10 de outubro de 2024

Seca provoca morte de vitórias-régias de cenário paradisíaco do Canal do Jari, em Santarém; VÍDEO

O Canal do Jari é um dos passeios mais procurados por visitantes de Alter do Chão, mas está fechado desde o dia 10 de setembro devido à seca dos rios. Vitórias-régias no Canal do Jari: de cenário paradisíaco à paisagem desértica
Reprodução / Redes sociais
A morte de vitórias-régias no Canal do Jari, em Santarém, oeste do Pará, transformou um dos cenários paradisíacos mais procurados por visitantes, seja para registros fotográficos ou simplesmente para contemplação da natureza. O verde das plantas deu lugar ao marrom das folhas secas e da terra rachada devido às altas temperaturas e a escassez da água do lago Jari, que é uma enseada do Rio Tapajós.
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Em vídeo compartilhado pela Chef de Cozinha Dulce Oliveira, moradora do Canal do Jari, a imagem do jardim de vitórias-régias completamente sem vida é desoladora, como ela mesma narra. (veja o vídeo abaixo)
Chef de cozinha Dulce Oliveira mostra vitórias-régias mortas no Canal do Jari
O Canal Jari que é bastante frequentado por quem visita a cidade de Santarém e a vila balneária de Alter do Chão, por fazer parte de pacotes de passeios vendidos por empresas e guias turísticos, este ano teve o movimento cessado por causa da seca. As embarcações, mesmo lanchas de pequeno porque e bajaras deixaram de navegar para o local desde o dia 10 de setembro porque o canal secou.
Para a Chef Dulce Oliveira, a situação é ainda mais complicada, porque principal matéria-prima não existe mais em frente à propriedade onde ela mora e tem um restaurante/deck onde atende os turistas com receitas criadas por ela, como a famosa pipoca de sementes de vitória-régia, quiches, pastéis, tira-gostos, entre outras. Tudo feito com folhas, caules, flores e sementes da planta.
Com as flores da vitória-régia, por exemplo, Dulce produz geleias. Já com as sementes, além da pipoca, ela adiciona a um brownie que tem sabor de chocolate.
Dulce Oliveira cultiva vitórias-régias no Canal do Jari e cria receitas à base de partes da planta
Reprodução / Instagram
Na verdade, a flor mesmo não é tão gigante. Tem o formato de uma flor de Lótus, com pétalas que nascem brancas, morrem cor de rosa e duram poucos dias. Nascem uma única vez na ponta da folha da vitória-régia, essa sim, um monumento aquático.
A vitória-régia é uma planta exclusivamente aquática, de folhas flutuantes e circulares que podem atingir 2,5 metros de diâmetro quando adultas. Elas possuem canais de escoamento e duas fendas laterais, encaminhando a água das chuvas para o lago. Tem formato semelhante ao de uma bandeja, com rebordos de 10cm, com estrutura tecida em hastes que se entrelaçam, dando resistência à planta. Dependendo do tamanho, elas chegam a suportar até 50kg de peso.
Seca extrema
O nível do Rio Tapajós em Santarém nesta quinta-feira (10) é de apenas 19cm, 45cm mais baixo que na mesma data de 2023, e apenas 7cm acima do recorde histórico de seca, registrado em 9 de novembro do ano passado, quando o Tapajós chegou a marca de 12cm. Normalmente, o rio baixa até o fim do mês de novembro, quando as chuvas começam a cair, principalmente nas cabeceiras dos rios Tapajós e Amazonas.
O cenário é ainda mais preocupante se comparado com anos anteriores: o rio está 3,39m abaixo de 2015 e 1,15m abaixo de 2010, ambos anos de seca considerada severa na região. A cota de alerta, de 2,10m, foi ultrapassada há mais de um mês.
Devido o desaparecimento de lagos e do baixo volume de água em braços de rios (canais) na região ribeirinha, muitas comunidades estão ficando isoladas e têm dificuldade para conseguir água potável e alimentos.
Equipes do Projeto Saúde e Alegria, Brigada de Alter e Iturri levando filtros para comunidades da Vázea do Rio Amazonas
Ascom PSA
Para amenizar a situação de comunidades às margens dos rios Amazonas e Tapajós, o Projeto Saúde e Alegria têm realizado doação de filtros para purificação da água. Na primeira semana de outubro, a ONG beneficiou quatro comunidades da várzea do rio Amazonas, em uma soma de esforços com a Brigada de Alter e Fundação Iturri.
Quarenta famílias das localidades do Jari do Socorro, Alto Jari, Pau Mulato e Imumum receberam filtros de nanotecnologia, que acoplados a baldes, transformam a água barrenta em potável.
“Temos como meta a distribuição de 5 mil filtros até o final deste e início do próximo ano, quando eles seguem sendo fundamentais com a chegada das chuvas e a subida das águas com os dejetos que estavam em terra. É a época dos surtos de diarreias, acometendo sobretudo as crianças”, explicou Carlos Dombrosky, técnico de organização comunitária do PSA.
Caetano Scannavino mostra a mudança na coloração da água com o uso do filtro de nanotecnologia doado para comunidades
Ascom PSA
Para quem mora na região ribeirinha, a preocupação aumenta a cada devido ao nível crítico dos rios. “A gente tem a expectativa que esse ano ela seja a maior seca de todos os tempos. A Enseada do Amorim, Cabeceira, Pajurá, Limãotuba, todas essas comunidades já estão isoladas aqui. A principal entrada dos barcos agora não entra nem canoa. Uma pessoa quando adoece e precisa ser removida, por água é muito difícil. Ela pode vir ao óbito na viagem. E vai piorar, com o rio que seguirá baixando. Ainda tem outubro e novembro, que costuma ser vazante”, relatou o agente de saúde da comunidade de Parauá, Natal Caetano.
Coordenador do Projeto Saúde e Alegria, Caetano Scannavino alerta que diante da gravidade da seca na região Norte do país, deveria mobilização semelhante a que ocorreu no período das enchentes no Sul.
Seca transforma paisagem na comunidade Parauá, região ribeirinha de Santarém
Ascom PSA
“O que acontecia de 50 em 50 anos agora parece ser o novo normal. O Tapajós agora está mais de 1 metro abaixo do que estava no mesmo dia ano passado, quando tivemos a pior seca da história. É recorde sobre recorde. Triste ver que os que menos contribuíram para essa situação são os que mais sofrem. Não é fácil explicar para sociedade brasileira que o ribeirinho passa por estresse hídrico na maior bacia de água doce do mundo. Mas é a realidade, a sede na Amazônia. O país parou com as enchentes no Sul, seria importante a mesma atenção e mobilização pelo Norte”, lamentou.
*Com informações do PSA

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