11 de outubro de 2024

Dos 21 vereadores eleitos em Rio Branco, apenas um é de esquerda; veja mudanças na Câmara desde 2004

André Kamai, do PT, é sociólogo e foi o único candidato de partidos declarados de esquerda que venceu as Eleições 2024 e que fará oposição ao prefeito Tião Bocalom, do PP. A partir de 2025, composição da Câmara Municipal será 80% de centro-direita e direita. Vereadores eleitos em Rio Branco nas Eleições de 2024
Reprodução/TSE
Com a reeleição do prefeito Tião Bocalom (PP) e a definição dos 21 vereadores eleitos para o quadriênio 2025-2028 em Rio Branco, a Câmara Municipal terá apenas um representante declarado do lado opositor à gestão Executiva. Este é o sociólogo André Kamai, do Partido dos Trabalhadores (PT), eleito com 2.240 votos.
Esta é a primeira vez, desde 2021, que partidos declarados de esquerda voltam ao parlamento mirim. O PT, por exemplo, se fazia presente desde 2005, e ficou de fora na atual composição da Câmara Municipal. (Veja a linha do tempo mais abaixo)
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O PT, juntamente com outros partidos de esquerda, como o PCdoB, e centro-esquerda, que é o caso do PSB e PDT, já chegaram a ser a maior base do parlamento mirim em conjunto com partidos coligados.
Para entender o contexto político que Rio Branco está submetido desde o início dos anos 2000, bem como suas mudanças desde então, é preciso visualizar as coligações que fortalecem a base do governo. Vale destacar que é na Câmara Municipal onde eles vão debater os projetos de leis que podem influenciar diretamente as nossas vidas.
O g1 preparou uma linha do tempo de como era composta a Câmara de Rio Branco nos últimos 20 anos, a partir de 2004, a partir da vitória de Raimundo Angelim (PT) à prefeitura.
Câmara de Vereadores de Rio Branco
Arquivo/Câmara de Vereadores de Rio Branco
📍 Eleições de 2004
Em 2004, considerando os partidos da Frente Popular na época (PT, PCdoB e PMN), que formavam a base do governo, foram:
três cadeiras da Câmara Municipal para o PCdoB;
uma para o PT; e
uma para o PMN.
Além disto, a centro-esquerda conseguiu duas cadeiras com o PSB. No entanto, neste contexto de coligação, a sigla não fazia parte da Frente Popular.
Na época, a Câmara Municipal tinha 14 vereadores e a representação da esquerda (PT e PCdoB) era de 28%. Já a coligação com o um todo equivalia a 35%.
📍 Eleições de 2008
Em 2008, com a reeleição de Angelim (PT), a coligação da Frente Popular saltou de três para 15 partidos, sendo estes o PT, PCdoB, PRB, PP, PDT, PTB, PSL, PTN, PR, PSDC, PRTB, PTC, PV, PRP e PTdoB.
Para os partidos essencialmente de esquerda, PT e PCdoB, foram duas cadeiras para o PT e uma para o PCdoB, com representação de 21% da esquerda do total de 14 cadeiras legislativas. O PSB, que não era da coligação, mas é considerado centro-esquerda, foram duas.
Do restante da base, foram:
PTC: 1 cadeira;
PRP: 2 cadeiras;
PP: 2 cadeiras, sendo uma de Alysson Bestene, vice-prefeito eleito em 2024
Dos partidos de base do governo, com exceção do PSB, o percentual de representatividade da Frente Popular na Câmara Municipal era de 57%.
📍 Eleições de 2012
Em 2012, quando Marcus Alexandre, na época filiado ao PT, venceu as eleições, foram três cadeiras para o PT e uma para o PCdoB, totalizando quatro parlamentares de partidos declarados de esquerda e 23% de representação. A partir deste pleito, o total de vereadores passou para 17.
Com relação aos partidos coligados à base do governo na época, que baixou de 15 para nove (PRB, PT, PTN, PR, PSDC, PSB, PV, PPL e PCdoB), foram conquistadas:
PSDC: 2 cadeiras;
PRB: 1 cadeira;
O PSB, considerado centro-esquerda, entrou na Frente Popular, base do governo, durante o pleito de 2012 e conseguiu eleger três representantes. Uma das vagas pertencia a Antônio Morais que venceu em 2016 pelo PT, em 2020 pelo PSB e, atualmente, é filiado à base de Bocalom, do PL, onde conseguiu se reeleger pela quarta vez consecutiva.
