma ação militar.
Em 23 de setembro, Israel bombardeou diversas áreas do Líbano. O dia foi o mais sangrento desde a guerra de 2006.
Em 27 de setembro, Israel matou o chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, por meio de um bombardeio em Beirute.
Em 30 de setembro, Israel lançou uma operação terrestre no Líbano “limitada e precisa” contra alvos do Hezbollah.
Em 1º de outubro, o Irã atacou Israel com mísseis como resposta à morte de Nasrallah e outros aliados do governo iraniano. Os mísseis iranianos, no entanto, foram interceptados pelo sistema de defesa israelense, o chamado Domo de Ferro.
Na quarta-feira (2), Israel teve o dia com mais baixas dentro do Líbano. Oito soldados israelenses morreram em confronto direto com o Hezbollah.
A comunidade internacional ainda aguarda uma resposta de Israel ao ataque iraniano. Na terça-feira (1º), o Irã disparou cerca de 200 mísseis contra cidades como Tel Aviv e Jerusalém. Israel prometeu um contra-ataque “surpresa” e “preciso”.
Os Estados Unidos, que afirmaram que estão participando da coordenação da resposta de Israel ao Irã, disseram que não apoiam um ataque em instalações nucleares iranianas. O presidente Joe Biden disse que exigiu um contra-ataque “proporcional”.
Na ONU, o Líbano pede para que outros países pressionem Israel por um cessar-fogo. Uma proposta que prevê uma trégua de 21 dias foi apresentada por Estados Unidos e França, mas não avançou.
O Líbano também relatou que o conflito entre Israel e Hezbollah empurrou o país para uma crise humanitária grave. O governo libanês pediu por ajuda financeira e diz que Israel mente ao afirmar que está fazendo ataques precisos, sem atingir civis.
Em meio ao conflito, vários países tentam tirar cidadãos do Líbano. Um deles é o Brasil. A FAB aguarda uma autorização para pousar em Beirute, onde cidadãos brasileiros serão resgatados.
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