11 de outubro de 2024

Empresa pública do Rio Grande do Sul será gestora do Hospital Federal de Bonsucesso, diz documento

A unidade de saúde do Governo federal que funciona na Zona Norte do Rio é tratada pelo Grupo Hospitalar Conceição como parte da rede. O presidente do conselho de administração do grupo é secretário do Ministério da Saúde, o que é irregular. Empresa pública do Rio Grande do Sul será gestora do Hospital Federal de Bonsucesso, diz documento
O Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio de Janeiro, pode passar a integrar a rede de saúde do Grupo Hospitalar Conceição, uma empresa pública do Rio Grande do Sul. Pelo menos, é isso o que diz um documento interno do grupo que o RJ2 teve acesso com exclusividade.
Um ofício enviado para o presidente do Conselho de Administração do grupo, Adriano Massuda, em agosto desse ano, mostra que a empresa pública já tratava o hospital federal localizado no Rio como parte da rede. Esse documento é um relatório sobre a necessidade de reforço de profissionais para a unidade.
Um outro documento, esse enviado em setembro, também reforça a nova administração do hospital federal. No dia 1 de outubro, um novo relatório já citava o Hospital Federal de Bonsucesso como uma filial do grupo gaúcho.
“Incorporação do Hospital Bonsucesso, localizado no Rio de Janeiro, como filial do Hospital Nossa Senhora da Conceição S.A”, dizia o documento.
Apesar dos documentos internos, a assessoria de imprensa do Grupo Hospitalar Conceição negou que o hospital esteja sob gestão deles. “Não tenho como oferecer um posicionamento do GHV porque não estamos na gestão do hospital”, respondeu.
Conflito de interesses
A troca na gestão da unidade federal que enfrenta problemas, como falta de médicos e cortes no orçamento, não é a única coisa que chama atenção de funcionários e pacientes.
Adriano Massuda é Secretario de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde.
Reprodução TV Globo
Além de ser presidente do conselho do Grupo Hospitalar Conceição, Adriano Massuda também é Secretario de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde. Tal posição no quadro de funcionários do governo federal impede que ele tenha o cargo que ocupa em uma empresa pública.
Na teoria, Massuda tem a função de fiscalizar o grupo que ele mesmo atua como presidente do conselho.
O Grupo Hospitalar Conceição é uma empresa pública de direito privado, criada para, segundo o atual diretor presidente, melhorar a governança e a transparência dos processos.
A Lei n° 13.303, de 2016, que trata da formação de empresas públicas ou de economia mista diz que “é vedada a indicação, para o Conselho de Administração (…) representante do órgão regulador ao qual a empresa pública ou a sociedade de economia mista está sujeita (…)”.
Futura gestora ou consultora
Na última terça-feira (8), o RJ2 mostrou que funcionários do hospital de bonsucesso protestaram e denunciaram o sucateamento da unidade, que já foi referência no Rio.
No dia 1 de outubro, um novo relatório já citava o Hospital Federal de Bonsucesso como uma filial do grupo gaúcho.
Reprodução TV Globo
No mesmo dia, o Ministério da Saúde realizou uma agenda pública sobre os hospitais federais do Rio. O encontro citava uma das convidadas, Elaine Lopez, como representante do Hospital de Bonsucesso.
Contudo, Elaine nunca foi nomeada para a função. Nesta quarta-feira (9), às 8h55, depois da reportagem do RJ2, a agenda foi modificada, trazendo Elaine Lopez como “consultoria técnica”.
A ligação dela com o Hospital de Bonsucesso foi excluída. Funcionários do hospital ouvidos pela reportagem desconfiam que ela será a próxima diretora da unidade.
Problemas continuam
Enquanto a situação da unidade de saúde do Rio não é esclarecida, a população segue sofrendo as consequências da falta de gestão.
Funcionários protestam contra cortes no orçamento no Hospital Federal de Bonsucesso
Além da falta de pessoal, o hospital vem sofrendo com cortes no orçamento. De acordo com um documento, datado da última sexta-feira (4), o orçamento da unidade não é reajustado há 10 anos.
O relatório cita ainda um corte nas verbas: dos mais de R$ 12,5 milhões previstos para o último trimestre desse ano, o Ministério da Saúde enviou pouco mais de R$ 7 milhões, cortando R$ 5,2 milhões.
A coordenadora de despesa alerta no ofício enviado ao Ministério a possibilidade de faltar insumos e medicamentos até o fim do ano, impactando também na limpeza, alimentação, segurança e manutenção.
Hospital já foi referência
O Hospital Federal de Bonsucesso já foi referência em cardiologia e transplantes. Ele tem 412 leitos, mas a metade deles está fechada.
A desconfiança de servidores e funcionários é que o sucateamento da unidade seja uma estratégia do governo federal para transferir a administração do hospital para uma empresa pública que já funciona no Rio Grande do Sul — o Grupo Conceição.
Empresa pública do Rio Grande do Sul será gestora do Hospital Federal de Bonsucesso, segundo documento interno. documento
Reprodução TV Globo
Em protesto, cerca de 40 servidores decidiram ocupar a sala da diretoria do hospital. A manifestação já dura uma semana. Entre os ocupantes estão médicos e enfermeiros e outros profissionais.
“Esse processo de estrangulamento, sucateamento, de abandono é fomentador do fechamento de leitos da rede federal. O Ministério da Saúde deve explicações à sociedade fluminense”, fala a diretora do Sindsprev/RJ, Christiane Gerardo.
O efeito prático da falta de médicos é não ter atendimento de intercorrências clínicas dos 412 leitos das 17h até as 7h e em todos os fins de semana ou feriados.
Segundo o relatório, todos os pacientes adultos fora da UTI e da unidade coronariana estão nesses horários sem assistência de uma equipe que faça uma visita médica. Técnicos da unidade dizem que “a situação é insustentável”.
O que dizem os citados
A diretora do Ministério da Saúde no Rio não quis falar sobre a situação do secretário Adriano Massuda, de Brasília, porque, segundo ela, não seria da competência dela.
A reportagem pediu um posicionamento para o Ministério, mas não teve retorno.
O Grupo Conceição também não respondeu aos contatos feitos.

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