9 de outubro de 2024

Palco de disputas entre Lira e Renan Calheiros: veja como ficaram as eleições municipais em Alagoas

Partido de Renan, MDB cresceu 71%; por outro lado, aliados de Lira citam vitória em Maceió e veem força do presidente da Câmara para tentar cadeira no Senado. Arthur Lira (PP-AL) e Renan Calheiros (MDB-AL)
Mário Agra/Câmara dos Deputados e Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), encerrou as eleições municipais em Alagoas com dificuldade para avançar no interior e assistindo ao seu adversário político no estado, o senador Renan Calheiros (MDB), consolidar seu poder na maior parte dos municípios.
Alagoas, historicamente, se vê dividida entre os grupos políticos de Renan e de Lira — e, para além do poder regional, ambos veem o aumento das suas influências locais como uma forma de expandir seus poderes a nível nacional.
Em 2026, os dois devem buscar vagas no Senado, que, naquele ano, terá duas cadeiras por estado.
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Além disso, as eleições municipais ocorrem no momento em que Lira se vê pressionado para fazer seu sucessor na Câmara dos Deputados, em uma tentativa de manter sua relevância na política nacional e pavimentar seu futuro político.
Até agora, os apoios aos nomes colocados patinam e nenhum candidato desponta como favorito.
MDB x PP
As eleições municipais alagoenses terminaram com 65 das 102 prefeituras com o MDB de Renan. O partido calculava vitória em 65 a 70 das cidades do estado. Já o PP ficou com 27 prefeituras.
Em comparação com 2020, o MDB havia conquistado o comando de 38 prefeituras, enquanto o partido de Lira ficara com 28.
Ou seja, em números, o partido de Renan teve uma alta de 71% no número de prefeituras que comanda.
Quando o recorte é de apoios feitos especificamente por Lira ou Renan, um levantamento da GloboNews nas redes sociais dos dois parlamentares mostra que o presidente da Câmara apoiou publicamente pelo menos 34 candidatos a prefeitura vitoriosos em Alagoas.
Entre as vitórias, está a reeleição em primeiro turno do prefeito JHC (PL), de Maceió, aliado do presidente da Câmara. A capital é o maior colégio eleitoral do estado.
JHC foi reeleito prefeito de Maceió
Arquivo Pessoal
A complexidade política alagoana traz ainda um cenário inusitado: Lira apoiou publicamente pelo menos dois nomes do MDB.
Já Renan e seu grupo político estiveram presentes na campanha de pelo menos 49 das 65 prefeituras conquistadas pelo MDB — isto é, em quase metade das 102 cidades alagoanas.
E pelo menos uma das derrotas foi amargada pessoalmente por Lira: a da cidade de Junqueiro, cidade natal de seu pai, Benedito de Lira.
Em uma eleição apertada, seu primo, Joãozinho Pereira (PP), teve 45,38% dos votos, e perdeu para o candidato do grupo de Renan, Leandro Silva (MDB), que teve 54,46% dos votos.
Aliança com JHC
Apesar de subirem juntos no palanque nestas eleições, a aliança de Lira e JHC passou por desavenças nos últimos meses.
Lira contava que indicaria a vice da chapa, que seria sua prima, Jó Pereira. O prefeito de Maceió, contudo, apoiou outro nome: o do senador Rodrigo Cunha, do Podemos, aliado do mesmo grupo político.
Só que a indicação pode atrapalhar os planos do presidente da Câmara para o futuro: a suplente de Cunha no Senado, Eudócia Caldas, é mãe de JHC — e, com a saída dele para a prefeitura, assume a vaga de vez. Caso se viabilize, pode ser candidata ao Senado em 2026.
No próximo pleito, cada estado terá eleição para dois senadores. Mas, é praticamente dado como certo que Renan Calheiros conquistaria uma das cadeiras. A entrada de Eudócia no jogo político, portanto, poderia dificultar a candidatura de Lira.
Senador Renan Calheiros (MDB-AL)
Pedro França/Agência Senado
Além disso, Lira teve uma participação tímida na campanha da capital e pode ter dificuldades para capitalizar a eleição.
Para parte do grupo político do prefeito, o triunfo de JHC teve pouca ligação com o presidente da Câmara, que não agregaria voto do eleitorado de Maceió.
Segundo aliados do prefeito, a aposta de JHC foi fugir da polarização nacional, seja sobre Lula e Jair Bolsonaro ou sobre a própria rixa entre Lira e Renan.
A campanha do agora prefeito reeleito teve como foco a sua gestão e as obras realizadas no período, com pouco espaço para aliados.
As tensões, no entanto, não levaram a um rompimento entre Lira e JHC. A possível candidatura do atual deputado ao Senado ainda é dada como certa, neste momento. Além disso, a aliança entre os dois continua sendo a principal resistência ao MDB em Alagoas.
Ao comemorar a vitória em uma rede social, JHC reforçou o slogan “Alagoas não tem dono!”, que pautou a campanha para a reeleição. A frase é endereçada ao grupo da família Calheiros que, pelo MDB, mantém a hegemonia política no estado, e o maior número de prefeituras, há 12 anos.
Por isso e pelo tamanho de Maceió, o prefeito é o principal cabo político de Lira em Alagoas.
O que dizem aliados de Lira
Aliados de Lira dizem que o deputado ficou satisfeito com o resultado das eleições.
Apesar de não ter entrado de cabeça na campanha de JHC, o presidente da Câmara apoiou o prefeito que se reelegeu com quase 380 mil votos — 83,25% da votação em Maceió, muito distante do candidato de Renan, Rafael Brito (MDB), que só conquistou 12,74%.
Além disso, o presidente da Câmara conseguiu uma “vitória afetiva”: a reeleição de Biu de Lira (PP), seu pai, com 68,12% dos votos, em Barra de São Miguel.
Ainda pelos cálculos do grupo de Lira, ele conseguiu eleger 42 prefeitos — considerando apoios a candidatos do PP e de outros partidos — que juntos somaram 800 mil votos em 102 municípios. Ou seja, um terço do eleitorado de Alagoas.
Isso, segundo estes aliados, mostraria força do presidente da Câmara para uma provável candidatura ao Senado em 2026.

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