10 de outubro de 2024

Em sabatina para presidir BC, Gabriel Galípolo diz que terá autonomia e foco no combate à inflação

Galípolo já é diretor de Política Econômica do BC e foi indicado para presidir a instituição de 2025 a 2029. Nome tem que ser aprovado pela comissão e pelo plenário do Senado. Senado vota nesta terça indicação de Galípolo para a Presidência do BC
A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado começou a sabatinar nesta terça-feira (8) o economista Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula ao cargo de presidente do Banco Central.
Ao longo desta manhã, o economista será sabatinado pelos membros do colegiado, que avaliam, por exemplo, a capacidade técnica e a isenção do indicado para assumir o posto (veja o rito mais abaixo).
Se aprovado, Galípolo vai assumir a cadeira de Roberto Campos Neto, que encerra o mandato em 31 de dezembro.
Gabriel Galípolo no Congresso, em 3 de setembro de 2024
Adriano Machado/Reuters
Segundo a legislação, o comandante do BC é escolhido pelo presidente da República, mas precisa ter o nome aprovado pelo Senado — primeiro pela CAE e, em seguida, pelo plenário principal da Casa.
Se for chancelado pelo Senado, Galípolo assumirá o posto em 1º de janeiro de 2025 e cumprirá um mandato de quatro anos.
O indicado de Lula é o atual diretor de Política Monetária do Banco Central. Entre 2022 e 2023, ele esteve nas equipes de campanha do então candidato ao Planalto, de transição de governo e do Ministério da Fazenda, chefiado por Fernando Haddad.
Galípolo substituirá, se aprovado pelos senadores, uma gestão duramente criticada por Lula à frente do BC, em grande parte pelos movimentos na condução da taxa básica de juros, a Selic.
Roberto Campos Neto, que foi escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2019, já foi classificado por Lula como um “adversário político”.
Senadores de diferentes partidos e o presidente da CAE avaliam que Gabriel Galípolo não deve enfrentar resistências tanto no colegiado quanto na votação em plenário. Para ser aprovado na CAE e no plenário, Galípolo precisará reunir maioria dos votos dos presentes à sessão.
Gabriel Galípolo é visto pelos senadores como alguém já conhecido. Em 2023, ele foi sabatinado pela CAE e aprovado pelo Senado para assumir a diretoria de Política Monetária do Banco Central. Na ocasião, o conjunto dos parlamentares aprovou o nome, também indicado por Lula, por 39 votos a 12.
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A fala inicial
O economista Gabriel Galípolo abriu a sabatina assegurando aos senadores que recebeu a garantia do presidente Lula de que terá “liberdade na tomada de decisões” na autoridade monetária.
Uma das questões que pairavam em torno de Galípolo desde antes de sua indicação dizia respeito à independência do indicado de Lula no comando do BC, diante de declarações do petista críticas à autonomia da autoridade monetária.
A legislação garante ao Banco Central independência do governo federal, estabelecendo mandatos aos diretores e aos presidente da instituição, que não coincidem com o período de mandato do presidente da República, mesmo que este seja responsável pelas indicações.
Em declaração aos senadores, Galípolo afirmou que Lula foi “enfático” a respeito de sua autonomia à frente da instituição em todas as oportunidades nas quais se reuniu com o petista.
“Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula, escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro. Cada ação e decisão deve unicamente ao interesse do bem-estar de cada brasileiro”, declarou.
Galípolo também disse aos parlamentares que mantém compromisso com o mandato de quatro anos para presidente do BC.
Na sua fala, ele afirmou que há “numerosos desafios” pela frente, mencionou, por exemplo, a “consolidação de uma agenda capaz de criar uma economia mais equânime e transparente”.
Segundo ele, essa agenda envolve o “compromisso permanente do BC” no combate à inflação.
“Para garantir que o atraso não seja fruto do avanço na direção errada. O Brasil tem a oportunidade histórica de se apresentar como destino atrativo para o empreendedorismo e a inovação voltada para economia sustentável, se consolidando como polo e referência global na erradicação da pobreza e crescimento da produção e produtividade com redução da emissão de poluentes”, disse.
Gabriel Galípolo (dir.) ao lado do relator da indicação no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) (esq.)
Kevin Lima/g1
Desafios
À época da indicação de Lula, o nome de Galípolo foi bem-recebido pelo mercado financeiro. Há, porém, um entendimento de que existem desafios à frente da autoridade monetária.
O Banco Central tem autonomia do governo. Apesar de os diretores e o presidente terem as indicações feitas pelo presidente da República, há mandatos, que não coincidem com o do chefe do Executivo.
O BC tem como missão a garantia da estabilidade do sistema financeiro, amenizando a variação dos preços e da taxa de desemprego.
À frente do BC, além de se provar um nome independente — ou seja, que não irá tomar decisões influenciado pelo poder Executivo —, Galíplo terá que trabalhar no combate à inflação sem deixar de lado os efeitos prejudiciais que a taxa básica de juros pode causar à economia.
A taxa Selic está, atualmente, em 10,75% ao ano, valor alto e que é usado como referência por bancos e instituições financeiras para, por exemplo, balizar a oferta de crédito.
⬆️ Quanto mais elevada a taxa, mais caro fica para pessoas e empresas tomarem crédito — o que diminui investimentos e o consumo das famílias. Em geral, esse ciclo se reflete na economia do país com uma atividade econômica mais fraca.
⬇️ Quanto mais baixa a taxa, mais a economia se aquece, em um momento que o mercado de trabalho já está bastante preenchido e a inflação encostou em 4,50% na janela de 12 meses, teto da meta que o BC deve perseguir.
Os desafios da condução de Galípolo à frente do BC vão, portanto, muito além do controle da Selic. As decisões se refletem em dados de desemprego, inflação, PIB, dólar e, principalmente, inflação.
Quem é Gabriel Galípolo
Gabriel Galípolo atuou na campanha de Lula à Presidência da República e na equipe de transição de governo. No ano passado, foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda, a função mais importante da pasta depois da do ministro.
Em julho, exerceu momentaneamente a Presidência do BC, nas férias de Roberto Campos Neto. É mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), onde também é professor.
É professor do MBA de PPPs e Concessões da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em parceria com a London School of Economics and Political Science.
Em 2007, o economista foi chefe da Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo. E, no ano seguinte, foi diretor da Unidade de Estruturação de Projetos da Secretaria de Economia e Planejamento do estado.
Quem é Gabriel Galípolo

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