10 de outubro de 2024

Mãe procura a polícia após criança autista ser expulsa de escola e denuncia supostas agressões de professora: ‘Estou destruída’

Caso ocorreu em escola particular de Sorocaba (SP). Outros alunos relatam que a criança, de cinco anos, era agredida por professora; g1 tenta contato com a instituição. Delegacia Seccional de Sorocaba (SP)
Reprodução/Google Street View
Uma mãe registrou um boletim de ocorrência após seu filho, de cinco anos, ter sido expulso da escola onde estudava, na zona norte de Sorocaba (SP). O menino é diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nível dois e é não-verbal.
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O g1 entrou em contato com a escola para pedir um posicionamento sobre o ocorrido, mas não conseguiu retorno até a última atualização desta reportagem.
De acordo com a mulher, a expulsão aconteceu no dia 27 de setembro e, como justificativa, a coordenação da escola afirmou que a criança representava um risco aos colegas de sala e também aos funcionários, devido ao seu comportamento, supostamente agressivo.
“Fui surpreendida dizendo que meu filho, autista e não-verbal, havia recebido uma transferência compulsória unilateral, dizendo que, a partir daquela data, não entraria mais no colégio por ser muito agressivo. Aparentemente, ele é assim somente na escola. Nunca vi ele estressado com ninguém. Só fiquei sabendo da decisão depois que ele foi expulso”, conta.
A mãe ainda alega que a avó, que não é a responsável legal ou financeira pelo menino, foi obrigada pela escola a assinar os documentos que concluíam o encerramento do vínculo entre o aluno e a instituição de ensino. A partir de então, ele seria proibido de pisar no recinto.
“A minha mãe [avó] chegou em casa muito assustada. Ela disse que fecharam o portão de acesso direto à escola assim que ela entrou. Colocaram ela dentro da sala da diretora com outras duas pessoas e fecharam com a chave para o lado de fora. Pediram para ela assinar os papéis. Minha mãe até pediu para falarem comigo, e eles rebateram que já haviam entrado em contato, o que não procede”, revela.
Como a mulher possui uma outra filha matriculada na escola, ela chegou a ir até o local após a expulsão do filho. No entanto, segundo a mãe, ela e o menino foram impedidos de entrar no local e não obtiveram nenhum retorno da coordenação ou da diretoria do colégio.
“Quando cheguei lá, disseram que nem eu e nem meu filho poderíamos entrar. Fiquei muito nervosa. Chamei a coordenadora e a diretora para conversar, mas ninguém apareceu. Estive na frente da escola por horas. Liguei para a polícia, que entrou lá e disse que eu deveria resolver os trâmites de forma judicial”, relembra.
“Eles não quiseram liberar minha entrada com a justificativa de que eu poderia cometer ‘algum ato irracional’. Por conta do caso, a reunião de pais e responsáveis, que estava marcada para o dia 3 de outubro, foi cancelada. Tudo aparenta estar errado”, complementa.
Dois dias antes da expulsão, a mãe entrou em contato com a instituição por desconfiar que algo de errado estava acontecendo, visto que os dois filhos não queriam ir à escola. Em resposta, a coordenadora afirmou que ambos estavam normais e bem (leia abaixo).
Escola disse que os filhos estavam normais
Reprodução/WhatsApp
“Meus filhos ficaram uma semana sem ir por estarem com pneumonia. Quando retornaram, eles não queriam entrar [na escola] de jeito nenhum. O que foi expulso estava tendo pesadelos e dizia que estava com muito medo o tempo todo. Mandei uma mensagem perguntando se havia acontecido algo. A coordenadora me disse que estava tudo bem e que eles estavam normais”, relata.
Suspeita de agressões
Criança era supostamente agredida por professora
Reprodução/WhatsApp
Após o caso, a mulher foi convidada a participar de um grupo no WhatsApp, composto por pais e responsáveis de outros alunos, paralelo à escola. Nele, as pessoas contam relatos de seus filhos, que afirmam que, apesar de ter episódios agressivos, o menino era agredido por uma das professoras do colégio (leia acima e abaixo).
“No Instagram, encontrei um pai que me convidou para participar de um grupo nas redes sociais. Aceitei e, lá, diversos pais diziam que as crianças contaram sobre a professora bater e amarrar meu filho com cobertas. Ela era muito agressiva somente quando a outra responsável não estava. Quando recebi as mensagens, tudo sobre eles não quererem ir às aulas começou a fazer muito sentido”, comenta.
Crianças afirmam que o menino era amarrado
Reprodução/WhatsApp
Ao g1, a mãe afirma que a professora em questão não faz mais parte do quadro de funcionários da instituição de ensino.
“Eles colocaram meu filho como um agressor. Ele estava se defendendo das agressões que estava sendo vítima. Disseram até mesmo que eu recusava a colocá-lo em tratamento, sendo que ele possui laudo, que afirma não precisar de medicamentos, e, sim, uma adaptação curricular e cuidador, requisitos que a escola negou”, pontua.
“Colocaram que ele havia sido expulso de outras três escolas, o que não condiz com a realidade. Tive conflitos com outras sim, em busca de inclusão. É muito difícil arrumar um local que pessoas autistas sejam bem recebidas. Eu também sou autista diagnosticada e sei o que é isso.”
Após o acontecido, a mãe se considera destruída. Mesmo abalada com tudo, ela revela que irá buscar justiça e que espera encontrar uma escola que receba o filho dela de braços abertos.
“Estou destruída, mas foi um livramento. E se ele não tivesse conseguido sair todas as vezes que foi amarrado na coberta? O que poderia ter acontecido com o meu filho? Existem situações que são inadmissíveis. Está sendo bem desafiador passar por tudo isso. A dor é horrorosa”, lamenta.
*Colaborou sob supervisão de Ana Paula Yabiku
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