Vereador Antônio Morais é reeleito pela quarta vez consecutiva em 2004, mas agora filiado ao PL
Divulgação/Assessoria de Comunicação da Câmara de Vereadores de Rio Branco
Em termos percentuais, a Frente Popular como um todo detinha 58% de representação na Câmara Municipal.
📍 Eleições de 2016
Em 2016, o número de vereadores do PT aumentou: foram 4, além de uma do PCdoB, totalizando cinco parlamentares de esquerda e 29% de representação. Nesta época, uma das cadeiras do PT era de Antônio Morais.
Da base do governo, ainda denominado Frente Popular, o quantitativo voltou a ser 15 partidos (PT, PCdoB, Psol, PDT, PHS, PMB, PRB, PROS, PRP, PSB, PSDC, PSL, PTB, PT do B e PTN). Veja como era as demais distribuições das cadeiras na Câmara:
PTN: 1 cadeira
PRB: 1 cadeira
PSL: 2 cadeiras, sendo uma de Emerson Jarude, que disputou as Eleições 2024 para prefeito pelo partido Novo
PHS: 1 cadeira, ocupada por Raimundo Neném, reeleito em 2020 e 2024
De centro-esquerda, foi uma do PDT e outra do PSB, sendo esta última de Elzinha Mendonça, que se manteve no partido após assumir o cargo em 2022, e atualmente é filiada ao PP, partido do vice eleito Alysson Bestene.
Vereadora Elzinha Mendonça é reeleita pelo PP; antes, era filiada ao PSB
Reprodução
Em termos percentuais, a Frente Popular detinha 70% de representação na Câmara Municipal.
📍 Eleições de 2020
Já em 2020, nem o PT e nem o PCdoB conseguiram eleger parlamentar pela primeira vez. A base inicial do governo de Tião Bocalom, na época do PP, tinha a coligação ‘Produzir para Empregar’ com o PP e o PSD. Somente da base, foram:
PP: 3 cadeiras
PSD: 1 cadeira
A centro-esquerda ficou com três do PSB, sendo uma de Elzinha, outra de Antônio Morais, que na época mudou novamente para o PSB, e outra de Raimundo Neném, que atualmente venceu as eleições pelo PL em 2024; e três do PDT, sendo dois deles de Joaquim Florêncio e Fábio Araújo, reeleitos em 2024 pelo PL e MDB, respectivamente.
Raimundo Neném era do PSB e se filiou ao PL em março deste ano; Joaquim Florêncio era do PDT e se filiou ao PL em abril deste ano; e Fábio Araújo era do PDT e saiu para o MDB também em abril
Arquivo/Câmara de Vereadores e Arquivo pessoal
Inclusive, o MDB, que não é denominado partido de esquerda, fez oposição à gestão de Bocalom com Emerson Jarude, que depois foi eleito deputado estadual. João Marcos Luz, que entrou na vaga de Jarude na Câmara Municipal pelo MDB, se filiou ao PL em novembro de 2023 e tornou-se líder do governo. Ele não conseguiu reeleição.
📍 Eleições de 2024
Em 2024, somente André Kamai é de partido de esquerda, o PT. Já Éber Machado, Neném Almeida e Fábio Araújo, todos eles do MDB, além de Zé Lopes (Republicanos), fazem parte da coligação ‘Bora Rio Branco’, de Marcus Alexandre (MDB), principal opositor de Bocalom nas Eleições 2024. No entanto, nenhum dos três se posicionou ainda sobre se irão fazer oposição ou não.
A atual base do governo, com 80% de representatividade da centro-direita e direita, é constituída por:
PP, partido do vice Alysson Bestene, com 6 cadeiras, que dobrou a quantidade com relação a 2020;
PL, partido do prefeito reeleito Tião Bocalom, com 3 cadeiras;
União – com 3 cadeiras;
PSDB – com 2 cadeiras;
Pode – com 1 cadeira;
Solidariedade – com 1 cadeira;
Republicanos – com 1 cadeira.
A coligação ‘Produzir para Empregar’, do prefeito reeleito, e agora base do governo, conta com 16 dos 21 vereadores eleitos dos partidos PP, PL, União, Podemos, PSDB, Cidadania e Solidariedade, todos estes declarados de centro-direita e direita.
