9 de outubro de 2024

Pesquisa faz levantamento de diversidade de plantas medicinais em comunidade quilombola

Objetivo é descrever a riqueza de plantas, métodos, práticas de cura e a relação da comunidade com a biodiversidade, destacando o uso das plantas na manutenção da saúde. Pesquisadoras entrevistaram quilombolas da comunidade Ariramba, em Oriximiná
Acervo do Projeto
Encontrar respostas de como os produtos da sociobiodiversidade podem gerar valores socioeconômicos e ambientais é o objetivo do projeto “Pesquisa e Desenvolvimento de Bioprodutos Amazônicos Visando à Produção Animal e Vegetal Sustentável”, realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).
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A pesquisa financiada pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa), é realizada na comunidade quilombola Ariramba, que é composta por 27 famílias e está localizada no limite dos municípios de Óbidos e Oriximiná.
“Ariramba destaca-se quanto à riqueza natural, diversidade de rios, lagos e florestas, conservação dos recursos naturais, manutenção de costumes, e, economicamente, por ser de extrema relevância para os municípios da região, pois é atualmente grande fornecedora de produtos agroextrativistas, especialmente derivados da mandioca, açaí e castanha-do-pará”, explicou o coordenador do projeto, Prof. Dr. Antônio Humberto Hamad Minervino, do Instituto de Biodiversidade e Florestas (Ibef).
Para a primeira fase do projeto, foi realizada uma expedição em campo para investigar um elemento de alta relevância e que pertence à sabedoria dos povos tradicionais: as plantas medicinais. O levantamento etnofarmacológico teve o intuito de descrever a riqueza de plantas, métodos, práticas de cura e a relação da comunidade com a biodiversidade, destacando o uso das plantas na manutenção da saúde e na identidade cultural dos quilombolas.
Dados coletados
Durante a expedição, foram entrevistados 33 quilombolas, sendo 16 homens e 17 mulheres, com idades variando entre 20 e 73 anos. As entrevistas mapearam um total de 63 espécies de plantas, com destaque para o cumaru (Dipteryx odorata), a copaíba (Copaifera), a andiroba (Carapa guianensis), a unha-de-gato (Uncaria tomentosa) e o sara-tudo (sem identificação), que são coletadas principalmente na floresta, nos quintais e à beira dos rios.
Os pesquisadores identificaram que as partes das plantas mais utilizadas são as cascas e folhas, e o chá é a forma de preparo mais frequente. Problemas digestivos e respiratórios são os mais comuns na comunidade, e há uma diversidade de espécies e formas de preparo para o tratamento dessas enfermidades.
Informações repassadas pelos quilombolas foram anotadas pelas pesquisadoras
Acervo do Projeto
“Florestais ou domesticadas, essas plantas são utilizadas para o tratamento ou prevenção de várias doenças”, afirmou a doutoranda Viviane Vasconcelos Corrêa Dourado, do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento (PPGSND) da Ufopa, que conduziu a expedição.
Segundo a doutoranda, que é orientada pelo professor Lucas Mazzei, essas e outras informações servirão de base para as próximas etapas da pesquisa, que se dedicará à coleta de amostras para bioprospecção; coleta e herborização do material botânico; elaboração de mapas e calendário de usos dos produtos naturais; e confecção de um protocolo de consulta da comunidade quilombola de Ariramba.
“Conhecer a sociobiodiversidade da Amazônia é um desafio e tanto. A região é lar de muitos povos tradicionais que vivem em íntima relação com a biodiversidade. Essas comunidades utilizam os recursos naturais como meio de provisão, ao mesmo tempo em que desempenham um papel crucial na conservação do bioma”, afirmou Viviane Dourado.
Também participou da expedição científica a quilombola Juliene Pereira do Santos, que é doutora em Antropologia e bolsista do Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação (PDPG) em Políticas Afirmativas e Diversidade, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento da Capes. Na Ufopa, a pós-doutoranda é supervisionada pela docente do PPGSND Luciana Gonçalves de Carvalho, que já atua na comunidade Ariramba com outros projetos de pesquisa.
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