André Kamai (PT) foi o único vereador de esquerda eleito para a Câmara de Rio Branco em 2024
Reprodução/Redes sociais
‘Ressaca do PT’
O g1 conversou com o cientista político Israel Souza sobre a construção deste novo cenário. Segundo o professor, as polêmicas em torno da imagem do PT acabaram enfraquecendo a estrutura partidária no Acre e mais especificamente na capital, bem como o surgimento do bolsonarismo, que ele destaca como força inimiga do petismo e que utiliza a religião e as redes sociais para ocupar estes espaços de poder.
“Ainda vivemos, nas mais diversas cidades acreanas, uma espécie de ressaca do PT. Foram muitos anos com o PT no governo municipal e estadual. Durante esse tempo, o partido cometeu muitos erros, abusou do poder e enfraqueceu – para melhor implantar seus projetos – os movimentos social e sindicais, que eram sua base. Sem essa base, o governo acabou por se afastar do povão e foi fazendo alianças as mais absurdas. Perdeu força e identidade ao longo do caminho”, complementou.
Questionado sobre como a esquerda, agora de volta à Câmara de Vereadores, pode ou não modificar a dinâmica no parlamento mirim a partir de 2025, o cientista pontuou sobre a necessidade de reinvenção e fortalecimento da base social.
“Sem aprender a lidar com as redes sociais (fenômeno demasiado importante nesses novos tempos) e sem uma base social (movimentos sociais e sindicais) forte e organizada, o PT não pode recuperar a força que teve. Sem isso, o parlamentar petista pode ser muito competente, pode fazer denúncias e propor inúmeros projetos, mas ficará isolado, sem projeção. O atual cenário, assim, impõe alguns desafios ao PT. Entre eles: reinventar-se, resgatando e atualizando sua identidade e estratégias de atuação e luta; retomar sua relação com as forças sociais, educando-as e fortalecendo-as – coisa que não quis fazer enquanto era governo”, frisou.
Composição da Câmara
O Progressistas (PP) foi o partido que mais elegeu vereadores, com seis. Em seguida, figuram PL, MDB e União, com 3 vereadores cada. O empresário Bruno Moraes (PP) foi o vereador mais votado na capital acreana, Rio Branco. Ele teve 5.898 mil votos, 194 a mais que o segundo colocado, Samir Bestene (PP), que teve 5.704 votos.
Em comparação com as Eleições de 2020, sete candidatos foram reeleitos e 14 novos foram eleitos, o que representa uma renovação de 66%. Este ano, foram eleitas duas mulheres, mantendo a mesma quantidade do último pleito.
Confira a lista de vereadores eleitos em Rio Branco:
1. Bruno Moraes (PP) – 5.898 votos
2. Samir Bestene (PP) – 5.704 votos (reeleito)
3. Aiache (PP) – 5.497 votos
4. Felipe Tchê (PP) – 4.979 votos
5. Elzinha Mendonça (PP) – 4.755 votos (reeleito)
6. Raimundo Neném (PL) – 4.141 votos (reeleito)
7. Joabe Lira (União) – 4.080 votos
8. Joaquim Florêncio (PL) – 4.022 votos (reeleito)
9. Lucilene da Droga Vale (PP) – 4.007 votos
10. Neném Almeida (MDB) – 3.827 votos
11. Antônio Morais (PL) – 3.482 votos (reeleito)
12. Marcio Mustafá (PSDB) – 3.333 votos
13. Eber Machado (MDB) – 2.991 votos
14. Matheus Paiva (União) – 2.982 votos
15. Rutênio Sá (União) – 2.775 votos (reeleito)
16. Leôncio Castro (PSDB) – 2.607 votos
17. João Paulo Silva (Pode) – 2.298 votos
18. Moacir Júnior (Solidariedade) – 2.258 votos
19. André Kamai (PT) – 2.240 votos
20. Zé Lopes (Republicanos) – 2.153 votos
21. Fábio Araújo (MDB) – 2.106 votos (reeleito)
Confira a composição da Câmara Municipal a partir de 2025:
PP – 6
PL – 3
MDB – 3
União – 3
PSDB – 2
Pode – 1
Solidariedade – 1
PT – 1
Republicanos – 1
VÍDEOS: g1

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